Rumble oferece US$ 100 milhões para ter podcast de Joe Rogan

Vamos lá.

O que mudou a sociedade foi, principalmente, o capitalismo. Que deu ao homem comum meios de sobreviver sem precisar da benesse do Estado religioso, e o permitiu acumular riqueza suficiente para pagar sua indulgência sem ter de se sacrificar diante do chefe local, do fidalgo do lugar.

A Igreja não mudou com o protestantismo, a Igreja mudou quando foi confrontada pelo capitalismo burguês. Lá nos XIX, quando se publica o Rerum Novarum, a Igreja já estava sendo despedaçada pela força do imperialismo capitalista. Portugal e Espanha passaram no fio da espada quem desafiasse a Igreja, e impuseram a Palavra nas suas terras, enormes e absolutas.

Quando os britânicos assumiram o topo da cadeia alimentar da riqueza do mundo, na era vitoriana, o que eles fizeram? primeiro, impuseram a burocracia do estado sobre aqueles coitados em seus territórios. Segundo, buscaram manter as culturas daqueles povos nos devidos lugares, desde que eles produzissem para a Coroa. Por isso a Índia floresceu naquela desordem, por isso os txáinas e boeres foram passados na bala.

Sem Igreja Católica. Ah, mas então era culpa do protestantismo, não? Não. Pois o lance e exatamente a questão do local de onde se emana a força e a justificativa, o ‘anima’ daquela empresa. PT e Espanha calçaram suas lutas e expansão na fé e busca de riquezas, bem camões, mesmo. Os britânicos não se impuseram a tarefa da fé, posto ser iluministas criam na ideia da ‘civilização’, da transformação do subhumano pela superioridade absurda do branco europeu. A fé viria a reboque como consequencia, natural e definitiva.

Agora sim, a gente começa a falar do que deu errado. Até o XVIII a familia era um conceito fortemente zuado, e a comunidade local era essencial. Sem a aceitação do grupo social local, da vila, da aldeia, do arraial, tu passava fome, morria mascando espigas de milho no pé do barranco. Formar familia, ter esposa e filhos e, não os estuprar ou matar de fome e pancada, fazer caridade, obedecer a autoridade eram obrigações reguladas pela Igreja, severamente.

Veio a Indústria, zuaram tudo, as familias vão para as cidades, trabalham horas infinitas e se afastam de uma Igreja que está focada no espiritual e se lixando para o desastre mundano – pensemos que o capitalismo inicial era brutal, tenebroso, nem preciso repisar o processo – e estes homens miseráveis não tinham lá muito o que fazer na Igreja. O trabalho, o burguês, a rotina da vida sem espaço e dinheiro ocuparam tudo, todas as brechas.

A gente já viu que a Igreja era a fonte da ordem moral. A burguesia tratou de ela mesma (franceses, uma merda) passar a produzir sua própria nova base moral e cultural, e a expor como um substituto eficaz da religião. Iluministas, socialistas, positivistas são frações desta novidade que é a primazia do burguês na sociedade. O patrão não permite que o peão vá na igreja aos domingos. E o peão aceita porque é menos pior a punição divina do que a demissão daquele emprego desgraçado. E a sociedade urbana vai mudando nesse tom aí.

E o conforto espiritual vai pra onde? pro material. Que moral era necessária quando você trabalhava até morrer, ou iria morrer efetivamente num lamaçal, em batalhas que tu nem faz ideia? Olha a América, onde haviam milhões de ex-escravos e índios que não tinham terra, não tinham lugar sequer pra ser explorados, pois sequer eram mão de obra interessante para a indústria? Esse mundo doido, onde as mulheres foram jogadas nas fábricas, e perceberam que seu esforço gerava riqueza e autonomia… feminismo, aliás, não nasce de pessoas heroicas com cartazes na mão, nasce da percepção de parte das mulheres de que era possível viver sem a mão do homem sobre suas cabeças, assumindo responsabilidades e deveres.

Nessa confusão, a virada do XX, começamos a perder essa coisa de “moral social”. Leis foram criadas à profusão (alemães bostas) para tentar regular cada aspecto da vida de cidadãos que não mais eram constrangidos pela religião a manter comportamento adequado. A violência explode no XIX e vira endêmica no começo do XX. Você não tem mais como conter pela fé, até porque a igreja já tinha dado a dica de que não ia querer mais governar os espíritos de geral, e parte considerável da população simplesmente não queria mais se submeter à fé cristã, preferindo a liberdade a la Rousseau, abraçada ao discurso dos governantes e suas megalomanias ilustradas.

A década de 1920 foi uma putaria do caramba. ali no pós IGM, o mundo se viu totalmente destruído e governado por exatamente aqueles líderes newtonianos, amorais e céticos. Essa geração é a que acabaria nos lançando em mais uma guerra e mais duas gerações de conflitos e destruição das bases culturais do mundo ocidental. Quando chegamos em 1968 e aqueles babacas ocupando universidades na França enquanto o pau estava comendo na indochina e aqui, a humanidade já estava totalmente zuada, os pais daqueles imbecis já eram céticos e alienados, cínicos em relação a sociedade.

Nós reclamamos de um mundo que já se consumiu, já se transformou, e já está em decadência.