Bom dia,
Estou lendo um livro que fala sobre nutricionismo ou reducionismo nutricional.
Quando a ciência focou no estudo do nutriente e não no estudo do alimento como um todo, isso abriu portas para toda a indústria alimentícia, farmacêutica e suplementos oferecendo seus industrializados enriquecidos com vitaminas e minerais. O marketing vendeu a ideia de que é mais prático abrir um pacote do que descascar uma banana.
Hoje temos a indústria sentada em várias cadeiras importantes atrapalhando o avanço de pesquisas sobre alimentos e não mais focando em nutrientes, além de lobbies nos governos. Na educação, a formação de nutricionista foca em nutriente e não no alimento. Nutricionistas que não sabem cozinhar, muitas vezes. Em congressos da área, a estrela não é o alimento e sim os novos produtos da indústria, que patrocina esses eventos.
Com uma artilharia pesada dessas por décadas sufocando qualquer reação, somente agora na última década, gente de peso está conseguindo falar sobre toda essa cadeia de influência e muita grana. Isso moldou a realidade que conhecemos hoje, atrapalha o avanço das pesquisas, a criação de políticas públicas de saúde.
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Bem, eu já tratei desse aspecto várias vezes no blogue. Existe um fenômeno associado a isso aí. Quando a química entrou de vez no mundo dos alimentos a coisa deu um salto exponencial. Pensemos que a química nos anos 1930-40 era como a microtecnologia nos anos 1970 e a tecnologia de informação nos anos 2000. Era algo alienígena. Quase todos os medicamentos atuais nasceram entre 1940 e 1970. A indústria como conhecemos hoje depende intensamente da química fina do pós-guerra. Imagine o mundo atual sem a química de plásticos, medicamentos, e alimentos?
SIM, alimentos são algo hoje extremamente “artificial”. Boa parte do que comemos e bebemos tem manipulação a nível molecular para melhorar seus arranjos estruturais, suas características, sua vida útil e o custo de produção. E isso, claro, dá muita grana. Novos alimentos são lançados quase diariamente mundo a fora, fazendo aquela festinha dos nutricionistas, a moçada que gosta das comidas merrmo, o povo da dieta e aquele pessoal do mundo fitness-que-toma-shakes-de-farelo-de-soja-e-solta-gases-a-rodo.
Tipo na zueira dos desenhos dos anos 1960 – esse aqui tem meme incorporado-com essa inovação tecnológica absurda…
Reparou quem nos desenhos animados dos anos 1940-1950 e 1960 a fome era um tema comum para várias esquetes? Pois é, era comum o pessoal mais pobre simpelsmente passar fome, mesmo, pela falta de alimento e pelo custo elevado deles. Alimento era caro porque o custo de produção era baixo mas o rendimento era baixo, também. A terra produzia pouco, os animais produziam pouco, havia muitas perdas, era impossível guardar vários tipos de alimentos, fora o risco de contaminação, intoxicações. Comida era cara e limitada.
Veja uma foto de pessoas na praia de bobeira, Copacabana no finzinho dos anos 1950.
Pessoal é mais magrinho por ter em regra menor acesso a alimentos. Não é fome, apenas havia menos alimento disponível e a custo baixo. Comer era CARO.
A química de alimentos barateou processos, criou novos alimentos inimagináveis como a GVH (ok, gordura hidrogenada mata etc…), a massa básica de farinha de soja, os conservantes e flavorizantes de longa duração, os aperfeiçoamentos dos glutamatos… pensa no nescafè, por exemplo? todo o rol de alimentos supercongelados e em conservas, embutidos que duram meses sem te matar de salmonela, etc… Isso abriu uma porta imensa para o consumo de proteínas. A comida barateou muito, mesmo com aquela sensação de que “o mercado tá caro”, nunca tivemos tanto alimento à disposição.
E sério mesmo, o que é um NUTRÓLOGO?
Bom dia!