O Fator Humano

Bom dia!

Olha, essa semana que passou foi tensa por causa da nossa nova demonstração de Apocalipse que está ocorrendo no Rio Grande. Ontem falamos muito e creio que já esteja bastante claro para todos o quão relevante é o fator humano na hora de se enfrentar uma crise, um desastre. É uma coisa que falaram ontem: A gente até acha que sabe o que fazer, mas na hora do vamos ver, trava. Quem já ficou preso em alagamento, no meio de tiroteio, passou por um acidente sabe como é complicado fazer um julgamento complexo, de abandonar suas coisas e sair, ou de reagir a um risco iminente.

Como disse, não volto no tema, pois ele será a tônica da semana, mas aqui pincelo só um aspecto. Mais uma vez percebemos ao vivo a enorme, a absurda diferença que existe, separa e limita as pessoas que vivem em um mesmo lugar, dividindo um mesmo meio ambiente e cultura. Pessoas que se abnegaram e passaram a semana toda ajudando outras pessoas, salvando, arriscando as suas vidas e seus patrimônios para fazer o que a maioria não pode fazer. Devemos sempre agradecer a quem faz o que deve ser feito, na hora mais difícil. Heroísmo é exatamente isso.

A gente sabe que existem dois tipos de pessoas. Mas na hora em que vemos o que aquelas pessoas mais audazes, mais corajosas e altruístas fazem diante do caos, percebemos que não, certas coisas e certos direitos, certos mandatos e poderes não cabem a todos. Nem todo mundo sabe lidar com o caos. Como naqueles filmes de zumbi, a maioria das pessoas simpelsmente vai virar zumbi e ponto. Vejam como a coisa flui de forma desordenada no RS, com gente esquecida nos telhados das casas, desesperada pra fugir de cidades inundadas, gente morrendo em hospital que alagou. Isso é inumano, é cruel.

Porque é cruel? Pois simplesmente não houve quem se preocupasse em salvar, em ajudar, em cuidar dos mais fracos, dos doentes. Excesso de confiança naquilo que já estava faltando, falta de decisão diante de uma crise que estava crescendo diante dos seus olhos? Incompetência, desídia, desprezo para com o risco. As pessoas que negligenciaram o risco no entorno do Guaíba esta semana são as mesmas que não cancelam carnaval no meio da enchente, ou que permitem o crescimento absurdo das favelas ao largo dos rios, e as que constróem nesses lugares e depois berram na TV clamando pelo Estado, tomado em culpado de suas escolhas.

Obviamente alegam ser culpa NOSSA. Crise climática, a culpa é do churrasco, do excesso de comida que comemos, da alface, do bolsonaro, da gasolina do carro e do inferno a quatro. Não é. Somos algum tipo especial de idiota, provavelmente. Pois quem tenta nos culpar não me diz porque há no entorno do Guaíba um muro enorme. Que foi instalado para PREVENIR ENCHENTES, pois a 80 anos atrás toda a região foi tragada por enchentes. Que aconteceram e destruíram parte das cidades do entorno do Rio. É passado conhecido.

E estas cidades foram reconstruídas, cresceram e se expandiram ao largo daquele estuário, e no entorno dos rios da região. Esperavam que nunca mais houvessem novos eventos terríveis como aqueles? Quem voa evidentemente espera que nunca mais caiam aviões. Mas eles caem. Por isso prevenimos, planejamos, criamos ciência para nos orientar, alertar, embasar decisões, explicar os fenômenos e acompanhar suas incidências. Os gaúchos acreditaram que, ou os mais velhos eram mentirosos, ou que nunca mais a natureza repetiria seus gestos descontrolados.

Mas a Natureza não é algo que possa ou deva ser controlada, e os velhos têm a História e os fatos para lhes demonstrar a verdade. As PESSOAS no passado cuidaram para proteger a cidade, as pessoas no presente foram prepotentes, desidiosas, confiantes e descuidadas. Estes descuidos, como acontece em qualquer acidente, geraram um desastre absurdo. Que não, não poderia ser evitado mas poderia ser mitigado e tratado com a devida urgência. Sacos de areia não seguram enchentes. Havia tempo para preparar uma estratégia de proteção e de controle. Haviam meios, muitos. Mas desta vez até os meteorologistas vendedores de caos do Metsul ficaram calados. Isso deve ter uma boa explicação, no futuro.

Eu repito: cuidem dos seus, cuidem das suas coisas. Ninguém liga para nós, não importa onde estejamos ou o que façamos.

Bom dia!