Um País, dois Problemas

1) Pode ser que parte desse potencial chinês que os vermelhos comparam ou igualam aos EUA pode ser falso. Será que nesse regime não falsificam dados como no Brasil para ficar bem na foto? 2) Quanto de pobreza e comunismo tem na China ainda? Será que a maioria dos chineses ainda vivem mal? Dependem do governo para sobreviver? 3) No mundo atual dificilmente alguma nação teria essa autonomia para manter-se independente do comércio internacional?

1: Sim, boa parte destes dados que lemos sobre a Txaina é falso mesmo. Simplesmente porque não é possível mensurar riqueza em uma sociedade onde o Estado é o ente centralizador da economia. Se o Estado emite moeda, lastreia dívidas, realiza investimentos em todas as áreas da sociedade e cobra impostos, além de ser o gestor da iniciativa privada e o operador único da economia, é impossível saber com exatidão o que é riqueza efetiva ali.

MAS é inegável que a Txaina tem um potencial absurdo de gerar riqueza. Mão de obra baratíssima e cada vez mais capacitada, uma infraestrutura que cresce violentamente sem a preocupação chata com custos gerais ou exigencias orçamentárias – já que lá não existe cálculo econômico – e recursos naturais que, se não são abundantes, permitem a existência de um parque industrial bastante complexo e calçado em uma estrutura de conhecimento extensa e até bastante refinada.

2: A gente lembra que no começo dos anos 1990 a revista Manchete publicou um documentário enorme sobre a Txaina. Vendiam o VHS, era uma coleção. “O Império do Meio” e “Um país, Dois Sistemas”, coisa assim. Descrevia o volume e a intensidade das “Quatro Modernizações” que o líder do PCC deles na época, Deng Xiaoping, impôs ao páis naquela era, e que é o modelo atual do país.

Este esquema é basicamente o sonho de muita gente por aqui, literalmente: Um “muro” social que separa firmemente dois mundos: um, onde há uma maioria rural, apartada da riqueza do trabalho capitalista, e que vive no interior com enorme controle social, e totalmente dependente do Estado. Neste interior as cidades são menores, toda a comunicação é bastante segregada e há a necessidade, por exemplo, dos “social score cards” digitais para por exemplo pegar um trem para outra cidade mais distante do que o perímetro da sua região natal.

Ali é roça, pensemos no Nordeste brasileiro. População menos escolarizada e produzindo baixo volume de excedentes que é liberado para comércio. Aqueles videos de churrasco de cachorro e cidades imundas, parecendo cenário do Blade Runner são desse interior. NEste interior estão os problemas com os uigures mulçumanos e os cristãos católicos/evangélicos, por exemplo.

E há o “outro mundo”, o das grandes cidades no litoral, os enorme pólos industriais que aparecem como quadradinhos de mato no google maps. Cidades enormes e ricas, num luxo estético cafona que parece falso de tão exuberante. Estas cidades são na maioria seculares, mas viraram centros de geração de riqueza quando o PCC de lá, depois de ter banido e matado a galera do Mao, resolveu desesperadamente buscar fazer a Txaina se industrializar olhando o Ocidente como modelo.

Foram criadas as ZEEs, Zonas Economicas Especiais, na virada para os anos 1980. Nestas o Estado intervém menos, subsidia a infraestrutura e não decide o que e como os bens serão produzidos, e cobra impostos sobre a riqueza gerada à moda ocidental – quer dizer, ali existe alguma forma de accountablity, digamos assim. Uma Foxconn ou xiaomi em tese têm dados financeiros mais sólidos do que uma empresa do interiorrr da Txaina, exatamente por estas possuirem estruturas de organização ocidentalizadas, até na parte dos custos e investimentos.

Estas ZEES são a parte mais visível e próspera da Txaina. Ali há um mimetismo grosseiro com a cultura ocidental, e dali nasceu boa parte dos novos ricos chineses. Um Jack Ma não existiria na Txaina se a produção de bens para suprir o Ocidente a baixíssimo custo e qualidade não crescesse ao ponto de empresas de logística como o Alibaba fossem criadas exatamente para fazer a “ponte” entre o Ocidente e a Txaina. Estes novos ricos são uma inflexão, pois o PCC os monitora duramente para evitar “excessos de capitalismo” mas não os prejudica pois estas empresas fazem jorrar moeda forte nos caixas do PCC chinês.

Taiwan é outro aspecto. A China nunca aceitou sua soberania mas nunca impediu o florescimento de sua economia. Hoje Taiwan é a fonte de boa parte do desenvolvimento tecnológico chinês, e o PCC usfrui indiretamente deste ganho enorme que o pessoal de Formosa produz. A Txaina diz que vai zerar aquilo lá, mas é bem complicado. Hong Kong é chinesa a quase trinta anos e ainda não é nem parcialmente controlada pelo PCC, exatamente devido ao fator grana.

3: A globalização tem essa característica estranha. Dificilmente um país conseguiria sobreviver 100% isolado, e ao mesmo tempo ter condição de prosperar, gerar riqueza e se manter neutro. Talvez países pequenos como uma Finlândia ou um Qatar, mas nações estruturadas? difícil… Digamos que não é mais possível este tipo de “insulamento econômico”. Países como o Brasil exportam muita riqueza excedente, e isso afeta diretamente o planeta inteiro.

A Rússia está se virando com toda sorte de embargos mas ela têm internet e comercio exterior. A Coreia da Morte se vira porque a Txaina considera barato manter aquele bando de passa fomes como seus amigos. Cuba finge estar isolada mas vive dos dollars dos exilados cubanos em Miami. Pensemos na merda em que os venerruelanos estão neste momento… a vida de quem está fora do mundo globalizado é bem ruim.

Enfim, resenha longa! Qualquer coisa fazemos outra maior ainda!

Bom dia e bom fim de semana!