O Onze de Setembro, de novo

Bom dia.

Hoje é uma daquelas datas que, se você pensar bem, jamais imaginou como estaria. É coisa de praxe lembrarmos o que estávamos fazendo em 11 de Setembro de 2001. Todo mundo com mais de 30 anos lembra.

Como em algum lugar do filme daquele canadense chato, Arnaud, o Declínio do Império Americano não começa gradualmente, escorregando até tombar no chão feito caminhão carregado de de carvão mal ajuntado. Este, o evento definidor, vem de um flash. Tudo rápido e ensaiado, plasticamente preciso.  Se passa pouco mais de 40 minutos entre o começo e o fim daquela teratologia toda, o desastre absoluto, o Inferno. Holywood sempre enganou a gente.

Porque nos filmes de ação o horror, o caos, a desolação vêm em ondas, tem tempo de todo mundo correr e os figurantes de sempre sendo engolidos pela fumaça, fogo, água, lasers, gelo, etc… Há uma cinemática no inimigo que aparece, se apresenta, faz umas maldades enormes, coreografias, malemolências, arrebenta com geral e no fim, acaba tombado pela galera mais motivada e capaz jamais criada nestas terras. Há um processo de início, ampliação, clímax e desfecho. Cabe até romance e piada. O inimigo era fraco e previsível, e o herói sofre mas vence, claro.

Estávamos acostumados com a União Soviética e seus russos mambembes e alcóolatras, cubanos sebentos, egípcios corruptos, chineses mortos de fome, os vietcongues sem dente nem roupas, enfim… Sabíamos qual era a do bagulho. A gente SABIA quem eram os caras e sabia que no final, eles não levariam nada. No maximo uns abraços do Rambo. E isso, essa cultura de projetar no inimigo os nossos desejos – desejávamos que eles fossem exatamente isso, e não fossem os caras que acabariam com tudo quando o bicho pegasse – acabou gerando um engano terrível de julgamento.

Quando em 1993 a gente viu soldados dos EUA sendo arrastados e comidos nas ruas de Mogadíscio, na Somália, nem todo mundo se ligou de que algo muito ruim havia começado. E a famigerada al-qaeda explodiu uma bomba ENORME no subsolo do World Trade Center. Sinais… Os Sérvios lutando ferozmente pra existir – raça ruim que são – matando os mussumanos bósnios enquanto a OTAN tentava homogeneizar aquela bosta de Iuguslávia na marra era um mau sinal. Quando a rússia colapsa em 1997 e o Putin, ainda apenas um gangster estatal comum da KGB, chegou ao poder, algo complicado era previsível. O talibã estava implodindo budas enquanto chicoteava mulheres para fabricar novos mártires  – aquela molecada que vocês viram em Cabul semana retrasada…

Muita coisa podia dar errado, e efetivamente estava dando errado. Mas a gente é otimista e aqui na Bananaland, as coisas corriam até bem, era só as crises do caramba, a falta de energia elétrica (hoje sabemos que era fake news, mesmo), povão ruim de grana como sempre… Mas estava indo. Meio arrastado, mas indo.

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Um Boeing 767-200ER carrega cerca de 90000 litros de querosene de aviação. Decolando de Boston, pra atravessar o país em direção oeste, teria de decolar bem provisionado. Mais de 150 toneladas deslocadas. O pessoal da Al-qaeda aprendeu em 1993 que não dava pra derrubar aqueles prédios, simbolo da opulência dos EUA dos anos 1970 e 1980, por sua base. O próprio Bin Laden, engenheiro civil, entendeu e – há suspeitas fortes disso – contratou engenheiros para avaliar o projeto do WTC e entender como era o negócio. Como ele ficava de pé e como ele suportava seu peso absurdo de aço e concreto. Era um excelente projeto, ao contrário do que se falou por um tempo.

Terroristas legalmente nos EUA fizeram cursos de voo e se certificaram junto à FAA para poder voar no país. Esturdaram longamente o perfil de operações dos aeroportos próximos, jogavam horas no Flight Simulator testando modos de abordagem àqueles prédios e com quais aviões seria mais eficaz. ISso o FBI descobriu depois, claro. Descobriu antes dos atentados, sim, o comportamente estranho desses caras. Eles foram identificados e colocados sob rastreamento. Mas nada aconteceu. Os caras fizeram algumas viagens nos voos naqueles horários escolhidos. Treinaram o embarque. Treinaram a forma de usar o aeroporto. Treinaram a operação do avião escolhido – escolhido por ter peso, volume de combustível e velocidade de ataque (mergulho) alta o suficiente para sobreviver até o seu destino.

O que os EUA da época, do hoje praguejado George W. Bush perderam no processo? exatamente o que vocês já deduziram lá no começo: Perderam a crença em seus inimigos. Com aqueles inimigos clássicos estereotipados, fracos e se desmanchando no ar, ou virando alegres consumidores de McLixos da vida, do nada se acreditou que  finalmente haveria sossego. O babaca do Fukuyama até soltou aquele estrovengo falando alegremente do tal “fim da História”. Pessoal xingando os conservadores de tudo que é nome, porque agora sem inimigos, o mundo poderia (EPA!) ser mais livre, mas aberto, mais diverso, mais plural, mais social, mais isso e aquilo. A II Guerra Mundial havia acabado, finalmente.

Às 8:46 da manhã de hoje completamos vinte anos que o primeiro aviao escolhido, com os terroristas mais tempo treinados foi jogado contra a North Tower do WTC. O Avião decolou às 8h, e às 8:30 foi identificado como “sob risco”. Mesmo que se diga muito, a USNG nada poderia fazer. Derrubar o avião? Pra onde ele ia? o que faria? ninguém nos 16 minutos que separam o momento do alerta real do impacto sabia o que era exatamente aquele horror. O segundo avião decolou às 8h15. Quando houve o alerta do primeiro voo, os pilotos do segundo voo foram chamados a verificar a ação daquele primeiro voo sob suspeita. Logo em seguida, os terroristas declararam o sequestro deste voo também.

Às 9h da manhã, este segundo voo, também um 767-200ER, mas com menos de meia carga de combustível, acerta em diagonal a South Tower, em potência máxima. Menos combustível, os terroristas optaram por usar a inércia para afetar a estrutura dos prédios. E isso a meu ver é exatamente o horror absoluto: Pessoas capazes, racionais, planejando longamente um evento em que eles seriam calcinados instantaneamente, pensando em variáveis, em métodos, aprendendo conhecimentos complexos para no final, cometer uma atrocidade inominável.

Era este o inimigo que ninguém queria, e que ninguém acreditava em seu surgimento. Holywood sempre enganou a gente. Os vilões tinham pontos fracos, eram limitados, esqueciam de detalhes essenciais, eram excessivamente autoconfiantes e desatentos, e sempre fugiam quando confrontados, ou eram mortos aos bandalhões, à bala. O 11/9 (sim, a data foi escolhida a dedo) marca a derrocada de nossa sociedade ocidental como um todo. A saída dos EUA do Afeganistão, em uma hora imprópria, de forma vergonhosa e desordenada, só vem confirmar um processo lento de destruição dos EUA e de toda a cadeia de nações nascidas da cultura judaico-cristã. O marco é impactante, mas a degradação, sim, será lenta.

Bom dia, desculpe alongar muito, não tem como não ser assim!