Um tópico de CINEMA!

Bom dia!

Foi lá trás o tempo em que o povo podia ir desencanado no cinema. CLARO cinema sempre foi caro mas ou você simplesmente esperava a boa vontade da Globo em passar aquele filme maneiro VINTE ANOS DEPOIS de seu lançamento, ou não assistia, e se contentava muito em ler crítica azeda da Barbra Heliodora no caderno de Cultura do JB e saber que ao menos o tal “filme maneiro” existia de fato. E isso já faz uma boa fileira de anos.

Eu não ia a cinema quando era moleque, não tinha como. Afinal de contas, cinema era barato, mas a gente era mais barato ainda. Pouca grana para salas ruins demais ou distantes de casa, não tinha esse negócio de shopping legal e aplicativos que aceitam cartão – nem cartão tinha, direito… Povo ia a cinema só quando era um evento, uma situação pontual feito visita de parente bonzinho… não foi meu caso, claro.

Mesmo assim qual foi a comoção ABSURDA quando a galera foi em peso, maciçamente e desesperadamente assistir Titanic? Passava matéria do filme em todos os canais de TV, todos os jornais, era uma febre absoluta, tipo obrigação social do cerumano ir lá na casinha pra ver o bendito filme! Ninguém mais tolerava ouvir Celine Dion! Se você LER “filme Titanic” o refrão da moça aparece imediatamente em sua mente, pode conferir.

Mas eu era, lá nos meus quase vinte anos, “imune”, nem a pau fui ver essa joça de filme. Môça foi ver, viu umas cinco vezes nessa época doida de primeiros filmes full-marketing, e até hoje adora, a geração dela AMA esse filme. Mas a gente volta lá atrás e vê que caramba, é um filme fantástico, é uma epopéia de cinema. Tem todo o apelo de mídia mas é um FILME mesmo. Tem uma história boa, tem ótimos atores, cenários absurdamente bem construídos, o impacto visual é excepcional. Tu vê três horas de filme e pensa que seu tempo foi bem gasto.

Lembro quando fui ver o lançamento do Apocalypse Now Redux no cinema. Esse foi daqueles filmes que assisti quando era moleque, depois de passar duas semanas esperando a maldita da Bandeirantes cumprir sua palavra e exibir de madrugada a versão original e toda recortada. Assisti tomando um bule de café, pra me manter acordado, com 15 anos eu estava vendo na TV um filme essencial. Quando o Coppola anunciou a “versão estendida”, foi quase pessoal, precisei ir no cinema, era uma questão de honra.

E fui no Odeon, ali na Cinelândia. Cinema ótimo, nada a ver com o cinema antigo pois havia recebido uma grana enorme da BR pra virar centro cultural. Com a crise dos governos do PT a BR abandonou este tipo de projeto. MAS fui ver lá, e a sensação de rever o filme foi maravilhosa. CINEMA, sabe. Você senta, vê aquelas propagandas com um som estúpido de alto a luz apaga e o filme passa sem tu ficar preocupado com o contexto, a ideologia dos caras do roteiro, o personagem feminino que dá o play no textão a cada 45 segundos, os LGTV4KDisnei+ fofinhos e heroicos falando alguma merda de socialismo…

Cinema de verdade é a arte das coisas bem-feitas, você senta lá, vendo o filme e vai lembrando de como os desgraçados ferraram o meio ambiente das Filipinas queimando pneu pra dar aquele clima de “black fog”, o Fishburne menor de idade de coadjuvante, Martin Sheen quase morrendo de enfarte, e o Marlon Brando fazendo seu filme pessoal e se lixando pro roteiro, a equipe gravando as cenas do jeito que o cara resolveu fazer e o Coppola fazendo joinha no final. Um bom filme tem uma boa história por detrás dele.

E eu posso contar pequenas histórias de trocentos filmes legais, ruins e marromenos. Impossível um filme bom não ter histórias complexas no seu entorno, em seu processo criativo. São coisas naturais, pois são resultado do rigor do bom trabalho. Claro que a propaganda ajuda bastante na difusão dessas histórias e desta cultura, meio de forma artificiosa. Ainda hoje é preciso se criar místicas, fatos, lendas sobre os filmes que se pretende fazer chegar ao sucesso.

Mas hoje eu não vou mais ao cinema, não curto mais o evento. Fico com os filmes e as histórias, não tenho mais saco pra ir ver filme em shopping. Espero sair em algum app, e pronto. Acho que não vale mais a pena e nem sei se a geração do meu Menino irá curtir esse negócio – um ds pontos cruciais do videogame é exatamente a incapacidade de se construir naturalmente uma história além do produto, e a galera que entope a internet de vídeos está sempre deseperadamente tentando fixar a sua história “como” produto.

Passou o tempo, né? Ou não?

Bom dia!