Novamente o “Setembro Amarelo”

Bom dia! 

Este texto é de setembro de 2019. Lá eu já batia na tecla de que não dá pra levar a sério qualquer coisa dessa manada woke dos infernos que nos assola. E a gente sabe que o negócio da indução é sério, tanto que tivemos exemplo recente disto. Aí repasso, só ajustei os links e umas citações. A gente raramente erra essas coisas!

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Bom dia!

Hoje vou voltar a um assunto que estávamos comentando assim, an passant: A história recente e anualizada do “setembro amarelo” e toda a questão sobre suicídio. Realmente há muita desinformação e muitos problemas em relação a um debate razoável a respeito do tema, até por conta de haver o temor, fundamentado, de que falar de suicídio “chama a coisa”, isto é, estimula pessoas  (predispostas?) a cometer atos radicais, a atentar contra suas vidas.

Mas esse lance de setembro amarelo é novo, é recente. Quando falo “novo” é de trinta anos para cá, claro. Campanhas de conscientização para doenças se valendo de simbologia básica são comuns, todo mundo conhece e ouviu falar por exemplo do Outubro Rosa, para divulgação das medidas de prevenção ao câncer, por exemplo. Do mesmo jeito, o Setembro Amarelo serve para a divulgação das ações e ideias para se prevenir o suicídio.

Todo mundo lembra ou conhece o CVV, Centro de Valorização da Vida, presumo. É uma proposta anterior e dele nasceu esta ideia. No site do projeto consta exatamente a raiz da minha imprecação contra o movimento – longe de o achar estritamente ruim – numa frase na página principal do projeto:

“A ideia é pintar, iluminar e estampar o amarelo nas mais diversas resoluções, garantindo mais visibilidade à causa”

Exatamente. Em tempos complexos como os nossos a ideia de “prevenir suicídios” vira uma “causa”, algo a qual todos podem aderir. E tome textão sem graça em primeira pessoa nas internetes da vida, falando de desejos de morte, angústias e no final aquela frase demolidora do naipe “Copiei isso na internet, se você é meu amigo compartilhe”, etc… Eu sempre me incomodava com isso pois não tolero a pieguice como método de debate de qualquer assunto sério.

A mídia vem há tempos trazendo ao seu universo de entretenimento dezenas de citações ao suicídio, coisa sub-repetícia, quase todos os produtos de mídia de sucesso tem algo do tema no meio. Desde games a filmes, livros, música, sempre há aquele caco para lembrar do tema, do “setembro amarelo”. Obviamente o tema é parte da sociedade e a cultura irá reagir reflexivamente a isto, espelhando aquilo que é relevante, notável em cada momento da história deste ou daquele grupo social.

Aí entra o problema do mimetismo social.

Existe um troço chamado “efeito Werther“. Werther, de Goethe, a peça que retrata os “Sofrimentos” do jovem que por culpa de amor, ingenuidade e outros sentimentos complexos (pensem no jovem de hoje sofrendo…), acaba por tirar sua vida diante da impossibilidade de mudar seu destino ou seus desejos. Clinicamente exemplificando é “o termo designado pelo sociólogo David Phillips em 1974 para definir o efeito imitativo do comportamento suicida”.

Então meu argumento chega ao ponto principal de meu questionamento: Sabemos que suicidas tendem a buscar principalmente visibilidade, cuidado, atenção, nas suas tentativas de tirar a vida. Fatores como doenças neuropsicológicas, uso de drogas, depressão, traumas recentes acabam por influenciar bastante no surgimento de novos casos. E a raiz do drama do suicida é exatamente a sensação de abandono, imutabilidade da vida, “fracasso”.

E vocês têm o Instagram, Facebook, toda a cultura de massa eletrônica ao mesmo tempo mostrando universos lindos e maravilhosos coalhados de gente feliz e próspera, satisfeita, num fundo róseo e cheio de sororidades, igualdades, liberdades imensas, mostra horrores interminaveis, aquecimentos globais e a estupidez da violência, a finitude da juventude e o que vem depois disto, a gradual e crescente dificuldade de os mais jovens se adequarem à vida adulta em um mundo cada vez mais descolado de alguma realidade objetiva, desamarrado de uma origem, de uma base cultural. Gerações de pessoas literalmente jogadas no mundo.

E temos a propaganda do Setembro Amarelo. Que fala de suicídio. Que era um tema banido da mídia, segregado. Aliás, ainda o é, mas com menos cuidado, atualmente. Não se publicam fotos de suicidas. Não se descrevem suicídios (jornais dos anos 1960, 1970 faziam bastante isso), ou sequer se mostram os locais onde ocorrem, e como ocorreram. Tudo pelo temor da repetição. Pois uma nota de suicídio e toda a comoção que se segue estimulam outros a buscar a mesma comoção, o mesmo amor post-mortem, ou a atenção e os cuidados, caso sobrevivam.

E tome propaganda so Setembro Amarelo, que publicamente fala de suicídio, fazendo maciça divulgação do problema, com exemplos, com toda a informação sobre o assunto, e a participação da mídia e da população em escala ampla, na melhor das intenções, no fito de conter o crescimento do numero de casos ano após ano.

Eu começo a discordar da técnica. Contraria a metodologia até então usada, valoriza discussões transversais sobre o tema, que não o aprofundam mas levam a todos o assunto “suicídio”, sem o filtro devido (pensem em QUEM compartilha os textões sobre suicídio na internet) e com pouco apuro, evidenciam justamente a parte mais perigosa da equação: A angústia de quem sofre COM O SUICIDA, e o temor de que novos suicidas surjam. Ao se tentar conter o mal, se valoriza e se publiciza o mesmo.

Creio que a estratégia esteja se revelando inadequada, fruto de uma visão deteriorada de “proteção social” e de “empatia” fugindo de atitudes efetivas – dá pra ajudar seu amigo do conforto de seu sofazão, sala de casa…

Pensem nisso daí, sem focar no drama, mas sim no processo esquisito a ser debatido.

Bom dia!

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