A Conta do Papa – Primeira parte

Bom dia!

Não quero celeuma hoje. Mas tenho visto os amigos discutindo e brigando com uma frequência acima do que considero “natural” quando se metem a dialogar a respeito da Igreja Católica. E não temos nenhum problema em dialogar com isso – seria horrível de verdade se começássemos a censurar a opinião das pessoas aqui. Isso é humilhante para mim e para qualquer um aqui.

Então eu venho vendo que o pessoal têm três fontes de embasamento da crítica que fazem, positiva e negativa em relação ao – vou fazer um cercado e botar 50 no galo – cristianismo bananense e a sua dispersão quase fractal em trocentas subdenominações cristãs, all-flavoured. Notei que parte da confusão reside na dificuldade de estabelecermos críticas que não visem a educar o colega, mas antes, a destruir o argumento. Bobagem.

Me coloco como voz dessa questão apenas porque estou escrevendo o texto – todo mundo aqui já fez suas escolhas, então sou parte do debate. Então eu vejo esse caso: o grosso do debate com “igreja” está calçado no conflito que os neopentecostais abriram contra a ICAR nos anos 1980. Deste conflito, que juntava o gradual enfraquecimento da ICAR de JPII, que brigava politicamente e estava contaminada nas suas extremidades com as teologias progressistas e com os movimentos identitarios.

Nossa geração – excetuando o Velho Hidden – viu sempre a ICAR brigando contra vários inimigos bonitos, inteligentes e sorridentes, cheios de amor e ideias novas e gloriosas no coração. Ambientalistas, gays, defensores dos indígenas e dos negros, dos pobres e desvalidos. Todos culpavam a Igreja pelas infinitas desgraças que ocorreram no Mundo nas últimas cem décadas. Tudo tinha responsabilidade e tudo era culpa do Papa.

A Teologia da Libertação pregava meramente MARXISMO para os jovens dentro das paróquias. Sou exemplo, eu vivi isso – eu fui saber quem era o filho da puta do barbudo na catequese. Os veganistas verdes culpavam a Igreja pela destruição dos índios que protegiam a amazônia e da-lhe jacques cousteau e boto rosa, indio pelado na TV, gente recusando oscar por causa de morte do passado, indenização pros naivos, pegar o ouro do Vaticano de volta…

A conferência de Puebla, no começo dos 1960, avacalhou tudo e a ideia nem era essa. Em um cenário de bipolaridade a ICAR tinha de se posicionar, e neste processo meteram – o cara que inventou isso morreu semana passada – a ideia de que “pobres” não tinham lugar na Igreja, e que o “pobre” precisava ser “defendido” e “amparado” pela Igreja. A TL é uma variante do que decidiram em Puebla – basicamente foi um passa-moleque na Rerum Novarum, que era o documento mandatório sobre a ação da ICAR diante das inovações da sociedade – notadamente defendendo o Socialismo e criticando o capitalismo transnacional.

Então toda a temática pública da ICAR nos anos seguintes está suja com esse argumento ruim. Quando em Chiapas o povo começou ondas de banditismo, o argumento deles era o de “reparação”. Quando o IRA partiu pra violência objetiva no final dos anos 1960, o argumento foi o de “independência e reparação”. Quando o Francisco Julião se pôs a invadir terra aqui com apoio da ICAR (o lance das CEBs), a ideia era “Reforma Agrária contra o latifúndio”. Isso marcou  a visão do público, que tomou uma decisão, em parte bastante perceptível.

A este primeiro ponto, temos um segundo fator: o fortalecimento gradual dos cultos ditos “evangélicos” pelo mundo.

Obviamente parte da população, escabreada com o pós-guerra, estava querendo fugir da necessidade de se colocar defendendo lado a ou b da política internacional. A maioria da população é sempre formada de gente simples e que deseja acalanto, paz, uma proteção da realidade horrenda que viviam. Eram tempos duros, difíceis para quem não estava do lado certo da História. Muita gente queria Deus, não a arenga complicada em em línguas incogniscíveis de seus supostos arautos.

E muita gente criou coragem e foi seguir o caminho – questionavel ou não – de Lutero e Calvino em uma nova escala. O fenômeno do cristianismo pentecostal está diretamente ligado à urbanização dos povos e a mistura cultural severa da grandes cidades europeias, e com a promessa do “novo mundo” renovada no século XVIII, quando a indústria pôs os homens novamente a perambular mundo a fora vendendo suas ideias e poder político.

E havia a União Soviética e toda a Escola de Frankfurt ensinado aos jovens que Deus é uma criação humana feita para controlar as mentes ignorantes, enquanto a materialidade humana gerava prodígios e façanhas incríveis todos os dias. O Homem se desgarrou da humanidade lá atrás, assando e clorando judeus, e aparentemente gostou da ideia de “ser Deus” e não prestar contas de seus feitos a ninguém.

Você nos anos 1960 tinha TV e Rádio, podia ir a Miami em aviões velocíssimos a reação que assustavam pelas capacidades e tecnica envolvidos… haviam satélites no céu enviados por foguetes absurdos, e remédios novíssimos que evitavam doenças-flagelos de milhões, vacinas evitando aleijões, retardos, mortes… comprimidos quecuravam males de forma quase instantânea, químicos e elétricos milagrosos transformando cada pedacinho da nossa vida cotidiana. Ciência.

Sobre estes dois outros fatores, voltarei a comentar mais tarde, a história é meio longa e não estou sinceramente a fim de criar bate-bocas por conta de algum reducionismo excessivo de minha parte. Breve volto a este tema!

Bom dia!