Eles vão nos salvar

Bom dia!

Não preciso repisar aqui neste espaço moderno e descontraído meus receios sobre a moçade do futuro, que estamos vendo florescer diligentemente por aí nos nossos últimos tempos. E sempre vejo a galera preocupada com a qualidade, digamos, “mediana” do material humano que grassa por aí.

Basicamente temos umas duas gerações de jovens que nunca experimentaram sofrimento de verdade, nunca passaram aquele aperto doméstico, nem foram cobrados de verdade pela família, escola, amigos, trabalho. A “geração do tetra” que bateu seus trinta anos agora nunca precisou pagar etapa na fila do leite, ou lutar pela vida num supermercado às 11h da manhã enquanto o cara se preparava pra remarcar os preços da tarde.

Eu pessoalmente e depois de ter filho penso de um jeito bastante abstrato sobre esse pessoal. Creio que todos aqui tenham alguma experiência digna de nota com gente desta fase. E todo mundo tem história ruim pra contar. Claro, nem é o foco hoje pois isso me daria assunto para laudas e laudas de texto, com certeza. Deixo pra vocês esta tarefa. Então, meu pensamento abstrato é: A gente já está os tratando duramente ou ficamos moles, mesmo?

Digo porque é inutil esperar que estes jovens vivam a vida que vivemos ou mesmo compreendam a extensão da expressão “não tem dinheiro”. Vivemos num tempo de facilidades, os jovens de 20 e poucos anos do sertão maranhense tem celular, internet, bolsas, escola gratuita com ônibus pegando em casa. Muitos de nós a anos não andam de ônibus, trem. Trabalhamos em casa, em escritórios refrigerados, usufruimos de alta tecnologia.

Como esperar uma dureza moral, de caráter de um jovem que SEMPRE recebeu bons alimentos, boas roupas, boa moradia sem quase nunca ser cobrado por pais que já foram bem tratados antes, com todas as dificuldades inerentes à vida nos anos 1980 e 1990. Estes jovens dos anos 1990 são os pais da geração 2000. Vejam: duas gerações de pessoas que viveram em um mundo rico, estável e em expansão técnica e econômica.

A gente cobra porque nossa geração foi duramente penalizada nos anos 1980. Enxergamos o trabalho como necessário, importante, relevante. Achamos que o conhecimento é poder e que ter uma casa, uma família importam mais do que parecer bonitos ou importantes. Nossas prioridades foram moldadas a partir de um cenario de escassez e trabalho. Nossos objetivos de futuro sempre vão circundar isso: Se proteger da escassez, buscar meios de prover a casa, se cuidar para manter a familia.

Como vamos fazer um mané de vinte anos que nunca pegou numa pá entender a necessidade de trabalhar para si? Ele vendo que o salário de uma firma dá mil e poucos reais, irá preferir viver com menos do que se sacrificar rua a fora. Pois não lhe falta comida ou teto, roupa, entretenimento. Esta geração não tem aquela ansiedade misturada com a soberba de se achar superiores moralmente aos mais velhos, aquele voluntarismo de greenpeace. Simplesmente se lixam e esperam que leis os protejam e protejam as suas parafilias de ocasião.

A uns vinte atrás eu achava que estava ajudando a mudar o mundo, e era fantástico. Acordava cedinho, trabalhava de dia, ia pra faculdade a noite, fim de semana 7h da manhã já estava indo ver pré vestibular, ficava o dia todo em várias escolas, ajudando pessoas a transformar o mundo e suas vidas etc etc etc. A gente achava de verdade que ia salvar todo mundo, se sentia moralmente olímpico. Depois a gente descobre que no final não é assim, mas vá lá. Essa porção de jovens estúpidos/empolgados/inofensivos não existe hoje em dia.

O mundo está envelhecendo e encolhendo lentamente. É o fato. Nós iremos passar mais anos de nossa vida tocando o barco, e torcendo para que nenhum idiota nos prejudique severamente. As coisas não mudam de um dia para o outro mas teremos mudanças significativas em pouco tempo no mundo do trabalho e, creio, veremos legiões de nem-nem oficiais e permanentes. Basta arrumar alguma doença incapacitante que lhes garanta uma pensão estatal e pronto. Sem moral, sem vontades, sem sonhos.

Esta geração será a que tocará este país, este mundo nos próximos anos. Tem muita gente boa no meio? TEM. Mas não são a maioia e a gente sabe perfeitamente disso. Estamos indo para um caminho esquisito. CLARO, não creio que esta geração vá nos salvar, mas se não atrapalharem tudo com inépcia e ignorância, fica de bom tamanho. A gente levará até onde der. Isto, claro, se essa geração moderne e evoluíde não nos criminalizar antes.

Bom dia, extremamente chuvarento!