Por fim, a Páscoa!

Bom dia! Feliz Páscoa a todos que realmente acreditam no Milagre da Ressurreição!

Falo assim porque todo ano, nesta época pipocam ateus e neocristãos de diversos matizes alugando nossos espíritos cansados com aquela cantilena sobre ser a Páscoa uma data pagã, ou ela ser coisa material ou mesmo não ter acontecido nada daquilo que foi relatado na Bíblia, sendo tudo uma grande invenção feita por pessoas psicóticas fanáticas sofrendo de estresse pós-traumático.

Daí que não tem problema, quem não crê que viva sua vida sem nos encher o saco e sem exigir bosta alguma – como por exemplo aqueles e-mails sebosos de empresas perguntando se fazer spam de dia das mães é “assunto sensível para mim”, e tal – enquanto a gente em graus diversos vai seguindo nossas crenças e tendo as nossas certezas. Não sou lá muito exemplar como cristão mas tenho minhas certezas nisso, claro.

Então, só dou aquela pincelada no caso da Páscoa, que é bastante comum e simples de mencionar. A páscoa (em hebraico é pessach, “passagem”, mudança”) já era celebrada pelo povo judeu. E no hemisfério norte, notemos, a época da celebração coincide com o fim da primavera e começo do verão, época de colheita e fartura – não a toa as noivas se casam em maio – e esse “sincretismo”, para usar um termo horroroso atual – faz parte das culturas pagãs e cristãs do oriente, e viraram um aspecto cultural no Ocidente moderno.

A ideia de coelho da páscoa é mais recente e tem exatamente relação com a cultura judaica e com a ortodoxia cristã. O coelho é tradicionalmente um símbolo de fertilidade e fartura, prosperidade familiar. Natural que o bicho fosse associado em inúmeras formas ao evento santo. Iconografia secular, gente comum fazendo isso, nada de igreja pondo coelos na ceia, isso não existe. É coisa do povo, que foi assimilando gradualmente os complexos conceitos cristãos às suas realidades.

Porque o povo faz isso mesmo – assume um traço cultural e vai o modelando e ajustando… como no caso do Papai Noel, outro exemplo: é vermelho? Pois digo: nas culturas orientais cristãs e pagãs – a região dos atuais países nórdicos resistiu muito ao cristianismo, friso – a cor vermelha representa a vida, a saúde. Jesus frequentemente é retratado com um manto vermelho, mas nem sempre associado à Igreja (sim, iconografia da Igreja costumava associar imagens de Jesus às dos Papas) mas sim, à um sinal cultural de povos específicos.

Papai Noel, o São Nicolau que dava pão e vinho aos miseráveis, representa exatamente a esperança de vida no inverno terrível do Norte. A Morte é branca, a vida é Vermelha. São símbolos que remetem à noção de caridade e de fé na redenção, na resistência ao Mal, e a fé na ressurreição da terra, já que Deus não desampara jamais. Parece complexo mas não é nada diferente de muitas outras representações que conhecemos.

Por fim, para não me alongar demais, friso: são símbolos de outro tempo, outros povos, outra cultura. Devemos sempre evitar o anacronismo, olhar o passado com o olhar de hoje. Nem tudo é bem entendido hoje e nem tudo é objeto da maldade e do descaminho. O pastor ue fala bobagens na Folha de SP lê a bíblia como se assistisse um combo de vídeos de tiquetoque. Vê, reconhece mas não evolui aquilo para um entendimento real.

Muito do que entendemos por “cultura cristã” foi resultado de inúmeros e complexos debates, nada é somente fruto do acaso ou da vontade de um ou outro Papas mais afoitos. O que o cristão entende como Mistério, é exatamente isso: O que foge à razão, ao material, ao tangível. O mesmo homem que crê na Ressurreição por a conceber algo profundamente misterioso, inalcançável é o mesmo homem que crê no Átomo, na infinitude do Universo, na absurda e maravilhosa complexidade de algo não casual como a humanidade.

É a mesma coisa, Deus apenas foi nos preparando para nosso futuro.

Feliz Páscoa para todos! Deem seus chocolates, façam suas celebrações, expliquem o Inexplicável para as Crianças, vão passear, ser felizes neste mundo que todo dia nos desgasta, nos sobrecarrega… pois Cristo Vive e está conosco! Bom dia!