Um turista brasileiro na Coreia do Norte

Oi Galera.

Hoje vou contar um pouco da minha história na Coreia do Norte.

Primeiro gostaria de explicar que como qualquer viajante apaixonado pelo nosso mundo maravilhoso, gosto também de ir a lugares que nem sempre tem uma boa reputação, fora da minha zona de conforto e para mim isso é pessoal de cada um. É muito mais fácil você entender como algo funciona quando você vive a experiência.

Fiquei uma semana e me abalou um pouco psicologicamente.

Ainda que antes de viajar para a Coreia do norte, assisti alguns documentários, li sobre e também havia cruzado com pessoas que já haviam estado lá, eu sabia que seria uma experiência bem forte.

Mas tenho que confessar que por todos os lugares onde passei por esse mundão jamais havia visto algo parecido.

Não sou de criticar nenhum país que já visitei, acho TODOS incríveis da maneira que são, mas a Coreia do norte não tem como jamais havia visto ou sentido algo parecido. Um sentimento de impotência e perplexidade com tudo que acontece lá.

Parece que roubaram a alma das pessoas, me desculpem profundamente por dizer isso.

Somos muito abençoados por na maior parte do tempo ter o direito de tomar decisões em nossas próprias vidas, sendo elas ruins ou não.

Pois existem pessoas que não tem nenhum direito.

Essa é minha opinião, e respeito a opinião de todos.

Você precisa contratar um tour com uma agência autorizada pelo regime Coreano, eles organizam tudo.

No meu grupo éramos cinco, eu meu amigo da Alemanha, um Belga e dois rapazes de Singapura.

Tinham três pessoas para tomar conta de nós cinco 24h por dia. O motorista, uma guia e um guia. Não podíamos sair dos hotéis. Sempre que íamos no lobby do hotel um deles estavam lá, isso de manhã e a noite.

Todos os dias disfarçadamente mas nem tanto, o nosso guia nos tocava para ver se tínhamos algum microfone em nosso corpo.

Se pedíamos para ir ao banheiro eles nos acompanhavam e ficam do lado de fora.

No começo do tour perguntamos se eles haviam saído da Coreia do Norte e eles disseram que sim, mas no ultimo dia eles nos contaram que jamais haviam saído de lá.

Existe um cronograma que devemos seguir, na maior parte do tempo são museus exaltando os ditadores, alguns não podíamos tirar fotos pois as histórias contadas dentro dos museus não são as que conhecemos aqui fora.

Eles levam os norte-coreanos lá e é como uma espécie de lavagem cerebral, afinal eles não tem informações sobre o mundo exterior.

Os lideres, tanto os que já morreram quanto Kim Jong-un (atual líder) são DEUSES e dá pra sentir até em uma simples olhada para o lado o medo de estarem desobedecendo as regras do regime, algo muito forte de ser visto e vivido.

Todos levam um pin no peito com a foto dos lideres, perguntei se era obrigatório e minha guia disse que não, mas na verdade não vi ninguém sem.

Quando vai anoitecendo, ficamos quase que no escuro total. Mesmo na capital.

Quando viajamos pelo país, em todas as estradas nos paravam e a guia tinha que mostrar alguns papéis aos soldados. Perguntei o porque de sempre que nos paravam ter mostrar os papéis e ela me disse que eles estavam fazendo um controle de velocidade. Mas na verdade eram controles para saber se tínhamos a permissão de passar daquele ponto, sendo assim imagine que as pessoas ali não conseguem sequer sair da suas cidades e as vezes bairros, pois tem soldados por todas as partes. Muito triste.

Um dia pedimos para não ir a um tour de um dos museus, pois queríamos caminhar um pouco no centro da capital Pyongyang, depois de nós cinco insistirmos eles aceitaram, descemos da van e literalmente cruzamos a rua andamos duas quadras e voltamos para o carro.

As vezes que fazíamos perguntas sobre o regime eles mudavam de assunto, ou quando passávamos pelas estradas e pessoas de todas as faixas etárias estavam trabalhando na chuva, eles começavam a falar de algo e fazer perguntas para desviar a nossa atenção do que estava se passando do lado de fora.

Vi muitaaaasssss pessoas trabalhando nas lavouras em condições horríveis, era de partir o coração.

As pessoas pareciam zumbis. Não generalizo pois algumas pessoas dependendo da situação foram gentis. Mas sempre se não haviam muita gente por perto.

Tudo, absolutamente tudo controlado.

Nos museus que visitamos, eles pediam para que deixássemos mensagens sobre o que estávamos achando, mas sempre que escrevíamos algo que não fosse em Inglês eles pediam para que traduzíssemos para ter certeza de que havíamos escrito algo que não fosse contra o regime ou alguma crítica. Nem eu nem meus amigos tivemos coragem de escrever nada em contra. Escrevíamos que era muito interessante o tour e a visita ao país.

A Coreia do norte segundo a organização repórteres sem fronteiras é o único país do mundo onde o acesso à Internet é inteiramente proibido, sendo somente autorizados alguns participantes da elite do governo norte-coreano. Fazendo a Coreia do norte ser um dos países mais isolados do mundo, limitando o acesso da população à informação externa.

Estimativas sugerem que o número de usuários que acessam a internet na Coreia do Norte não passa de alguns milhares de indivíduos, sendo essas pessoas da elite governamental e estrangeiros. Existem em torno de 20 mil habitantes autorizados a usarem celulares, imaginem 20 mil em um país com 23 milhões de habitantes.

Se quiséssemos mandar um email tínhamos que usar um computador de algum dos hotéis, mas o email tinha que ser o deles. Não podíamos acessar o nosso particular. Sendo assim eles controlam qualquer coisa que você turista envie.

Existem vários lugares que não podíamos fotografar para não mostrar a realidade do país.

Pessoas trabalhando de dia e de noite com as mãos pelas ruas e lavouras, desde crianças até idosos, durante o dia inteiro (acredito que muitos a vida inteira).

As vezes perguntava o porquê de as crianças não estarem na escola e minha guia me dizia que estavam de férias e estavam acompanhando os país. Mas logo em seguida nos levavam em uma escola que parecia fabricada somente para mostrar para o mundo exterior que eles têm um ensino de qualidade. Como tinham crianças em escolas se eles estavam de férias?

Quase todos as vezes que fui a escolas, chorei um pouco escondido, pois é muito difícil imaginar um futuro para essas crianças.

Bom, sai de lá um pouco abalado pois como ser humano jamais desejaria uma vida dessas a ninguém.

Tentei aproveitar ao máximo a experiência pois não vou a nenhum destino para estar triste. Fui brincalhão com meus guias a maior parte do tempo para quebrar o gelo pois era muito tenso, mas as vezes era impossível e não conseguia disfarçar o que estava sentindo.

Eles me disseram que jamais haviam conhecido alguém tão positivo como eu, disse que isso era do povo Brasileiro. Mas muitas vez fui brincalhão por medo.

Fica uma lição, agradecer pelas coisas simples e o mais importante a nossa PRÓPRIA VIDA.