A Barbárie é um Atributo Humano

Bom dia.

Sim, sem firulas. Eu acredito na tese do nosso amigo de blogue Vercetti. Nossa terra é um zoológico, e nossa luta se resume em nos mantermos do lado de fora da jaula.

Tem zilhões de antropólogos, cientistas da antiguidade, historiadores, essa raça inútil toda… eles a décadas e décadas chegaram a um consenso, aquele consenso clássico e profundamente ligado à nossa origem judaico-cristã: A civilização começa a ser entendida como efetiva quando se identificam três traços em um grupo dado: fixação em um território por períodos superiores a décima geração, o uso de ferramentas manuais para realizar atividades elementares e a existência de algum tipo de ritual funerário identificável.

É isso.

Bem entendidos, já sabemos que tem por aí grupos de bonobos, babuínos e chimpanzés que tecnicamente já estão quase aptos a arrumar aquela confusão dos infernos com o Charlton Heston. E, ao mesmo tempo a gente descobre semanalmente alguma coisa nova, inédita e apavorantemente bizarra pra se convencer ainda mais do desastre certo que é nossa subcivilização. Que sim, é algo inteiramente nosso.

Olha, eu moro no Hell de Janeiro, e sei que temos um repertório de bizarria infinita. Somos SIM a Terra do Banho de Guaraná Eterno, uma espécie de Bahia onde o ladrão não tem preguiça, em que o impossível tem precedente. E esta semana nós tivemos de passar dias vendo explicações de como uma mulher levou um cadáver pra fazer empréstimo em uma loja do BMG. Pessoal, a semana inteira eu vi gente falando nessa merda, memes infinitos deste desastre moral. Nem sei como explicar uma situação ridícula dessas pra alguém.

Mas eu sei que aqui no Hell tudo cabe, tudo é possível. E não é só por aqui, nós estamos vendo lentamente o pessoal perdendo a linha nas coisas mais simples. E é tudo fruto dessa falta de civilização absurda, constante. Estamos lentamente abandonando conceitos universais em nome da Lei do Gérson, e isso tem tempo já. OK, aqui o defunto tá do lado do churrasco e ninguem liga, aqui a selvageria é norma social. Se você não for um pouco incivilizado alguém passa por cima de você com o caminhão de entrega do ML.

Esta semana o Pandeiro e o Maluco Beleza estavam comentando da impossibilidade técnica de dialogar com alguns bananenses. Olha, sério mesmo: Um problema da barbárie, inclusive foi esse o meu mote de hoje, é: SE estamos regredindo no básico, então no complexo estamos… SIM, regredindo também. Não posso falar de “jovens” e tal, é um componente intergeracional. Há uma cultura de gritos e xingamentos sedimentada em nossa sociedade, feito estalagmites. Monumentos cada vez maiores de ignorância.

A mesma galere que caga pros mortos, que berra no supermercado, que faz filas de um quilômetro nas agências da CEFU4 (vi esta semana ao vivo) para pegar bolsa-família, que fecha sua rua pra fazer churrasco do menino e acaba tudo na porradaria domingo a tarde… é o mesmo bando que depois de marrar nas paredes da vida anos a fio, arruma alguns bens, grana, e vai tentar ir pra dísnei amolando o Pandeiro, vai querer comprar um aprtamento no camorim da Barra da Tijuca, financiar o sandero em 60 de 1200 reais e xingar o uber no instagram porque não quis subir no prédio com as sacolas de mercado.

É um traço de degradação social. Sabe o tal tecido social? então. O centro está sendo puxado pra dentro do buraco, então as bordas vêm junto lentamente. Quando vamos pro interior e vemos tudo ajeitadinho, vemos o quê? menos barbárie. Menos motoboys chutando nossos carros, menos gordas de top e shortinho verde berrando e aspergindo a plateia com seus estafilococos, menos moleques com cara de bandido, pinta de bandido, roupas e cabelo pintado de bandido agindo como bandidos só pra poder virar bandidos se você der mole… vemos menos favelados (SIM! O IBGE AGORA DISSE QUE É FAVELA MESMO) e menos cracudos, pedintes, etc… Vemos mais civilização.

Esta semana roubaram o celular da Môça na portão da nossa casa. Arma na cara, perdeu. O ladrão, soube, é o filho de um conhecido dos meus sogros, e pelo que o pessoal verificou, andou roubando gente no bairro. Mas é menor de idade, e tem uma motinha barulhenta. O Pai dele é super gente boa e honesta. Um PM do bairro disse que vai matar ele, como mataram os últimos dois moleques que roubaram celulares aqui no bairro. Mas povo tá com pena do pai do rapaz, que é trabalhador e nunca prejudicou ninguém. E a Môça comprou um celular novo com seguro.

Eu não sei de verdade se acho isso, a surrealidade deste tipo de situação algo MAIS ou MENOS civilizado. JURO que não sei dizer. Môça já foi roubada duas vezes, as duas aqui na Baixada. As duas aqui no bairro. E aqui é um bairro tranquilo, “civilizado” para os padrões da região. Acho que o problema é a nossa noção particular de civilização. Aderimos a certos parâmetros como limites. Mas aí o entorno vai degradando… lentamente.

Bom dia e relaxem, nada vai dar certo com o dólar a 6 reais!