Entijolamento

Bom dia!

Na idade média, e certamente na antiguidade com muito mais força a tarefa tensa e pouco amigável de eliminar fisicamente seus oponentes, adversários ou memso familiares em geral era associada a longos rituais de cunho místico-educativo ou a matanças desenfreadas onde a violência dobrava a meta a cada minuto. Então aqueles morticínios que os filmes exibem ao relatar o período são tipo “amostra grátis do netfliquis” em relação ao bagulho em si, mesmo.

Uma questão era como lidar com as lambanças privadas de nossos familiares. Tipo, filho deficiente, mulher adúltera, filho homossexual. Solução bastante usada de forma eminentemente educativa e factual era o emparedamento. Basicamente de pegava o cabôclo vivo e berrando, o amarrava em uma parede e depois se construía uma nova parede na frente dele, e ali ele ficava gritando e esperneando até morrer e ser esquecido. Naqueles castelos britânicos volta e meia se acha alguém nessa situação.

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Pois bem: Estamos cá nesse blogue às voltas com o problema que originou todo este assunto do grupo, década e pouco atrás: TIJOLOS. Vou lembrar que tenho uma memória boa e honestamente, não me parece ser a hora boa como foi lá em 2008, 2009, 2010. Estamos em um novo momento e sim, já conhecemos o roteiro e já sabemos que algumas coisas estão e acabarão acontecendo:

• Os imóveis perderam valor nominal nos últimos cinco anos? NÃO. Mas com quase 30% de inflação a perda real de valor aconteceu e é notável. O problema é que a nossa renda também perdeu os tais 30% e pior, o governo – os governos no periodo – tentaram intervir impedindo a queda deste mercado com injeção de grana e controle de juros via bancos estatais.
• Já temos um embrião do novo MCMD e a gente sabe que MCMD injeta inflação líquida no mercado de imóveis, isto é, quanto mais o govenro tenta tabelar os preços, mais os preços dos imóveis encostam no topo da tabela e perdem o atrativo para quem pode financiar, restando um buraco entre a etapa gratuita – já que na fase 1 ninguém paga merda nenhuma – e a fase da classe media-tem-que-morrer. E todo o mercado acaba sendo intoxicado com aquela glicose maligna do governo.
• Pra piorar muita gente mesmo já está endividada com imóveis e boa pate das compras de imóveis é feita com outros imóveis, logo o dinheiro real envolvido é fração do dinheiro patrimonial, quer dizer: o doido compra um apartamento de 500k dando um outro de 300k de entrada, mais uns 50k de dinheiro e financia os 150k restantes. Dinheiro real é 10% e olhe lá, e isso se ele não meteu o carro fipadaço no rolo. Quer dizer, o mercado se regula internamente nessa maluquice de que o valor dos dois imoveis poderia ser qualquer coisa, desde que o saldo restante fosse os 50+150K finais.
• Mais: galera mais pobre já arrumou casa, o défice habitacional não existe na forma que o DIEESE mostra. Quando a pesquisa mostra lá que tem uns 5 milhões de casas faltando, a pesquisa usa dados do IBGE para as habitações de aluguel, as “moradias subnormais” e as pessoas adultas que não tem moradia e vivem na casa de pais ou terceiros. Só, parceirinhos, que o mundo mudou bem e essa galera na maioria a) vive bem em favelas urbanizadas e com acesso, a maioria das favelas no país não é igual aquelas de Belém, do Recife b) Muita gente não tem filhos ou os têm e mora com os pais, não vai buscar nova residência e c) tem a galera que simplesmente não tem a mínima condição de possuir imóveis.
• Eu mesmo fiz meu barraco entre 2020 e 2022, gastei horrores pra ter uma casa simples, peguei o pior momento de preços, aquele logo após o começo da distribuição dos 600 reais. Entendi que era uma aposta a ser feita: SE Bolsonaro se reelegesse em 2022 o país iria voar e eu aproveitaria a melhora econômica mesmo ciente de que como FP teria poucas vantagens; SE Bolsonaro perde e o PT volta, eu estaria com um becape pra me proteger diante de uma crise que certamente e fatalmente viria, e que corroeria qulquer vantagem que eu como FP poderia receber do governo sindicalista dos infernos.
• Meu temor nesse assunto sempre foi o de ficar preso aos tijolos, acabar virando escravo por dívidas de uma CEFU4, de um santo andré da vida, trabalhando décadas a fio pagando carnezinho gostoso de apartamento com saldo devedor reajustado pela TR, que são só um zero qualquer coisa… Eu ainda tenho pânico dessa ideia e acho mesmo que é irracional penhorar sua vida por tijolos, acabar emparedado por um banco ̶q̶u̶e̶ ̶g̶a̶s̶t̶a̶ ̶m̶e̶u̶s̶ ̶j̶u̶r̶o̶s̶ ̶c̶o̶m̶ ̶a̶q̶u̶e̶l̶a̶ ̶g̶a̶l̶e̶r̶e̶ ̶c̶o̶l̶o̶r̶i̶d̶e̶ ̶d̶e̶s̶c̶o̶l̶a̶d̶e̶ ̶e̶ ̶q̶u̶e̶ ̶d̶e̶s̶e̶j̶e̶ ̶m̶i̶n̶h̶e̶ ̶m̶o̶r̶t̶x̶ ̶d̶i̶a̶r̶i̶a̶m̶e̶n̶t̶e̶. Tem quem curta e se beneficie disso, não é meu caso, claro.

Enfim, estamos entrando em mum novo momento e creio que haverão oportunidades para todo mundo, sem otimismo. O foco é proteção do dinheiro em um momento em que parece haver um movimento de crise global a la 2008. Se vai ser isso mesmo, sei lá, eu sou o menos indicado pra tentar prever coisas do tipo, estou apenas elocubrando sobre o problema que está renascendo das cinzas.

Bom dia!