Educação é para poucos

Seria maior, se o pessoal didireita tivesse interesse em dar aula, estudar filosofia, sociologia. Mas não, preferem deixar com a esquerda. Aí, reclamam que está tudo dominado.

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Bom dia!

Uma das piores pragas as quais que temos de conviver diariamente neste país desenganado é a enorme afeição que boa parte da população mantém em relação à educação e ao seu potencial benéfico, transformador. Não tem jeito, todo mundo acha que educando as pessoas o mundo se tornará melhor, mais feliz e seguro.

Bobagem grande. Sem menosprezar o nosso colega bomberman, que é membro histórico do blogue, eu falo sem nenhuma dúvida que o problema de se conter o domínio da esquerda na seara intelectual da sociedade não passa por termos mais gente “didireita” na escola e universidade. Essa fase já passou e a Escola é marxista. Ponto.

E o que isso significa? que não adianta fazer nada e que tá tudo dominado? Claro que não. Mas temos de pensar: porque o cara de direita não quer estudar ciências humanas? Porque o conservador foge dessa área? or causa dos esquerdistas? por causa da péssima empregabilidade destas carreiras “sociais”? por conta da necessidade de trabalhar e ganhar dinheiro ao invés de querer salvar o mundo trepado em ONGs? porque não dá pra trabalhar e ficar correndo atrás de bolsas da CAPES que exigem reuniões ás terças 14h?

Nós às vezes caracterizamos mal o “cara didireita”. A gente brinca mas em geral o cara e torna conservador quando descobre que é capaz de vencer obstáculos com seu próprio esforço, e percebe que a liberdade é essencial para seu progresso, e a ordem social necessária para que seus projetos de vida prosperem. O cara vira conservador quando entende que nem sempre o fracasso é a regra.

Esse cara pode crer em qualquer coisa, pode torcer para o Vasco, tomar cerveja aromatizada, gostar de carro elétrico ou de pagode no boteco e comer açaí com bacon. E pode ser ppouco estudado, pode ser o feirante que lhe vendeu o chuchu na semana pasada ou o cara do Uber que não deu um pio a viagem toda porque pensou que tu era de esquerda porque parecia ser uma professora de colégio estadual…

E esse cara é conservador? Nem sempre… porque esta opção não está escrita na CNH ou na ficha do cartão da Renner. Pessoas muitas vezes assumem comportamentos que preferem e admiram sem saber a sua origem. Princípios morais são oferecidos pela religião e pela escola. Aí eu chego no ponto onde começamos o assunto. Pois a gente nós povo pessoal em geral tendemos a planificar o argumento. “Escola seria bom se tivesse mais gente didireita lá dentro”… Verdade?

Não sei. Nossa escola – pensemos na creche, na escola propriamente dita, a universidade -está calçada em princípios positivistas. A Escola Nova dos anos 1930 é a base do que chamamos de “Educação” no Brasil. E a Escola Nova é essencialmente positiva, pois se pauta na ideia de que o aluno é frágil, e dependente do conhecimento pois a pobreza da sociedade passaia pela miséria da Escola e de seus professores.

“Certo, um educador pode bem ser um filósofo e deve ter a sua filosofia de educação;
mas, trabalhando cientificamente nesse terreno, ele deve estar tão interessado na
determinação dos fins de educação, quanto também dos meios de realizá-los. O físico e o
químico não terão necessidade de saber o que está e se passa além da janela do seu
laboratório. Mas o educador, como o sociólogo, tem necessidade de uma cultura múltipla e
bem diversa; as alturas e as profundidades da vida humana e da vida social não devem
estender-se além do seu raio visual; ele deve ter o conhecimento dos homens e da
sociedade em cada uma de suas fases, para perceber, além do aparente e do efêmero, “o
jogo poderoso das grandes leis que dominam a evolução social”

Este é um pedacinho do Manifesto da Escola Nova. A visão deste pessoal, do começo do anos 1930, é o cerne do que chamamos de “escola” no Brasil. A separação da técnica do “pensamento crítico”, a mania de chamar professor de “educador” porque Educar é troca; O menosprezo contra a cultura não -pedagógica e o trabalho. A necessidade de fazer o professor virar “agente social” e principalmente, ator político pois os caras já entendiam perfeitamente a necessidade de controlar o processo educacional.

Vargas pega isso, acha uma merda, bota o governo pra achacar o Anísio Teixeira e seu pessoal pois achou tudo bastante comunista, mas manda o Capanema ajeitar a ideia e transfromar parcialmente no seu programa de educação do Estado Novo. A escola que você tem no seu bairro tem uma coisa chamada PPP, projeto político pedagógico. Sim, ele nasceu lá nas ideias da Escola Nova. Escola agindo como ator político e social em pequena escala. Escola vetorando o interesse do Estado positivo.

A Universidade estanqueia conhecimento, separando fortemente os alunos por cursos, capacitações e demandas, impedindo que carreiras distintas mantenham contato e troquem expertises, segregando fortemente o “crossing” através de regras complexas que tentam fechar portas a quem discorda dos mecanismos de cada curso, cada cátedra, cada departamento. A Universidade odeia a técnica e o Capital. É “autonomia da educação”, dizem sempre.

Estamos falando de um processo que já vai para quase cem anos de iniciado. Cem anos. Olavo, o Velho, dizia que era burrice querer brigar contra a esquerda de frente, pois eles tem uma retaguarda imensa e ativa. É exatamente a mesma coisa que eu disse mais acima: A maioria da população conservadora não sabe que é conservadora, apesar de se comportar e defender ideias conservadoras, assim como a maioria da população que é progressista não sabe que pertence a esta caterva, mas exibe comportamentos e preferências de esquerda.

Ambos os grupos estiveram expostos aos mesmos fatores e mesmas formas de dispersão cultural. O que define a opção de cada grupo? Em parte, a exposição ao argumento e ao discurso. Em geral conservadores aprenderam em casa os princípios que regem seus comportamentos sociais. Não saberia dizer onde os progressistas aprendem, se na escola, igreja, ou na família mesmo. Mas creio em uma gradação, onde menos exposição ao discurso e posturas conservadoras causam esta flexão à esquerda.

Famílias menos estruturadas, com conflitos pessoais e dificuldades econômicas, vícios, relação com crime poderiam ser mais suscetiveis a criar filhos com tendências agressivas, críticas, de comportamento difícil. Famílias que dificilmente poderiam transferir uma cultura de ordem, traablho, educação. E quem recebe melhor este “público” e os acolhe relativizando e redistribuindo a culpa por suas faltas e descaminhos? a Igreja e os progressistas. E por décadas os dois grupos andaram abraçados. E temos a Escola.

Como disse, não é simples. Não seria apenas “por gente didireita na escola”. Infelizmente a briga tem de ser na origem, na cultura e na sociedade. É quase um corpo a corpo ideológico, e temos muitos inimigos, e inimigos bons e capacitados, fermentados com grana e poder estatal. Sem ilusões, o trabalho tem de ser feito em casa, e bem feito. O mundo está cheio de gente doida, que nossos filhos não sejam parte desse bando já está de muito bom tamanho.

Bom dia!