TIMEO TENEBRAS

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“Nos tempos primitivos, os distintos centros populacionais eram virtualmente autossuficientes, vivendo da produção das fazendas próximas. Nada, exceto uma catástrofe imediata, uma inundação ou uma peste ou quebra de safra, podia prejudicá-los. Conforme os centros cresceram e a tecnologia avançou, catástrofes localizadas podiam ser superadas valendo-se da ajuda de centros distantes, mas à custa de tornar interdependentes áreas cada vez maiores.

Nos tempos Medievais, as cidades a céu aberto, até as maiores, podiam subsistir com provisões de alimento e suprimentos de emergência de todos os tipos por pelo menos uma semana. Quando Nova York se tornou uma Cidade, podia sustentar a si mesma por um dia. Agora, não consegue fazer isso nem por uma hora. Uma catástrofe que teria sido incômoda há 10 mil anos, grave há mil anos e crítica há cem anos, agora com certeza seria fatal.”

Bom dia!

O Viking trouxe um pedacnho de um texto do Azimov esta semana, falando sobre como nossa sociedade moderna seria delicada, frágil em relação aos riscos inerentes à construção de uma sociedade organizada, atual. Como o nosso parceiro Esparta lembrou, o texto é uma falácia em si, mas isso não tem problema – é ficção e a ficção não está aferrada à realidade somente no que é correto. Para criarmos enredos, precisamos replicar os maus julgamentos da vida real, dentre eles, essa ilusão de que o homem moderno é mais “frágil”.

Nesta semana a peninsula ibérica passou um perrengue enorme, com a “descivilização forçada” da galera. Sem muitas teorias, basicamente o excesso de ESG e sustentabilidade mataram o sistema elétrico da região. Nada de russos, HAARP, essas coisas. Basicamente o pessoal num dia bastante quente e mormacento de primavera sobrecarregou o sistema – mormaço basicamente é calor, alta umidade gerada por uma massa de ar quente que ára sobre determinada região. Menos luminosidade e vento geraram a pane no sistema de enrgia ambientalmente responsável do povo lá.

Sem luz, água, transportes, serviços básicos, comunicações… todo mundo à toa em casa no meio de um calorão da peste, abafado e caótico. Sim, os gajos e os castelhanos receberam um dia de Belém do Pará na Europa. Mas dizer que estes episódios são o futuro, é outra coisa bem mais complexa. Os europeus fizeram escolhas e naquele momento, foram vítimas delas.

Espanha e Portugal têm a peculiaridade de não usar energia nuclear – PT nunca usou e o espanhistão está desligando suas duas últimas usinas. E atualmente lá o grosso da energia consumida é produzida por energia eólica e solar. Quer dizer, no caso espanhol metade da energia do país é “renovável” e, portanto, sensível a estas variações e chiliques climáticos, no limite com um apagão grave e inesperado.

No entanto, em absoluto o madrilenho que ama mandar bananense pra casa em Barajas viveu uma experiência “medieval” por um dia. Mesmo em um caos completo redes celulares e o afamado Starlink funcionaram, redes de comunicações privadas se estabeleceram e ora essa, pessoas e governos tinham meios e mecanismos para controlar a situação – pelo menos por uns dias – e conseguir evitar uma desolação maior. Estava tudo desordenado mas não havia a tal desagregação social, temor absoluto do estatista médio.

Pensemos no Sul, ano passado – semana que vem falo explicitamente sobre isso – quando aquela enchente desgraçada literalmente jogou uma das regiões mais organizadas e civilizadas do país em um tipo de caos inimaginável, surreal e apavorante. AQUILO LÁ é o caos que o pessoal tanto torce para acontecer em países ricos e civilizados. Todo mundo lembra o que os gaúchos passaram naquele mês inteiro de maio. Aquilo sim é o caos, a barbarização da sociedade, a reorganização da comunidade em novos arranjos locos de guerilhas, saques, salvamentos, caça a criminosos, vigília pelos pertences e mortos, e o Estado CAGANDO para o problema e para as pessoas.

Esse negócio ibérico foi de boa. Um, dois dias de desordem e eles têm toda a Europa ao lado para lhes auxiliar. Têm recursos enormes, infrastrutura de porte. Gente qualificada para resolver problemas técnicos complexos – em SP a Enel demora dias pra religar energia em um bairro, imagina uma cidade… – e uma população minimamente educada impedindo a autodestruição social imediata.

O “medo do Escuro” é um troço real, mas no caso ali não tem um fundo tão gravoso. Europeus tomaram um susto enorme, mas em par de dias tudo está no lugar de novo, e novos reforços nos sistemas integrados já estão sendo planejados – claro, sem haver uma crítica sequer à estupidez ibérica de não se manter energia nuclear como becape interno, como o Francistão faz a décadas, se lixando para a patota ambiental da Europa.

Bom dia, e não se animem muito não, não estamos muito melhores…