O café da manhã

Bom dia!

Esta semana eu lá estava travando uma conversa com a Môça sobre uma coisa trivial. Domingo, dia das mães, ela resolveu arrumar um café da manhã para as nossas mães, ideia que eu concordei de cara. Coisa simples, mas que não é costume do povo por aqui nos recantos da periferia fazer. Povão prefere churrasco e cerveja, coisa que eu também concordo muito, claro. Môça prefere outra função para o evento.

Ela estava justificando para mim sua ideia: Fazer a família se juntar sem ser naquelas correrias esbaforidas de som alto e falação, pôr as crianças à mesa com seus pais e avós, juntar as famílias, que por sorte se dão bem a beça. Enfim, fazer um papel que nossos pais não tiveram oportunidade de fazer pois seus pais, nossos avós já não tiveram lá oportunidades.

Somos oriundos de familias pobres, que trabalharam demais pra ter alguma condição econômica para criar seus filhos. Uma geração que teve menos filhos por cautela, e que dividiu a pobreza com vários irmãos trabalhando muito e estudando pouco e que não podia se dar a luxos triviais para nós, que usufruímos um crescimento absurdo e generalizdo na riqueza do mundo em que vivemos.

De certa forma a ideia também é sempre apresentar ao nosso Menino a necessidade de se juntar com a família, de sentar à mesa, de ter esse convívio com as pessoas que o amam, e cuidam dele junto de nós aqui. Nada de perfeição, comercial de margarina, é só tornar naturais os comportamentos que achamos “bons”. Estes costumes, esta cultura familiar é integralmente ENSINADA… estes hábitos são CONSTRUÍDOS.

E eu estava falando pra Môça que estes pequenos hábitos que a gente vai lentamente construindo são complicados. Mundo de hoje está tornando as pessoas, crianças e adultos, gente sem afeto e cínicas, despreocupadas de sua relação com a vida. E que esta cultura que a gente tenta fazer nosso Menino entender, a cultura da vida em família, é um troço violentamente atacado o tempo todo, por todos os lados.

Costumes criados em comum são o que solidifica os laços familiares. Pessoas criadas em famílias frouxas, permissivas tendem a desprezar a importância destes elos que nos unem de forma voluntária – ninguém é obrigado a conviver com parentes, nem pai e mãe, friso – invariavelmente irão ver o mundo como algo onde suas relações são opcionais. Se ajuntam e separam várias vezes, abortam sem remorso, têm filhos e não cuidam, ou tratam como se fossem estranhos ou os abandonam para “não atrapalhar a vida”.

“Ah, mas você está criticando…” SIM, estou. Pois não quero relativizar. Não gosto nem concordo com esse negócio de “dia da família” para que a criança que nunca viu o pai não se sinta constrangida. Isso é FALSO. Essas loucuras servem para esconder as escolhas ruins de seus pais, que SIM, fazem estas crianças sofrer e muito. Quando eu naturalizo que uma menina tenha nascido de um OVO, sem mãe presente ou que saiba que seu pai tem mais trocentos filhos em N casas, eu não estou fazendo essa criança sofrer menos, eu estou apenas passando pano para a lambança que seus pais fizeram lá atrás.

Crianças precisam de exemplos. Aprendem pelo exemplo e seguem estes exemplos fielmente e por toda a vida. Você mesmo, que está lendo esta frase, faça um autoexame mental: Tente achar em seus costumes aquilo que seus pais, suas famílias, lhes imprimiram. Seu sotaque, o açúcar no café, torcer pelo Botafogo, preferir azul com alguma roupa clara, ouvir música sertaneja, gostar de praia, ler romances. Algum de seus pais e familiares lhes deu estas referências.

“Ah, mas em famílias boas isso também acontece”… ERRADO. Não tem familia “boa” e “ruim”. Temos sim famílias com PESSOAS boas e ruins. Pessoas que querem o bem, crescer, prosperar, ajudar os seus e temos também pessoas que são egoístas, mal-intencionadas, falsárias, sociopatas. A questão é: Não posso dar conta da casa do vizinho, eu cuido da minha casa. Se na casa do vizinho a vida é maravilhosa, parabéns a ele, quero fazer igual e melhor. Eu tento fazer o certo aqui.

Eu fico meio pucto com aquele pessoal que fala em cruzadas sagradas pela cultura, fazendo aqueles textões enormes sobre “cultura do homem”, “educação da mulher conservadora”, etc. Cultura não tem manual. Ensinar seu filho a se sentar à mesa para as refeições, a agradecer pelo que lhe é dado, a ser respeitoso com quem lhe faz um agrado são coisas que efetivamente criam uma “nova” cultura. Não me ensinaram isso em casa, nunca havia tempo pra isso, ou mesmo real entendimento do valor dos pequenos hábitos… mas eu quero ensinar isso ao meu Menino.

Não há caminho. OU ensinamos mesmo sabendo que o mundo ao redor está degringolando, pois entendemos que a educação de casa é a única base moral permanente que temos (por isso é tão severamente atacada) e que levamos pela vida, OU deixamos a vida nos levar e culpamos o Universo, as estrelas, Deus, o Pato Donald e os videogames pelas misérias do nosso futuro. E não é discurso moralista, é a realidade. Se você não educar, ALGUÉM irá.

Bom dia!