A crise dos diplomados no Brasil

Há dois dias que só saem matérias sobre os perrengues que estão sofrendo os diplomados do país.

Hoje, deu no G1: “Após pós-doutorado na Inglaterra, biólogo vira figurante e tenta bico de modelo nu para se sustentar no Brasil“.

Na matéria, o rapaz diz: “No fim do ano passado, não tinha disciplina para dar, não tinha consultoria. Não tinha dinheiro. Morava sozinho desde o fim da graduação; agora, voltei para a casa da minha mãe”.

O fato é que tanto os acadêmicos quanto os concursados públicos, que durante anos ocuparam boa parte dos apoiadores dos candidatos progressistas, acreditaram que a água nunca chegaria a bater na bunda deles.

Que as pressões econômicas estariam restritas aos empregadores e aos empregados da iniciativa privada. Bom, disseram que era só uma marolinha e boa parte acreditou.

Havia um pouco de ingenuidade econômica, mas também faltou muita empatia. Quantos não disseram: “É por isso que tem que fazer concurso público, trabalhar pra uma universidade”, como se o estado estivesse blindado de qualquer tipo de perigo?

Boa parte dos meus amigos, na universidade de direito, falavam de concursos como se fossem o último teste da vida. Algo do tipo: “Passe nessa prova e a sua vida está feita”.

E quem é que garante tudo isso? Milhões de pessoas não vocacionada, ocupando cargos de tampão, cujo único propósito é receber todo o final de mês?

O mesmo aconteceu com as bolsas de pesquisa e financiamentos universitários. Gente com 35 anos viajando pela Europa, recebendo todo mês, defendendo teses que não tinham qualquer serventia para a economia real.

Sem indústria, sem pesquisa, sem o desenvolvimento da área médica, sem logística crescente e sem o aumento dos registros de patentes, para onde esse povo todo iria escoar?

Professores que se formavam para serem professores e que educavam futuros professores. A hora da conta chegou.

Primeiro foi a bolha dos engenheiros de mecatrônica, depois petróleo e gás, agora vem os concurseiros e os bolsistas.

Muitos foram fazer bicos e descobriram que as pessoas precisam mais de um bom professor de inglês, de um pintor ou de um tutor para reforço pré-vestibular do que um pós doutor em estrutura celular da jacaré açu.

Ao fim da matéria, o rapaz conclui: “Não tenho nada fixo e não sei como vai ser amanhã. Se nada der certo, vou trabalhar num cruzeiro, vou tentar dar mais aulas de surfe, vou viver a vida. Fazer o quê?”.

Pois é, meu caro. É isso: viver a vida. É isso que muitos de vocês terão que fazer, porque chegou a hora de admitir que a grama é verde e que as regalias têm fim quando acaba o dinheiro do outro.

É triste assumir isso. Eu fico triste mesmo. Nenhum país vai pra frente sem uma classe de cientistas bem financiados; mas isso só existe no mundo malvado do capitalismo, que muitos deles repudiam, dando um tiro no próprio pé.