Pequenos ditadores

Bom dia.

Esta semana eu descobri que sou um ditador. Um pequeno, daqueles bem mirradinhos, que a mãe enxota e larga no meio do mato porque não vai vingar. Mas é aquilo, ditador é ditador e sempre que aparece um, temos problemas adiante. Lamentável ser confrontado com esta realidade miserável, a uma altura dessas da vida.

Pior é saber que não sou especial, e que há montões, milhares de milhares, milhões de pessoazinhas como eu por aí. Pequeninos inséptos minúsculos zumbindo seu ódio inócuo por aí, pelas redes sociais e pelas ruas. Muitos bichinhos incomodando nossos Senhores, e isso certamente é algo mau pra caramba.

Temos um ponto: devo agradecer diariamente ao maravilhoso trabalho destes Senhores. Que diuturnamente buscam proteger nosso País, nossa Cultura e nossa Demogracinha de todo tipo de ameaças, desde as grandes, as enormes, as colossais… até as pequenas e quase inofensivas questiúnculas desse bando incoerente e ignorante, selvático, que são os insectos zombeteiros a incomodar, de leve, a pujança democrática da felicidade nacional.

São homens e mulheres bons. Sabem o que fazem e sabem quando a Lei está sendo ineficaz, insuficiente e comedida. Afinal de contas não se pode dar guarida a criminosos e escroques, falsários e disseminadores de ódio. A Lei deve ser exercida à risca, e se a lei não bastar como escrita, se façam adendos, se anotem parágrafos, se recitem métodos. Temos ótimas leis mas a gente daqui, ninguenzada que uma lata boa de Baygon eliminava, já aduziu que um Reale da vida deu mole neste e naquele parágrafos, deixando lacunas terríveis, causadoras destes excessos viciosos de liberdade individual.

Afinal de contas nao dava pra esperar tanto esmero dum Sobral Pinto, não é mesmo? O velho do divórcio não estudou em Harvard, não é elenco de palestras agradáveis e cultíssimas em Lisboa. E nossas leis acabaram assim, frágeis e incompletas. O povo do direito sabe que lei boa é aquela que é posta em vigor. Mesmo que seja de boca, consuetudinária, feita à mão em boas coxas torneadas nas escadarias do Largo de São Francisco ou na sede do PT.

Então eu, pequeno, miserável, minúsculo e quase bacteriano ditador, fiquei envergonhado, sim. Nunca me imaginei assim, tão vil e inumano, conspurcador da belíssima imagem da nossa Pátria Democrática e do vigoroso e pulsante Estado Demorrágico de Direito. Fiquei chateadão, mesmo. Achei que era melhor do que isso, mas poxa, assim como o Botafogo, não deu, a realidade me colocou no devido lugar.

Agora é ir acostumando com esta nova rotina de cuidados e intensive speech care que o gobierno que tanto nos ama irá imprimir à todos nós, serezinhos repulsivos e nojentos, ditadorezinhos, pequenos cubaninhos doidos para dar golpezinhos na nossa maravilhosa demogracinha. Aprenderemos, seremos tangidos e juntados, igual pulgas no jarro. Vai dar bom, confia.

Bom dia, né.