“O Homem com uma Missão”

Bom dia!

A gente sempre fala muito desta questão de termos a tal da “missão”. Assunto de coach, pastor no culto, esporro de familia… essas coisas. Estava pensando nisso.

Na verdade a maioria das pessoas irá morrer sem achar aquela missão real, aquele negócio que a motiva de verdade a trabalhar, estudar, debater, se esforçar. E isso é um fato natural que nem carece de ser muito debatido, ou justificado. Apenas a maioria das pessoas viverá suas vidas de forma até muito boa e exemplar, sem achar aquele leitmotiv, aquele objetivo essencial pra existir.

Não sendo vidas vazias, serão vidas um pouco capengas, sempre no tal do “devir”, de vontades infinitas e nunca realizadas, as grandes e as pequenas. Obviamente não dá pra todo mundo querer viver seus sonhos, e nem é disso que falo. Falo daquele real motivo de existir, mesmo, aquele objetivo que move a pessoa. E tem a galera que pira no processo e joga tudo pra cima, chuta o balde e vai viver sim na mediocridade absoluta.

Pesoas que sim, viverão buscando motivos variados para se viver se apegando em um ou outro assunto, pessoa, crença até que se esgote o interesse. Aí se dá o conflito e as pessoas abandonam este foco escolhido e tentado, vão buscar outros novos focos de ação, de desejo. E dá-lhe conflitos pessoais e separações, demissões, fugas e mudanças forçadas. Gente que de descontrola e arrebenta com a vida dela e de quem mais estiver à sua volta.

Vivemos em um tempo de enorme liberdade. Eu estava pela semana num trem, indo para o trabalho. Vi umas meninas vestidas meio de cosplay de sailor moon, meio funcionária do Burger King, indo provavelmente ao trabalho e poxa, nem as julgo por andar meio ridículas por aí. Elas ainda podem livremente fingir que têm um estilo de vida e que aquilo corresponde aos seus anseios, tal. Sendo jovens, nenhuma carga moral lhes é imposta, atualmente.

Estamos vendo mudanças importantes. A nova geração, esta dos anos 2000, não quer se prender a este tipo de ideia, a de “ter uma missão”. Preferem aderir a “pautas” e brigar – sempre virtualmente, salvo minorias aguerridas – por ideias de aceitação universal. A molecada não defende LGBT porque gosta, meramente o faz por isto gerar mais rápida aceitação e absorção social. Menos conflitos é igual a mais paz social e mais felicidade.

Brigar contra aquilo que discordamos, defender princípios, proteger ideias essenciais só faz sentido quando temos uma baliza no qual nos apoiamos. Se você não tem objetivos, não tem uma “missão” definida na sua cabeça – nem que seja comprar um Opala 1978 coupé creme – e não age como ator desta missão, não há sentido algum em brigar contra qualquer pessoa por qualquer motivo.

Vivemos num mundo em que todos estamos ficando um pouco desesperançados e tendemos à apatia, ao desprezo para com o conflito. Eu digo: é um risco, o risco que a nossa geração preferiu não correr quando era jovem, ao acabar virando meio niilista. Mais diversão, menos fé, menos família, mais balada e beleza, mais cultura e menos conhecimento. Nós fomos o pessoal que achava bonito destruir coisas velhas em nome do novo. Os novos que estão por aí não tiveram a oportunidade de ver o antigo pois já o pichamos e depredamos.

Estamos pagando o preço das escolhas de nossos pais, que achavam injusto punir seus filhos pelas suas faltas e admitiam erros e entendiam a falta de aspirações e sonhos como “culpa pessoal”. Nossos pais viam nosso fracasso e achavam que a culpa era deles, maldita psicologia dos anos 1970 que passava todo dia na TV, e evitavam nos pressionar por foco, por metas, por objetivos. Viramos o que deu pra ser, o possível diante da desordem, e criamos nossos filhos sem a noção de meta, de foco, de esforço para alcançar objetivos.

Negócio é que sim, a qualquer momento qualquer um pode encontrar sua “missão”. Mas está cada vez menos “necessário” se fazer isso, diante de uma sociedade que odeia o sofrimento e a vitória com esforço pessoal. Estamos diante de um problema grande e sim, quase insolúvel. Eu não queria ser o professor dos filhos desta molecada de vinte anos de hoje. Não tenho afinidade com cachorros e gatos.

Vocês têm uma missão?

Bom dia!