O Seu Sonho

Brasil, República Trabalhista Plurinacional.

O ano é 2032, dez anos do Levante Nacional contra o Fascismo. Orgulho de os pobres terem vencido o horror do fascismo de FHC, Collor, Aécio e seu pequeno bando de baderneiros inciviizados, animais armados que quase conseguiram jogar a sociedade contra o povo das favelas, os acusando de cometer crimes. Absurdo. Mudar a bandeira foi necessário, mas no final os canalhas do PSDB foram finalmente dizimados.

Nosso país mudou. O nosso Papai tinha um sonho, que era o de ser um líder mundial. Conseguiu virar um imperador africano, tipo Idi Amin, ou o Papa Doc. É parecido, mas não tem a ONU e os europeus bajulando, tal. Não é humilhante mas deixa o cara desavisado meio constrangido quando assiste uma audiência social, pública. É uma experiência tocante, digna de um quadro do Sebastião Salgados.

Eu disse que o país mudou, né? Pois bem. Aquele palco todo enfeitado de vermelho igual camarote da Brahma. Pelourinho em festa, Salvador virou capital intelectual do país, o Homem gosta de despachar lá. Os cafres todos pelados e apanhando ao redor dele, povo tá liberto da opressão do consumo, mané roupa e celular? Isso não lhes pertence mais. Geral com fome e esfarrapado, descamisado. Calor. Muito calor, SSA é uma versão de baixo consumo do Inferno. Bonito, os marcuseanos da Usp adoram apanhar, possuir diarréia e ser assaltados por lá.

Três horas da tarde, calor do caralho, um desespero tomando conta daquelas almas perdidas em Salvador, e Ele no alto de um tablado, sentado numa cadeira de estofado vermelho, bem fofa e calorenta… Tipo imperador de filme da Disnei. Bebendo aquele líquido especial dele e falando merda. Cuspindo. E falando merda. Alto. Ruim, som de trio elétrico sempre é uma bosta.

Usando aquele asqueroso terninho branco daquele alfaiate cubano amigo dos líderes sociais que tem a grana do Rolex, lá ia ele berrando no microfone a libertação da negaiada da exploração do capitalismo, com as bolsas e auxílios do governo. Libertos tipo o Zumbi tirando os irmãos da mão do português, dizia aquele animal. Povo entendia a referência. E rosnava baixo.

As pessoas putas e suarentas, poeira do cacete temperando o povo com aquele cheiro nauseabundo e enlouquecedor de mijo e acarajé os tomando inteiros a partir da derme e os 500 caras da GN lá atrás de AK-103 venezuelano esperando um piscar de oloma pra enfiar a porrada naquele povo feio na base do grupo cercado de dez em dez, pra não dar muita gritaria. Mas o povo não pisca – se piscar apanha e perde, não tem o cupom da comida extra do mês.

E o filho da puta falando merda e o povo com fome e desidratado, exasperado e tendo de assistir aquele cara todo destroçado, podre e gritando que vencemo a mesera a fome e o odhooo e pusemo cumidah nupratu do thabaihafôbhaxilero… Tudo fatos da Nova Verdade que o Ministério da Democracia cuidadosamente organizou no Anuário de Fatos Verídicos nacionais. Obra enorme que aliás, está duas edições atrasada.

E lá todo mundo querendo a morte d’Ele, não importasse como! Ah, mas não… nem a perna amputada resolveu, cancer levou o joelho mas nao levou a merda da faringe. Não basta sofrer, tem de fazer todo mundo sofrer junto, na base da tortura verbal. E nem tente fugir disso pois a fome e a paulada te acham… Ah se acham!

O Horror, o horror…