Alphaville

Não, não estou fazendo quarentena social. Trabalho diariamente, órgão com atividade “essencial”. Poderia estar fazendo Rome Ófce, mas prefiro trabalhar in loco. Mas na quarta-feira eu estava sem sono e resolvi fazer um troço que virou a mania nacional em tempos de crise: assistir filmes. E eu tenho vários filmes salvos no HD, do tempo em que nem internet segurava torrent direito, imagine Youtubes da vida.

Daí que eu ia apagar uns filmes quando resolvi dar uma olhada nesse Alphaville. Assisti tem anos, claro. Filme francês de 1965, ficção científica noir, chato pra cacete, em P&B. Mas a história zuada é o que interessa pra gente. Pois o mote do filme (o Pai Xicão curte bastante este ramo do cinema) é a noção de que um mundo perfeitamente lógico e racional nos traria dois problemas: UM, o excessivo e sufocante controle do Estado via tecnologia e DOIS, a impossibilidade absoluta de a sociedade prosperar em um ambiente sem criatividade e inventiva florescentes.

No filme, a cidade de Alphaville (ÉEEEEEEEEEEEEEEEE, É POR CAUSA DESTE FILME QUE TEM MONTES DE BAIRROS COM ESSE NOME PELO PAÍS) fica em uma galáxia fora do sistema solar – mas o filme é rodado nos subúrbios de Paris, ninguém liga mesmo – e um investigador das “Terras Externas” (corruptela para “departamentos ultramarinos”, seria a Terra, no filme, tem de entender geografia da França pra sacar que é a favela da via lactea) vai lá pra saber porque diabos tanta gente morre lá naquele lugar, e porque o comandante daquele lugar, um PCzão enooooooooooooooooooooooooorme, um “mainframe” porradão, que tem alto-falantes e teletelas (1984…) em toda parte, o Alpha 60, está interessado em matar geral?

Aí tem uma sociedade cheia de prostitutas francesas baratinhas, pulgueiros entupidos de velhos drogados e carentes de liberdade de expressão, ruas sempre molhadas e lamacentas, Renaults e Citroens pilotados por caras doidões que fumam desesperadamente e absurdamente, mais um povo totalmente sem emoção – se chorar, morre, se sorrir, morre. SIM, estavam falando do comunismo, mesmo. Curioso mas não ilógico, pois o filme é pré-1968 – e escravo do Estado que o vigia incessantemente, e pautado pela “ciência”, pela “logique” amoral e sem ética, puramente matemática, “numerique”.

A cena é nada-a-ver mesmo, o lance é a fala do Mainframe explicando ao herói, Lemmy Caution, o esquema do Estado deles…

Não conto o resto do filme, mas explico o lance: estamos vendo o Estado em um surto de controle pautado pelas “evidências científicas”, pela “racionalidade”, pelos “números frios”. Um Estado construído sobre uma sociedade heterogênea que do nada, em poucas semanas, está virando um “departamento ultramarino” do Partido Comedor de Cachorro. É absurdo e revoltante a ideia de que um animal como um governador, possa ter o poder de vigiar a todos, o tempo todo, com dados de celular, e se arrogar o direito de punir a pessoa onde estiver! fico pensando se o cara vai mandar um Tomahawk na casa do cara que foi levar o cachorro pra cagar na pracinha, por exemplo.

CLARO que levamos toda esta maluquice da Peste Chinesa muito a sério, esta semana perdemos um colega do outro grupo do facebook, por conta dessa doença miserável. Mas é inadmissível ver o Estado mandando pegar e prender gente na rua, fazendo propaganda disso como se fosse um feito admirável e digno de aplausos.

Bananense ADORA o Estado, ama de verdade ter aquela bota lhe esfregando a cara no concreto úmido. Vejo ditadores de iPhone vociferando o tempo todo seus ódios contra essa ninguenzada que se recusa a obedecer, que teima em não morrer de fome dentro de casa. Que sorri abertamente quando um de seus “adversários” morre, faz festa e tudo. Que se cala quando seus aliados mentem descaradamente. Que politizou uma merda de um remédio! Fogo. Quando vemos o governador berrando que vai prender geral que o desobedeça, vemos que ele faz por ter um claque que o abone e justifique. Esse país merece a merda que sofre.

Bom dia.