A Bolinha e o Botafogo

O jornal espanhol As destacou com surpresa e tom crítico a vitória do Botafogo por 1 a 0 sobre o PSG, classificando o resultado como uma “confusão enorme” que embaralha completamente o grupo do Mundial de Clubes e complica a situação do Atlético de Madrid.

O norte-americano The Athletic analisou a vitória do Botafogo sobre o PSG como um resultado que pode mudar a dinâmica do Mundial de Clubes, destacando que os tropeços europeus, como as derrotas de PSG e Porto no mesmo dia, são positivos para o equilíbrio da competição. 

O jornal francês L’Équipe classificou a derrota do PSG para o Botafogo por 1 a 0 como uma queda do pedestal, destacando o choque causado pelo resultado inesperado em Pasadena.

E o vidente errou, claro.

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Bom dia.

Vejamos nós como são as coisas hoje em dia. Uma semana como essa, a uns dez anos atrás, nos traria uma euforia enorme. Poxa vida, o futebol, nossa commodity de maior razão geração x retorno por tonelada, nos trazendo aquela sensação gostosa de superoridade contra os europistões semifavelizados? Nós, a República do Virundum, vencendo os golias riquíssimos com nossa força de vontade e determinação?

Nossa, isso daria até filme. Épico. Colei as manchetes do Lance pra ilustrar essa sensação que era pra ser de exaltação, quase uma copa do mundo – efetivamente para os botafoguenses se o torneio acabasse hoje, já estariam plenamente satisfeitos – mas que no fundo esconde alguns questionamentos que se eu faço, certamente muito mais gente o faz e bem. Sem conspiracionismos, apenas um exercício leve.

Alguém suspeita da lisura dos torneios de futebol na atualidade? Sei lá, eu desconfio. É muita grana socada nas bétes da vida. Pensemos que para o jogo do Botafogo com o PSG as betes mais chiques tinham odd, a “razão de prêmio“, de 5:1 para empate do Botafogo. E isso porque era pior antes do jogo do Fluminense. Nem faço ideia do volume de apostas diários mas em um evento deste tipo a apostagem explode.

E só na BNN o volume total de apostas no geralzão está batendo 200 bilhões neste ano. Daí eu penso em quanto custaria comprar uma competição como esta. Bets são boa parte dos patrocínios de atletas, clubes e equipes de vários esportes, E isso já está ficando esquisito. Digamos que a empresa bancadora do evento pode lucrar bastante se esta puder manejar adequadamente os resultados de um ou dois eventos. Depois, segue o jogo, volta tudo à normalidade.

Digo mais: empresas do ramo poderiam, junto de entidades de baixa qualidade moral e política, construir um evento anômalo, um tanto específico, onde as casas de apostas do planeta todo rachariam o bico de ganhar dinheiro mediante complexos esquemas de controle de pessoas-chave e certa permissividade gerencial em um ou dois grandes momentos aleatórios de grande impacto?

Bem, estou apenas exercendo meu lado espiritual embalado como frango de ceia, com bastante alumínio ao redor. Creio de verdade que no final das contas uma conjuntura de fatores reais beneficia os clubes sulamericanos neste momento: A Europa está com seus campeonatos em final de temporada, com o verão. Os clubes sulamericanos estão em plena temporada. Quer dizer, os clubes europeus estão mais “cansados”… por assim dizer. Mesmo que na média os clubes brasileiros joguem 75 partidas ao ano, enquanto os europeus nao passem das 60.

Outro fator é o menor valor econômico e simbólico de um torneio aleatório em relação aos campeonatos regulares. Mesmo que as premiações sejam boas um PSG ou Chelsea não precisa se retorcer pra levantar 100 milhões de dólares. E torneio aleatório por torneio aleatório o botafogo já ganhou taça Tereza Herrera e tudo lá na Espanha. Tu ganha a taça mas não tem relevo, tanta importância. O clube não vai querer gastar jogadores de milhões de euros pra tomar botinada de lateral do River Plate em troca de troféu de campeonato menor, independente de ser da FIFA e de os árabes terem socado grana.

No final das contas eu fico ressabiado. Sempre que vejo essas coisas acontecerem – e o Botafogo jogou bem, mas bem retrancado e batendo a rodo, mas jogou direitinho – me penso olhando aqueles malucos que fazem o joguinho de adivinhar onde está o copinho com a bolinha, pegando dinheiro do peão no ponto de ônibus. A gente sabe que é sacanagem mas sempre tem doido botando dez reais na mão do cara do tabuleiro.

Bom dia, e nada de achar que estou desconfiando das instituições, ok?