Pega a Bandeira!

Bom dia.

Terça temos um grande evento, talvez o último nestes moldes. Todos de nosso pequeno grupo sabem bem as minhas opiniões sobre ir ou não ir a manifestações, apoiar ou não apoiar o biroliro ou mesmo ser isentão ou não. Ser de esquerda e compartilhar este espaço, friso, está completamente fora de cogitação, para quem de repente não se ligou nisso ainda. E infelizmente, pois nunca foi intenção segregar ou fechar este grupo, como gueto de iniciados. Mas a realidade nos impõe certos cuidados.

Eu era moleque e acompanhava a modorrenta transmissão do Sete de Setembro. Calorão em casa, e eu e meu irmão ficavamos vendo aquela exibição, anos 1980, bem preguiçosa, dos desfiles. Legal era quando passava no Hell de Janeiro, e a gente reconhecia o centro da cidade, coisa tosca. Mas coisa de criança, era engraçado. A gente asistia porque achava legal, especial. Exército, os tanques, uniformes, as armas… Era raro ver essas coisas.

Quando o pessoal foi pra rua naqueles reides contra o Collor, o Demolidor, NINGUÉM usava sequer roupas verdes e amarelas. Geral de preto, ou branco. Era recomendação dos políticos que bancavam o frete dos ônibus que levavam a molecada para as manifestações. Ah, a gente ia porque era passeio, mas no geral, era esquisito. Povo odiava a bendita camisa amarela. Lazzaroni ajudou, mas poxa… Nessa época a coisa da cor/bandeira estava já estigmatizada. A propria bandeira nacional estava sendo discriminada. Povo se lixando, arrastão na praia, favela bombando, pobreza absurda… quem liga pra bandeira?

Quando a BNN foi humilhada vergonhosamente na fincal da copa de 1998 o pessoal ficou meio refratário, ninguém usava camisa da Seleção, era uma zoação enorme. Ficava feio, cafona. Até nesta época a camisa “3”, a azul feiosa da Nike, vendeu mais do que a amarela. Era uma evolução bizarra deste sentimento ruim contra o símbolo. Livro escolar não vinha mais com hino grafado na capa, a LDB vedava atos extraescolares obrigatórios para os alunos (como a Forma Unida, e hasteamento de bandeira), havia a grita generalizada. Senna vencia e catava bandeira pra comemorar. Morreu. Os anos 1990 foram complexos.

Quando a esquerda venceu a coisa foi ficando com ares de conflito, mesmo. A gente tinha aquela vergonha básica. “Camisa da seleção? já é copa do mundo?” Reparem que nos anos 2000 era comum em uniformes militares a bandeira ser decalcada em preto, pois a cor da bandeira “destoava”. Era cafona. Brega. Teve gente até querendo mudar, “atualizar”. A gente foi escondendo esse negócio aí. Nacionalismo, retrocesso, ditadura. Gente que se dizia traumatizada quando via uma porcaria de um periquito, por causa das cores. Pesado, verde e amarelo era coisa de gente ruim, do mal. Copa de 2002 foi o último suspiro… Mas o vermelho? Ah…

Nossa década passada foi assim, pior. Claro, estou sendo simplista mas o ressurgimento de um nacionalismo “bom” – não as asneiras dos comunistas e trabalhistas – e desinteressado foi algo gradual. Na virda dos anos 2010 o fenomeno do Capitão Nascimento era SINTOMA – não causa – de algo que estava fermentando na sociedade. Havia muita gente de saco cheio da loucura coletiva dos marxistas no poder. Muita coisa errada sendo cuidada com carinho por este pessoal. E a corrupção voava, multiplicava, se espraiava.

Em 2013 esse fermento virou uma coisa bem maior. E para demonstrar exatamente que parte da população estava indo pra rua pelo país, e não por pessoas e partidos, muitos foram de verde e amarelo. Levavam bandeiras, pintavam a cara com as cores da bandeira. Era a população querendo a politização ao invés da partidarização do debate político. Soltaram a cavalaria no pessoal, eles invadiram o congresso e tomaram as ruas, e por aquelas conjunturas dos infernos, a Anta foi demolida do poder. E começa aí a nossa saga de “pobres de direita”, etc…

Pula pra ontem.

Eu vendo ESTE POST AQUI no foicebookson.

Destes 700 e poucos comentários, mais da metade está XINGANDO O CARA DONO DO CARRO E TODO MUNDO QUE GOSTOU. Reparem, a postagem é só essa. Não tem nada falando de Biroliro ali, ou de manifestação, ou de qualquer coisa de política. É só o carro e a bandeira plotada. Só que a mera imagem da bandeira já ativou um gatilho de trauma colorretal inferior em uma monção de gente. Gente ofendendo, postando bobagens, falando merda de algo que sequer estava explicitado ali. É apenas ÓDIO, mesmo.

Enfim, é só um resumo. Não me importa o que vocês todos farão, espero apenas que façam com absoluta certeza de que a sua escolha é a melhor. Nada irá melhorar muito daqui pra frente, e se nada mudar, creiam, será bem, mas BEM PIOR. O morno tem de ser cuspido pra longe.

Torço pela briga.

Bom dia!