A vizinhança define a escola

Bom dia!

Estava lendo os posts da semana no blogue, fiquei uns dois dias meio ausente – Feriados, coisas pra ver na obra do meu Barraco, etc… – e achei um assunto do povão que está degredado no Novo Mundo. Basicamente nosso amigo de década Liberal finalmente vai ver se arruma umas tábuas pra chamar de suas – degredado é assim, não tem como comprar tijolos mágicos como nós, prósperos e evoluídos bananenses, e irá ter de se virar com módicas casas de tábuas em algum canto frio e isolado daquela ex-província da Rainha Elizabeth et al.

Neste contexto, um dos argumentos – creio eu o argumento focal pra essa decisão dramática – é exatamente a ESCOLA.

“(…) mas é complicado achar um ranch (casa de tábua modesta com um terreiro pras galinha) por aqui, quando digo por aqui TEM que ser perto da escola boa. Se eu dirigir 20m em qualquer direção eu acho, mas aí minha filha iria pra uma escola merda.

A escola comanda a porra toda aqui, area da escola boa = segurança, famílias estáveis, comércio bom, parques, casas valorizadas, menos latinos (anotei o búlingue, tomaremos providências!), etc etc etc… ”

Tirando o humor matinal, prestemos bem atenção em um fator que divide, que separa fortemente e definitivamente a mentalidade de quem busca progresso material e pessoal daquela ninguenzada bosta que conhecemos e que nos certa por todos os lados (até por debaixo dos pés, tu não sabe quem a milícia enterrou no terreno em que o seu MCMD está estacado…): A preocupação perene com a melhora da habilidade e das capacidades dos filhos. Esta sempre foi a diferença que separa uns e outros, e sempre vai ser o que separa lugares bons e ruins, pessoas que irão prosperar e aquelas que estarão condenadas àquela vida de contemplação subjetiva da pobreza alheia.

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Eu dei muita aula em pré comunitário. Quando era crente no socialismo mesmo, um babaca. Mas ali eu sempre acreditei que o mérito era o meio de o cara sair da merda. E enfrentar a realidade era mais dificil quando nossos pais não tinham a preocupação em nos preparar para este enfrentamento, esta guerra que é a ascensão social pela educação e trabalho. Meus alunos eram pobres, classe média bem baixa, gente de periferia. E sempre vinha nos buscar o aluno que, depois de um ensino fundamental e médio em escola pública de péssima qualidade (até para os parâmetros do Estado), via uma matéria no Fantástico, e resolvia querer ser médico, advogado, engenheiro. Sempre tinha esse povo.

E a pessoa vinha até nós, pré-vestibular comunitário, sem saber sequer se expressar em língua corrente. Sem conhecer rudimentos de estrutura social, sem compreender como é o acesso à Universidade ou antes, a necessidade efetiva daquele estudo. Eram anos 2000, já tinhamos cotas raciais e sociais, mas o vestibular ainda era isolado e o ENEM era apenas “experimental”. Eram jovens com pais certamente muito bons, pessoas na maioria trabalhadoras, esforçadas, mas que não tinham nenhuma bagagem para repassar aos filhos, e tampouco tinham noção de que o esforço realizado era insuficiente para qualquer tipo de projeto futuro.

E a gente lidava com esse público. E explicava que simplesmente NÃO IA DAR PRA SER MÉDICO E ADVOGADO. Colegas me chamavam de grosseiro, ignorante por esta abordagem. Mas era o fato. Pois é exatamente a lógica da “disputa” que o Liberal aplica para a condução da educação de sua filha, o ponto central do problema: O Médico foi apoiado por seus pais, mesmo que minimamente. Estudou exaustivamente, fracassou até conseguir entrar, acessar a Universidade. Ali, se dedicou mais anos para se formar e especializar. Forma família, talvez com outra colega de profissão, ou não, mas ali teremos uma família com um potencial econômico naturalmente acima da média da do local onde mora.

Esta família irá ter meios de dar a seus rebentos condições muito superiores de vida do que os rebentos da maioria esmagadora da população. Este casal terá filhos em um local de moradia que fatalmente será melhor do que o da maioria da população, recursos para pagar escolas melhores do que as frequentadas pela maioria da população, seus filhos terão melhores estruturas de apoio para estudos, menos pressão economica pela busca de emprego, maiores possibilidades de acesso à variedade de carreiras possíveis e tempo para poder se capacitar noa disputa pelos melhores lugares nos concursos e vestibulares. Em resumo, o mérito dos avós deles gerou a capacidade dos pais deles.

É ASSIM QUE A COISA FUNCIONA.

Quando o Liberal define a melhor escolha para a sua filha como sendo a melhor escolha para sua familia, ele toma uma decisão definitiva. Ele quer o melhor para a filha, para que esta produza o melhor resultado possível. Esta capacidade que ele e sua esposa passaram a deter com trabalho, esforço e método agora se volta aos projetos futuros de sua família. Este poder de escolha, de definição de projeto, é essencial. É o que separa uns e outros em um grupo, em uma comuidade, em uma família. É uma escolha.

SE você entende que é essencial FAZER o melhor, mais do que DAR o melhor a seus filhos, então pegou o esquema. Escolher onde vai morar, e onde seus filhos irão estudar depende exatamente da sua capacidade material pra fazer esta seleção. Aí é cada qual com seus meios e possibilidades. Nem todos teremos como fazer o ideal para nossos filhos, mas esse tem de ser o objetivo, né?

Nem todos os pais podem escolher, nem todos assumem que é necessário sacrifício para se buscar um futuro melhor, e muitas vezes todo o sacrifício realizado se torna inútil diante da realidade bizarra que vivemos aqui, por exemplo. Não culpo todo pai por isso. Muitas vezes o pouco que a pessoa herdou foi o maximo que aquela família conseguiu, o melhor que seus pais puderam realizar. Porque, talvez, eles tenham vindo de um ponto muito mais baixo. Há quem tendo meios e oportunidades, prefira o vitimismo e a ideologia para buscar “direitos” infinitos. Há quem simplesmente ache que os filhos não são seu problema, já que casa e comida bastam. Há quem sequer cuide dos filhos.

Mas é sempre bom pensar nestas variáveis quando estivermos planejando o futuro de nossos filhos. Se não os têm, planeje o seu futuro mesmo, mantenha algum nível de planejamento, um “plano B” para qualquer eventualidade. Nem todos começamos de um mesmo ponto de partida, e nem todos chegaremos aos mesmos destinos, então o lance é fazer a viagem ser o menos tortuosa possível. Até porque não tem como ser linha reta, isso só dá pros filhx do Bill Gates III, reptilianos safados…

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Ah! Os alunos que queriam medicina? a maioria abandonava o pré em um, dois meses. Cansavam. Não aguentavam estudar 14h nos finais de semana. E entravam uns cem, em agosto ficavam uns vinte. Passavam uns dez. Era uma média ótima, prés privados tinham média similar. Faz parte. Bons tempos, em que eu desperdiçava minhas oportuindades pra “salvar o mundo”… hahaha!

Bom dia!