Teogonia

Bom dia.

Eu sou de criação católica. Minha mãe insistiu para que eu e meus irmãos fôssemos ao menos batizados na Igreja. E assim acabou acontecendo, frequentei a missa inúmeras vezes, obrigado e empurrado por minha mãe, que não ira comigo à missa – como era casada apenas “no civil”, ela não poderia comungar (normas, são normas) e nisso ela nunca se sentiu a vontade para frequentar. A depressão e a teimosia infinita do meu pai em meramente se batizar fizeram o resto. Faz parte.

E indo obrigado e ameaçado eu nunca entendi a Missa. O padre, Guilherme, um austríaco bem idoso e de humor ruim por demais era uma excelente pessoa. Mas era difícil, ele não gostava das novidades da Igreja nos anos 1980, e no começo dos 1990 ele reclamava sempre. Uma vez ele criou caso com o grupo de jovens que queria fazer uma “missa afro”, e o Padre entendeu que não procedia: O pessoal da Umbanda já ia à missa e ninguém fazia muito caso. Agora fazer missa africana? pra que?

E havia esta querela dentro da Diocese de Caxias. O bispo, Dom Mauro, era daqueles que “lutaram contra a ditadura”, se orgulhava disso e das ameaças de prisão. Quando eu fiz a minha Comunhão estávamos em 1993, e nessa época a Igreja estava em uma confusão bem grande. De um lado eu não entendia NADA da Igreja e na catequese, a gente lia bastante. Lia sobre revoluções, sobre cuba, sobre os sem-terra, sobre os sindicatos. Havia uma literatura padronizada, livros da Editora Vozes, que tiham este negócio aí.

Foi na Catequese que me apresentaram o marxismo. Che e Fidel, os heróis do socialismo, as lutas camponesas, a questão dos excluídos e da fome no nordeste, e os capitalistas que exploram o pobre. Tinha uma etapa onde José e Maria eram retratados como retirantes fugindo de bicicleta da opressão herondina da fome no sertão. Lembro perfeitamente da (imbecil) comparação entre Tiradentes e Jesus, que lutaram contra a injustiça e a exploração do povo pobre.

Os professores da catequese haviam sido treinados na Matriz, onde frades franciscanos que fizeram cursos na Mitra e na PUC-Rio preparavam os leigos para as atividades de liturgia e catequese. Dom Mauro era o grande incentivador deste processo. Nesta época a PUC-Rio oferecia algumas bolsas para alunos pobres fazer Serviço Social e Pedagogia. Eram alunos BEM selecionados, e era exigido o trabalho em paróquia, a atividade de catequese e liturgia voltadas à ação social. A Fundação Ford bancava estas bolsas. Mais tarde isto virou o embrião dos pré-vestibulares comunitários, febre na virada dos anos 2000.

Logicamente acabei me interessando pouco pelo rito em si, pois a catequese para mim já era incômoda, não curtia NADA na Igreja, mas passei a fazer aqueles trabalhos sociais, ajudei um bocado na comunidade. Isso ao mesmo tempo que me permitia ficar fora da Missa e dos ritos naturais, me dava o status de “estar na Igreja” e ser bem tratado ali na comunidade, e minha mãe saber que eu e meus irmãos estávamos fazendo um bom papel na Paróquia. Fazia as atividades mas nem sempre ia na Missa, essa era a ideia.

A Teologia da Libertação, que tanto falamos e reclamamos com propriedade é a teia que liga todos estes pequenos pedacinhos da minha memória na Igreja Católica. Eu cresci e fui educado na fé catolica com este viés aí, que não é mais do que um engodo extremamente sério e que sim, foi o determinante para a morte lenta da atividade eclesiástica nas periferias. Todo mundo já deve ter percebido o problema em-si.

O libertacionismo não busca a SUA salvação, mas a salvação da “sociedade”, através da Luta de Classes, e isto era explícito. Jesus era revolucionário, “ele seria socialista se vivesse hoje”, estas bostas. A Igreja que evoluia na periferia era a Igreja marxista das Ligas Camponesas, invasores de terras e propriedades, politicamente engajados na luta pelo socialismo, tentando criar uma coisa, um “catolicismo pragmático” em que você aceita todos os grupos e todas as queixas sociais em nome da “luta pela Igualdade”.

A Igreja estava sofrendo enormemente quando João Paulo II veio aqui em 1997. Ele não veio a passeio, veio no bojo do crescimento do socialismo dentro da Igreja Católica e em busca de conter a debandada de fiéis para as igrejas evangélicas protestantes. Naquela época os libertacionistas foram duramente pressionados em prol dos místicos, grupos tais como a Renovação Carismática, que era abertamente criticada por aquele pessoal libertacionista. Nesta época o Boff já estava sendo chutado da Igreja, aliás.

Quando vemos os padres franciscanos abençoando o Subdigitdo na TV, a TV não te conta que aqueles franciscanos estão junto do Frei Davi, fundador de projetos de pré vestibular comunitários, e um dos caras que lá no final dos anos 1990, estava na PUC-Rio coordenando o projeto de bolsas para jovens carentes ligados às dioceses da Baixada Fluminense, com a grana da Fundação Ford. Parte do apoio da Igreja Católica aos socialistas vem exatamente das paróquias do interior, ainda fortemente ligadas ao “libertacionismo” e que recebem gente e recursos de entidades católicas progressistas do exterior. Eu, aliás, já lidei com projeto assim.

A Igreja Católica ainda está envenenada pelo Marxismo, e isso não é assunto de maluco de youtube. Infelizmente a morte lenta dela nos grandes centros tem a ver com a busca cada vez maior da população pela fé mística, pela ação religiosa sem a exigência do socialismo, e pela natural necessidade de se agregar com quem busca prosperidade, paz e equilíbrio. Um Padre Paulo Ricardo é MINORIA, a maior parte ds padres hoje é ruinosa e interessada apenas em seu trabalho paroquial, não na promoção da Igreja, da fé em si.

A Teologia da Libertação é uma teogonia, uma lenda perturbada onde um deus socialista puro e perfeito cria um jesus revolucionário para o enviar à Terra (esquece esse negócio de antigo testamento) e transformar o mundo naquilo que é a Imagem daquele deus unitarista e teimoso, que por distração criou o capitalismo depois de dar umas erradas esquisitas ali na América e ter eliminado uns indígenas, tal…

E, neste fluxo doido a Libertação vai floreando e mascarando homicidas, psicopatas destruidores que irão ser os salvadores do “pobres do mundo”, oprimidos que são pelo diabo do capitalismo e do latifúndio (antigamente se chamava o agronegócio desse jeito aí), “marginalizados” e blablabla. Cuba é o Sonho, China é a Meta. Bem compreendido, a Teologia da Libertação é uma psicopatia marxista, basicamente. É anátema.

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Não estu criticando a Igreja em si, mas a seus atores, muitos, que realmente afundaram a Estrutura em nome de ideologia, de vontades e interesses. Nem falo de CNBB, desses mequetrefes, nem dá tempo. Fique bem claro, este ponto.

Bom dia!