Mas é burrice mesmo?

Bom dia!

Nestes últimos dias está sendo interessante ver como a coisa anda no nosso grande buraco incendiado e entupido de cadáveres e valas comuns que é a BNN. Interessante mesmo como a coisa corre em paralaxe absoluta. Há a realidade, esta em que estamos todos metidos e enrolados, e há um “desvio”, uma distorção contínua que afeta a visão, a percepção, a medida das coisas, para todos.

Eu até ia falar explicitamente desse lance de a direita ser “burra”. De fato, em parte todos somos mesmo e pronto. Ser inteligentinho nunca resolveu os problemas do mundo, sempre há se que se buscar sagacidade, experiência, um bom plano, para que as coisas realmente importantes comecem a funcionar. Aí é que a coisa encrenca. Nós aqui não somos chegados em bons planos, em longo prazo, nesse lance de projetar cenários, de estabelecer riscos. Gostamos é do “vamo-vamo”, e daquela bagunça barulhenta das coisas feitas em cima da hora, com muito tumulto e mocotó no final.

Gostamos mesmo é de uma batida de laje, não de um projeto de mundo.

Aí começam os problemas de verdade. Vamos ao meu ponto.

O fato é só esse mesmo. Nego quer mágica onde só pode haver realidade. No fundo, no fundo mesmo “nosopovo”, nós mesmos, acreditamos que na base do empurra-empurra e da gritaria daria pra se arrumar algo grande, consistente no país. Dá pra tomar o castelo, mas não dá pra segurar a posição. Tem de haver uma retaguarda decente, um meio de campo minimamente razoável para que as coisas andem, se resolvam – presumindo que não seremos nós os que resolverão qualquer parada aqui.

O cara de direita escolheu chutar avanço pela absoluta falta de opções. Faltou GENTE para ser votado para o congresso e senado. E muitos da direita mais “sensível” preferiu votar em candidatos mais “moderados”, “sociais”, enquanto o pessoal mais “xucro” tentou partir pro caos pondo os trans-bombas lá dentro das casas de política. Todo mundo – tirando o povo que vota nulo e por isso gasta energia exaltando a sua ausência de opção como virtude – meteu votos em algum destes trastes que hoje tanto nos fazem passar raiva.

O resultado, depois de quase dois anos, é exatamente este daí: Estamos com pouquíssimos bons representantes no Legislativo, e ainda não temos sequer nomes para prefeitos, vereadores. E isso é uma merda porque prefeitos e vereadores manuseam quase 30% do gasto público no país. Os partidos de esquerda já se mimetizaram em “direita conservadora prudente e moderada, socialmente responsável”, os partidecos já lançaram seus milhares de candidatos de 50 votos, e estão achando lindo esse lance de fundo partidário. Enquanto estávamos gastando energia xingando os caras que elegemos, o pessoal do outro lado estava se organizando para ocupar mais espaços. Pegar mais dinheiro público. Gastar mais dinheiro em seus quadros.

Todo mundo achou gostoso fazer corinho com o babaca do PSOL no xingamento ao biroliro. fica belo e moral estar do “lado certo” da confusão. Já disse isso outras vezes aqui, a gente se sente bem quando pode bater no peito e afirmar com aquele tom devastador de quem se liberta de uma unha encravada, de quem descobre a amante de seu marido bêbado… “EU FUI TRAÍDO!!!!”

É Nélson rodrigues puro.

A pessoa se sente bem por ter “aprendido”, fica livre para poder parar de brigar com o pessoal mundo a fora, fica aberto a aceitar certos tipos de vantagens morais em troca desta “liberdade”. Descobrir a traição é mais libertador do que o pavor de ter de defender a pessoa amada contra todos os achaques, todas as críticas. Liberta, claro. Mas isso é válido para o casal, para a vida a dois, não para a política, ora essa. Ninguém – NINGUÉM – entrou nessa onda amando ninguém. E agora tem a galera que nega três vezes por hora suas opções anteriores. Só que negar tudo leva tempo, e sim, não temos esse tempo todo.

Pois sim, vocês terão de escolher se vão votar, se vão votar em qualquer candidato ou naqueles candidatos sabidamente alinhados com o que acreditamos, e se votarão neles porque acham que são bons, ou por causa apenas da absoluta falta de opções. E isso inclui tudo, desde a ruindade absurda do ruço mano, ou a praga do deserto do crivela, ou arrumar um jeito de não eleger a manuela de Deus em POA, ou aquele monte de candidatos tralhas do PSL que grassam por aí. Tirando quem não se sente obrigado a nada, teremos de fazer escolhas maiores do que o ranço de cada um com o presidente e seus atos.

Direita não consegue se sentar em uma mesa de bar sem que a noite termine em briga, facada, cadeirada e ofensas gratuitas nas redes sociais. Todos se sentem especiais e não toleram bem esse lance de focar em ideias de médio prazo. E a maioria ainda lê muito jornal, e acredita nesse negócio. Daqui a um mês, sei lá, teremos de tacar dedos naquelas maquininhas viciadas que nos tomam todo o dinheiro e os repassam a bandidos organizados, e tentar escolher alguns caras que vão fazer pouco, gastar muito e no final ainda serão estressados por nao ter feito nada da vida. Mas é o jogo que escolhemos jogar. Faz parte.

Bom dia, e nada de estresse hoje, não merecemos isso!