A Guerra Cultural

Publicado originalmente no Medium de Leandro Ruschel.

Imagem de capa: Memorial das vítimas do comunismo em Praga.

Vejo que muita gente já identificou instintivamente que há uma guerra cultural em curso, não apenas no Brasil, mas no mundo. É muito difícil se engajar nessa guerra sem entendê-la. No Brasil, finalmente temos nas eleições uma disputa ideológica.

Desde a redemocratização, temos a hegemonia da esquerda no poder. O que tivemos então foi uma série de pseudo-disputas eleitorais, entre a esquerda radical e a esquerda moderada, representadas por PT e PSDB respectivamente, os dois partidos amparados por PMDB e Centrão.

As eleições de 2018 são marcadas pela volta da Direita à disputa, representada por Jair Bolsonaro. Não é um mero sentimento anti-petista, como muitos analistas definem. Tanto é que o o PSDB e o PMDB foram os partidos que mais perderam poder.

O que temos é uma contra-revolução conservadora, depois de anos do crescimento tumoral de um estado parasitário e da destruição dos valores que mantém a civilização. Podemos definir a Direita como o movimento de conservação dos valores construídos ao longo dos milênios.

A Direita está ancorada na tradição religiosa judaico-cristã e na filosofia grega, passando por toda a evolução intelectual e política europeia dos últimos milênios, além da revolução capitalista que tirou o mundo da miséria a partir do século XVIII.

Desde a Revolução Francesa, temos o nascimento da Esquerda como uma força destrutiva, baseada na própria negação da condição humana. São dois pilares da Esquerda: por um lado o ressentimento e a inveja, do outro a arrogância intelectual.

É muito fácil entender o primeiro pilar: somos seres frágeis e destinados ao sofrimento, talvez o preço a pagar pelo livre-arbítrio. Precisamos achar um culpado pelo nosso sofrimento, seja uma classe ou uma raça, ou a própria estrutura hierárquica da sociedade.

O segundo pilar é produzido pela tendência natural à concentração de poder pelos mais inteligentes. Faz muito sentido atribuir a si mesmo a capacidade de consertar o mundo. De criar uma sociedade mais justa e equilibrada, acabando com o sofrimento.

É uma constante de todo o movimento revolucionário de Esquerda a busca pela construção do “Novo Homem”, termos utilizado exaustivamente tanto por comunistas quanto por nazistas. Para criar o “Novo”, o “Velho” precisa perecer.

Está aí a justificativa para as maiores atrocidades já cometidas na história humana. Foram mais de 100 milhões de mortos no sec. XX . Isso explica a usual associação da Esquerda com o crime, considerado instrumento contra o sistema que precisa ser destruído.

Depois do completo fracasso da “Revolução do Proletariado”, a Esquerda teve que se reinventar. A Escola de Frankfurt e o pensamento de Antonio Gramsci produzem a nova estratégia: dominar a sociedade desde dentro, atacando a família e outras instituições.

Enquanto o Ocidente comemorava o “fim da história” e a vitória sobre o comunismo, a destruição das suas bases já estava em pleno vapor nos meios acadêmicos e culturais,na forma de ateísmo militante, política de identidade, libertação sexual total e Estado de bem-estar social.

Na riqueza exponencial gerada por um mercado relativamente livre e um ambiente de Estado de Direito voltou a ser fortalecida a velha arrogância intelectual de “resolver” todos os problemas do mundo. O “patriarcado branco e ocidental” passou a ser o grande inimigo.

Mulheres oprimidas por homens, brancos por negros, gays e trans por héteros, pobres por ricos, imigrantes por nativos, criminosos por seguidores da lei. A mais tolerante e inclusiva organização social já vista na face da Terra é acusada de tudo de ruim.

Nessa luta insana para definir quem é o mais oprimido ou quem representa melhor a luta pela “reparação” justa é que temos a luta pelo poder no séc. XXI, baseada em chavões e assassinato de reputações num piscar de olhos, sob a ditadura do politicamente correto.

Não importa que algumas culturas consideradas “oprimidas” sejam as mais opressoras, como a islâmica. Ou que o socialismo implementado na Venezuela esteja matando milhares de fome. O que importa são as boas intenções dos nossos “iluminados” acadêmicos.

Os justiceiros sociais querem concentrar poder para criar o “Novo Homem”, dessa vez sem tiros, câmaras de gás e Gulags. Querem eliminar a religião, a tradição, a família e a liberdade individual de forma lenta, gradual e “científica”.

O plano funcionava muito bem até o surgimento e popularização da internet, que retirou a narrativa midiática dos justiceiros sociais. As pessoas passaram a ter uma voz para expressar as suas ideais e defender os seus valores.

Esse novo meio foi responsável pelo levante contra o totalitarismo da União Europeia, pela forte resposta contra a implementação obamista do socialismo na América e pelo fenômeno Bolsonaro no Brasil, país devastado por três décadas de hegemonia esquerdista.

A recuperação das soberanias nacionais e a reafirmação dos valores conservadores é o projeto da Direita. A guerra se desenvolve principalmente no âmbito cultural, não no econômico. É por isso que movimentos como o Partido Novo tem menos apelo.

A reação da Esquerda é buscar a censura nas redes sociais e a deslegitimação da Direita, com ajuda da extrema-imprensa e do establishment, quase que completamente dominados pela Esquerda. A retórica tem ficado cada vez mais violenta.

Na Europa e nos EUA há forte movimentação no sentido de acabar com a liberdade de expressão em nome da “tolerância”. As grandes empresas de internet, que hoje controlam o trânsito de informações, já estão tomando medidas para censurar a Direita. Aí está a principal batalha.

Poucas pessoas percebem o grau de ameaça. A tecnologia que permite a minha expressão é a mesma que controla cada passo meu. Justiceiros sociais com fome de poder para “resolver o mundo” podem criar a mais perfeita ditadura que já existiu.

“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus.” Nunca houve na história humana maiores condições para a concentração de poder. É contra isso que lutamos.