(Repeteco!) Argentina para amadores

Bom dia!

Este é um texto que completou três anos de publicado aqui. Naquela época nosso maior problema era interno, e as confusões infernais do nosso governo aqui ainda não eram uma coisa que nos faria sentir saudades, etc… E nessa época o Hermanistão já estava degringolando fortemente. Já estava em crise, já estava enrolado e já estava dando sinais de que ia pro vinagre. Naquela época a gente discutia QUANDO o país iria quebrar de vez, e aparentemente – e infelizmente – eles conseguiram retardar o seu destino natural, por um breve período…

O resuminho é bom pra entender que nada é por acaso: se você conhece alguém que está bem na merda, e esse cara vive te pedindo ajuda, tal… tente descobrir porque ele chegou naquela situação. Normalmente pessoas estúpidas tomam decisões estúpidas e depois pedem ajuda para se recuperar e cometer novos atos estúpidos. Os argentinos são assim, independente de ter maior capital cultural, escolaridade QI, o escambau. Escolhem o desastre e abraçam a ele como os desesperados chorando o defunto da Evita. Uma lástima.

Ops: Todos os links ok 😉

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Eu li o artigo do klebao sobre a Arrentina e seu desgraçado passado peronista, estava esperando há dias pelo papel do parceiro lá! E ficou muito boa a explanação, altamente recomendável para quem ainda tem algum tipo de pudor em sacanear, tripudiar, esculhambar ou simplesmente mandar os eleitores de presidente do Hermanistão se virar com as merdas que arrumaram. Quem tem Maradona como herói nacional não merece muito mais do que isso, mas calma, que aqui tem método…

Então, vamos ao caso. No final do texto do klebao veremos ali uma semelhança absurda com o estado social do Brasil poucos anos antes. O que aqui era entre 1956 e 1964 a ascensão do comuinismo radical no campo, e dos socialistas dentro do governo, coroado com a chegada de Jango ao poder com as suas “reformas de base”, lá no hermanistão foi uma ladeira-abaixo desde a chegada no poder da Isabelita Perón.

Rolo doido porque em 1966 uma junta militar (atentem-se às datas, coincidem com o processo aqui, e de fato, como os docs da Operação Condor que foram divulgados tem uns vinte ans atrás apontavam, era algo bem coordenado) assume o poder banindo o peronismo do Estado. Expurgo mesmo, sequer se poderia falar o nome de Perón em transmissões oficiais ou escrever sobre o periodo o citando. Perón, exilado, estava europeu, organizando remotamente seu pessoal justicialista…

Pensemos sempre que Perón era o Vargas no Estado Novo. Perón era fascista puro, de raiz. Populista ao extremo, hardcore ao ponto de arrancar grana dos empresários amigos que levavam os bons contratos de exportação de cereais e carnes e repassar à sua esposa maior, Evita, que ia por bancadinhas no meio da rua, nos bairríos mais lascados da capital, para dar aos pobres e necessitados ajuda nos seus sofrimentos. Era tosco, mas era populismo em estado bruto, tirado do pé e chupado sem lavar a casca.

Quando o governo militar provisório tentou eliminar as vantagens, beneficios, e os esquemas que os peronistas deram ao empresariado e ao ‘povo seleccionado’ do campo, o caldo entornou, entre 1968 e 1969. Greves, crises institucionais, os “cordobazos” – As “puebladas” são uma instituição hermana como o chorizo e os taxistas ladrões de BsAs, quando montes de pessoas saem às ruas para depredar os bancos os quais eles devem grana, e a polícia que tenta acertar as coisas. E os trens, as lojas… – levaram o governo a cometer dois erros de uma só vez: dar ouvidos aos militares mais nacionalistas, que eram influenciados pelo desenvolvimentismo brasileiro, e pela desgraça do cepalismo, e chamar os peronistas para conversar.

Não deu outra: Os militares mais empolgados que assumiram o poder começaram a brigar entre si e até 1973 foram TRÊS golpes internos com os nacionalistas tentando assegurar o poder e sendo confrontados com os mais progressistas, principalmente no Exército. Aí o país, que nem estava tão ruim economicamente, desaba, e neste contexto a Hermanolândia vai ficar mais ou menos como ela está hoje em dia: desordenada, com inflação alta, povo passando umas fomes imensas e o governo batendo cabeça e brigando para calar todo mundo na porrada.

1973 foi o ano do Cão para o mundo ocidental. Obviamente os argentinos não iriam decepcionar. Com eleições livres, os militares finalmente haviam costurado um acordo para evitar que Perón retornasse ao poder, se mantendo em exílio. Só que não. Haviam varios grupos terroristas agindo no país, em nome de e contra Perón. Perón, como o klebao bem esclareceu no texto, aderiu ao socialismo anos antes, e no seu exílio, só pensava naquilo, em voltar ao poder, e implantar seu “justicialismo” numa forma estrutural, não mais como política social, etc. Queria fazer certo onde Jango errou, e onde, ele veria neste mesmo ano desgracento, o Allende ser falhado a tiro e bomba. Destino de quem erra era certo.

Em março, elição geral dá ao peronismo uma vitória esmagadora, com Campora, um poste do Perón, sendo eleito presidente e (ORA SENÃO VEJAMOS SE NÃO PARECE DEMAIS COM A ARRENTINA DE HOJE???) quatro meses depois, renuncia e convoca novas eleições, em que todo mundo já sabe quem venceu, correto?

Sim, PERÓN. Ele havia voltado do exílio, contrariando o acordo feito, mas como ele não se meteu na política diretamente, não foi preso, por exemplo. Erro novamente dos militares. Perón se elege e vai começar seu Projeto do Fim do Mundo, com grande apoio da pobraiada e de vários grupos militares nacionalistas (montoneros, etc…) que vão pressionando o governo a migrar para um tipo de “democracia sindical” bem peculiar, estatista. Só que o Zé Maria chamou Perón cedo demais, coitado, em meados de 1974.

A inútil da Isabelita Perón assume o poder no meio desse rolo todo, dominada por seu primeiro-ministro, e daí para a frente começa o caos entre os proprios justicialistas, que se dividem entre os nacionalistas de direita e os socialistas, mais os anticomunistas militares, o pessoal da Igreja (oi papa francisco) que estava no campo organizando movimentos por terra, e o povo da capital, temeroso de mais desgraças e mais desmanche do país, já quebrado e enrolado com a crise do petróleo.

Quando o cara chega dizendo que vai organizar a bagunça, e não desfaz a briga, ele quer apenas assumir o comando da briga. Os militares nacionalistas de direita do Hermanistão, raça meio burra por padrão, resolvem aproveitar a absoluta inapetência da Isabelita (uma Dilma mais bonita e corretamente alfabetizada) em lidar com o Estado, e o caos entre os grupos peronistas, para a apear do poder no começo de 1976. CLARO que os militares não tinham muita ideia do que iriam fazer, nem os meios, mas foram lá derrubar, prometer reordenar, dar nomes longos aos seus documentos politicos, fazer discursos tensos e matar uma galera do contra, com aquela crueldade típica de quem não está ligando em absoluto para o resultado.

Os militares liderados pelo Videla eram argentinos, não nos esqueçamos, logo estavam planejando mudar o universo, sem rebocar as paredes do quartinho onde habitavam. Tencionando matar o peronismo, destroçaram a Argentina, cultivaram o rancor e o desprezo de uma parte sólida da população, conseguiram a proeza de deixar jovens bons e honestos morrer inutilmente por causa de uma porcaria de pedras no oceano, e deram água e feno para os justicialistas recomeçar sua cavalgada rumo ao poder.

E claro, eles roubaram uma copa do mundo.

Bom dia!