Sul, um ano depois

Bom dia.

E cá estamos nós todos, passado um ano daquele caos enorme no Rio Grande do Sul, vendo como as coisas no final das contas mudaram nadinha de nada. Prevemos isso, era totalmente esperado, a gente sabia que seria assim mesmo. Que veríamos aquela comoção, aquele caos, e no final não se faria NADA para evitar ou consertar decentemente as regiões que foram mais duramente afetadas.

A coisa mais louca dessa história toda nem é o cavalo no telhado, as vilas eliminadas pela enxurrada, a absoluta incompetência do Estado ou as formas bizarras de reoorganização social que brotaram no meio daquele caos todo. Para mim, a coisa mais absurda de tudo foi saber que eu poderia ser indiciado pelo crime de reclamar do gobierno, exatamente pelo ue eles não fizeram, postergaram, enrolaram.

Realmente fomos testados em nossa capacidade de se emputecer. Mas pensemos que essa experiência – até hoje acho estranho nenhum daqueles grupos histéricos de meteorologia não ter avisado expressamente sobre os riscos da chuva e mais, a inércia da defesa civil estadual e dos municipios da região que fatalmente seria afetada pela enchente, diante do crescimento da chuva após 24/04/2024 – foi de fato essencial para entendermos melhor a situação louca em que nos encontramos hoje.

Eu não duvido de que a inércia do Estado em agir tenha sido calculada. Longe daquelas teses de que petistas abriram barragens, etc, claro. Creio bastante em negligência deliberada. Criar uma situação de emergência para abrir as portas do roubo e distrair a sociedade, já ficando revoltada com a inépcia geral do gobierno federal à época. E de quebra, prejudicar e subjugar um oponente político vacilante.

Creio que o pessoal do gobierno tenha subestimado intensamente a situação. Crendo ser um incidente regional que afetaria mais o interior onde a mensuração de danos é mais complicada e a população afetada é mais autônoma e consequentemente menos alinhada com os interesses do Estado, ao modo das enchentes no Taquari, se deixou correr solto o plano de contingência – que existe – para “criar caos” e assim, impor o controle sobre a região.

Lembrem que o gobierno tentou várias vezes assumir o Estado do RS, com o Ruim Costa agressivamente testando o Milk Boy, que se segurou quase que como um homenzinho, e não deu nada de importante para o petista faminto. O outro Ruim, o Pimenta, virou chefinho da “reconstrução” um tempo depois, com NENHUMA efetividade. Essa sanha em querer pegar a grana antes de fazer qualquer coisa para ajudar a população me afastou da ideia de que o gobierno seria apenas incompetente no caso do Sul. Não tem como excluir a malícia da equação.

Até porque quando o bicho pegou, a população não fez o papel esperado pelo gobierno, e foi tentar se salvar e salvar uns aos outros. Esta lição é fundamental. O Estado, quando se torna desnecessário, vai ser substituído por outras formas de organização. Os mais fortes e capazes vão assumir as tarefas de ordem e irão refazer as regras sociais. Como no meio daquele caos todo, alagado, sem energia, comida, remédio… quem tinha barco, bala e dinheiro virou líder. Nenhum liberteen poderia imaginar que a realidade seria tão diferente das brigas de tuiter.

E o povo percebeu rápido que a ajuda não viria, e correu atrás demais. Todos vimos, temos amigos aqui que se complicaram bastante neste período miserável. E é outro fato: Tem muita gente boa mesmo por aí. Os governos paralisados e as pessoas se organizando, fazendo sua parte, salvando gente e arrumando o que comer, vestir, tratar a quantidade absurda de pessoas afetadas. Todo mundo viu o gobierno ameaçando voluntários quase diariamente, enchendo o saco de quem estava ajudando de verdade.

Muita gente ajudou ali. Vimos, cansamos de ver gente fazendo trabalhos heroicos, passando dia e noite naquela merda de água imunda, pra fazer aquilo que se espera de pessoas civilizadas: ajudar o próximo, fazer o bem, evitar o caos. A gente vê nos filmes de apocalipse aquela desagregação social e vê como algo que é ficção pura, afastada da nossa realidade, até uma situação louca dessas acontecer. E não sabemos exatamente a nossa reação diante do caos. Neste caso a enchente foi um aprendizado enorme.

Enquanto o gobierno debatia e acusava o biroliro por sei lá que tipos de coisas relacionadas ao IBAMA (?), o povo a dias na enchente recebendo muita ajuda de pessoas e muitos problemas do Estado. Imagine o gobierno, no meio do caos, pedindo carta náutica pro voluntário com seu barquinho, no meio de uma encente devastadora? Isso aconteceu e depois, foi devidamente classificado como “fake news“. Exército inepto e atrapalhando? SIM, é “fake news“. O empresário está ajudando livremente a população de lá, ao invés do Estado heroi dos pobres? “fake news“.

Não importa se você estava vendo, ou se seus amigos lhe contaram ou se você mesmo estava no meio do caos, fazendo alguma coisa. Os canalhas a serviço do Estado estavam diuturnamente camando de mentirosos quem criticasse o gobierno. E ameaçando. E chamando de extrema isso e aquilo. E os ladrões saqueando as casas, as pessoas, o Orçamento. Problema mesmo para o gobierno eram os vídeos da galera reclamando e os militares magoados, chorosos porque não eram respeitados – porque eram ineptos.

E no meio do caminho, já estva formada a máquina do roubo e da fraude.

A pandemia nos ensinou a não confiar no que o Estado faz a nosso respeito. Essas enchentes demonstraram que realmente o Estado não pretende nada de bom para nós, se estivermos no caminho de seus interesses ocultos. E que somos nós mesmos os responsáveis por nossa proteção caso algo mais complexo aconteça. Parece surreal mas já presenciamos exemplos de como é perigoso esperar que a “sociedade organizada” funcione por si só.

E a gente vendo a globo se lixar para o caos pra não atrapalhar o show da Madonna. Não a toa o boner quase apanha ao vivo quando resolveu botar camiseta preta e fazer cara triste ao vivo em Porto Alegre. E que no geral, era melhor ser bicho do que gente. Pelo menos tinha comoção, né.

No final das contas é Deus e a gente, mesmo. E no Sul? um ano passou e muita coisa foi ajeitada, o povo não parou a vida. Mas as promessas do gobierno? essas, esquece. Nem o trem voltou a circular pro interior, até hoje. Nem uma fração das casas prometidas foram entregues, e com fanfarra. O Velho da Havan vira governador amanhã, se quisesse, tamanha é a imagem positiva dele e de outros empresários do Sul atualmente. E o Milk Boy virá candidato à presidente. E os gaúchos vão votar nele, certeza. Deus cuide dos gaúchos, porque eles são um povo azarado.

Bom dia!