Latinismos e vira-latismos

Pé Vermelho

Barnabé, Bananense se estiver por aí

Gostaria que falassem sobre isso que foi dito no tt quando tiverem tempo:

Regulus 🇧🇷
@mikros_vasilias
Sep 18
Não existe Latino
Não existe uma cultura latina
Não existe uma “lingua latina” comum
Não existe uma culinária latina
Não existe um denonimo etno-racial uniforme latino

Tudo isso é uma conceitualização artificial exportada dos EUA a partir dos Chicanos, Cubanos e Porto-riquenhos que foram viver lá e passaram a querer que todos fossem como eles lá.
Ou vai dizer que o carioca medio ou o paulista ou mesmo o baiano medio tem algo em comum com o Aymara bebedor de ayahuasca transeunte de Machu Picchu?

O Reino de Portugal foi precedido pelo Condado de Portugal
O Condado de Portugal foi precedido pelo Reino das Asturias e o Reino da Galicia, ambos, respectivamente liderados por Visigodos e Suevos.

https://xcancel.com/mikros_vasilias/status/1968829687074840726#m
*

BananenseNãoPraticante

A pergunta é sobre aspecto cultural ou puramente genético?
Misturam os dois assuntos aí.
Geneticamente, a Península Ibérica sempre foi o “fim do mundo”, onde as ondas migratórias “paravam”.
Tem de tudo. Celtas, fenícios, gregos, suevos, lusitanos, romanos, judeus, visigodos, povos do norte da África e até ingleses (sobre os ingleses, a aliança mais antiga e duradoura da Europa deixou porcentagem genética relevante que aparece em exames de DNA modernos).
Sobre a origem cultural, Portugal e também nós por consequência, somos os mais puros herdeiros do melhor da cultura do Império Romano do Ocidente (“latino”) e do período de ouro da Cristandade, que é o apogeu da humanidade neste mundo (período pejorativamente chamado de idade média, ou das trevas, pelos modernos).

*****

Bom dia!

Vocês devem estar se perguntando como um negócio desses acaba aparecendo na timeline de seus aplicativos, né? Então, antes de mais nada, melhorem e busquem o conhecimento, larguem essa maconha que é a internete… a culpa é de vocês, entende?

Sabemos que o brasileiro é em geral imune ao aprendizado e impermeável ao conhecimento. E que é doloroso para o cara médio entender qualquer coisa que não tenha um vídeo bem tatibitati ou um manual com figuras enormes e setinhas, tipo aqueles de montar LEGO. Mas no caso que estou trazendo aqui nem é o caso de uma explicação muito cultural. Apenas é um cara lá, no tuiter da vida, sendo ferozmente ativo em prol da sua ignorância.

Falamos disso por aqui, em algum lugar da semana: radicais e malucos, temos em todos os pontos do espectro cultural e político. E esse povo escreve muito. E fala muita bobagem. No caso, o rapaz do post linkado do Tuiter. Ele não curte esse negócio de EUA e simplesmente meteu os EUA em uma análise cultural zuada, contra uma tese de décadas e décadas atrás. Eu explico.

Somos LATINOS pois somos povos com línguas comuns e aparentadas ao Latim porque fomos colonizados por países herdeiros da cultura romana. Sim e pronto: Espanha e Portugal vieram do mesmo Império Romano, que conquistou aquelas terras de lá. Compartilharam toda a estrutura social e toda a base cultural calçada na Igreja Católica, na fidalguia, no proselitismo e na cordialidade nas relações sociais. Cordialidade é o termo que o Pai do Chico Buarque usou pra descrever a filhadaputagem cretina e generalizada que borda o nosso tecido social.

O que o carioca médio que está neste momento roubando um pedaço de fio de um poste em Irajá e o peruano carregador de malas daquele trem chiquérrimo da Belmond têm em comum? TUDO. Cultura cristã, língua social, a estrutura econômica que rege seu trabalho e sua cidade, seu país. A pobreza, o populismo, a benevolência para com o crime, o rancor contra o “branco”… Malandragem do cara no tuiter é usar como modelo o extremo, quando na verdade estamos falando de médias, de linearidades.

O Barrosão chorosamente deseja e se angustia, quando está saindo pra dar vaga a um bosta escolhido a dedo pelo PT na sequencia infernal do STF, é exatamente o temor de perder este mundo judaico-cristão ocidental que está lá nos EUA anglo-saxônicos. Que sim, não se identifica completamente com o mundo dos latinos e sua misturada intensiva com indios e negros, e se aparenta com a cultura europeia exatamente por sua origem inglesa, francesa. Isso a gente estudava no Primeiro Grau.

Existe um denominador comum para os latinos, que é exatamente a cultura cristã colonial. O rapaz lá deliberadamente evita tocar no tema mas é este o ponto. Todo mundo falando línguas aparentadas ao latim, aproximando ou fugindo ferozmente da fé católica em mil direções, comendo comidas que podem ser identificadas perfeitamente nas suas origens coloniais – se comemos feijoada, comida de escravo, comemos porque os portugueses trouxeram milhões de negros cativos para cá e estes criaram uma cultura local que inclui por exemplo essa culinária exótica. Negar algo é afirmar a sua importância.

Herdamos uma cultura caótica, que valoriza excessivamente o patrimônio, que abomina o individualismo e que é flexível ao extremo para com as questões religiosas diversas – temos mais uma “cultura cristã” do que uma “fé cristã” e isso molda toda a estrutura social dos povos que moram por aqui. Botamos os fracassos na conta de Jesus e seguimos errando fortemente, pois a evolução espiritual exige – e nem sempre os astros estão assim bem alinhados. Somos freestyle neste aspecto.

O nosso famosíssimo Complexo de vira-lata tem muito disso, dessa cultura latina: ou valoriza exageradamente a nossa cultura neocolonial cambeta, como se fôssemos um eterno comercial da Embratur cheio de alegria e diversidade amado por todos no universo, ou trata tudo como um carreto de sucata sem valor, artesanato da ninguenzada favela style que se junta de porrada na fila do caixa do supermercado.

Então, fiquemos sossegados: não vai ter nenhuma nova ressignificação cultural nem nada, povo inventa moda à toa por ser altamente tolerante à ignorância. Nada vai dar muito certo, mas pelo menos somos alfabetizados em uma língua que quase ninguém entende e nossos desastres conseguem ser mal divulgados mundo a fora.

Bom dia!