Uma cidade (meio) tranquila

Bom dia.

Sinceramente não entendo a surpresa dos nossos amigos em relação à violência na cidade do Hell de Janeiro.

Eu tenho de ser meio simplista pra afirmar que não é bem assim, e ao mesmo tempo SIM, é assim mesmo que o negócio funciona. Essa semana aí, pessoal foi constrangido a ver um espetáculo fulminante de barbárie sangrenta seguido de um sueco processo de resolução, identificação de causas e resolução de conflitos, tudo isso realizado de forma privada, longe das garras do Estado.

Pois bem, é isso: O país todo sofre sob esse estado irracional de violência, não é só aqui que essas coisas bizarras acontecem. Mas aqui a coisa sempre toma ares de desastre porque no Hell tudo acontece em qualquer lugar e hora. As cidades mais violentas do país não estão no RJ. Nem as em que ocorrem mais crimes – exceto Belford Roxo, porque lá é o caos. O problema é que em uma São Paulo os crimes são mais concentrados em regiões, numa fortaleza a periferia tem indices criminais muito mais intensos do que a Capital.

A tal “mancha de violência” é perceptível, tem os bairros onde não dá pra ir de qualquer jeito, hora… toda a orla de Belém é tomada pela Facção do Norte e lá tem guerra toda semana, mas o turista vai no ver o peso de boa. Há essa distinção. No sul tem as Vilas e os vileiros e seus bairros mais violentos e um ou outro corre nos bairros mais ricos. O proprio Estado estabelece estes limites.

No Hell de Janeiro, não tem isso. Porque aqui todo bairro é vizinho de uma favela. Toda favela tem tráfico e milícia. Todos os grupos de traficantes e milicianos brigam entre si. E entre eles, está a população de fora desse lixo todo. Não falo de quem mora na favela porque quem mora na favela é parte do problema, não vítima dele. Mas a população que está fora da favela, que vive nos bairros e condomínios, esta sofre com todos os conflitos que estes bandos arrumam diariamente.

Os médicos lamentavelmente mortos na Barra nunca iriam imaginar que na BARRA DA TIJUCA, região mais rica da Capital e a mais segura, mais turistável, poderia haver risco dessa magnitude. Os caras esperam um assalto, um arrastão, uma briga de travestis, mas não iriam imaginar nunca uma fuzilaria feita por traficantes assim, cara limpa, na beira da praia. Mas a CDD e seu pólo gerador de traficantes fica a 15 minutos de carro daquele ponto ótimo da Barra. A gente nunca iria imaginar mas a gente até pensa na possibilidade.

Repisando: O Hell de Janeiro não é a cidade mais violenta do país em numeros absolutos. EU moro em uma cidade mais violenta do que o Hell e não tenho fração do medo de andar nos bairros mais cabulosos da Capital. Eu NUNCA entro em favela, JAMAIS. Só que temos mais de 200 favelas e a cada esquina errada você e sua família podem cair em uma delas. O problema aqui não é ter ou não violência, mas o caráter aleatório de seus eventos, e a possibilidade REAL de acabarmos no meio de um deles.

E nem vou entrar mais no assunto “justiça sueca”, de tão bizarro e mal contado que é. A direção do presídio comunica a imprensa que os traficantes fizeram videoconferência para avaliar a situação, identificar responsáveis, dar encaminhamentos e depois de as equipes de campo ter recuperado os culpados, promover a ação resolutória e a execução dos caras que cometeram “lamentável equívoco”… tudo online, virtual, parece o STF… deixa pra lá.

Bom dia!