Carências

Bom dia!

Eu lembrei do amigo do blogue esta semana. Estou numa “viagem a serviço” com meus pais. Eles estão velhinhos e não tem como deixar meu pai dirigir 300 km, além de eles não saberem nada de estadia em hotel, essas coisas. Estava em casa, minha mãe estava quase implorando para que eu dissesse que sim, e estou em Campos dos Goytacazes. Odeio essa cidade. Nasci aqui, mas odeio. É meio como a colega Pagando e seu pessoal do ES.

Mas hoje é dia e estamos arrumando o assunto – eu arrumei o assunto ontem enquanto estava jantando com os velhos no Shopping – feriado de Finados, cidade deserta e shopping cheio. E minha mãe reparou a quantidade de cachorros na porra da praça de alimentação. Saco, mas o povo aqui tem essa péssima mania de levar a bosta do cachorro pra esse setor do shopping. Até tinha muita criança, aliás. Lugar mais pobre tem natalidade melhor, com certeza.

E é aquela encheção de saco de gente trupicando em yorkshire, aquelas cordinhas de dez metros, as mulheres e os caras cheios de mimos e frufru, carirnhos de cachorro… A Mãe aqui notou como os caras eram todos carinhosos com os bichos e eu falei pra ela que o problema era exatamente a falta de filhos.

O Final Countdown uma vez repisou (aqui ou no Instagram, não lembro) esse negócio e eu guardei pra mim a informação: Basicamente a mulher – uma fração delas, natureza sempre é assim – PRECISA com mais intensidade dividir o enorme amor interior, aquele instinto materno, com alguém. Assim mesmo, a moça PRECISA amar alguém que será seu foco, seu apoio mental, sua referência, motivação pra não ficar pucta e virar mendiga, carola de igreja ou a tia dos gatos.

E não seria somente pela idade. Seria mesmo um componente da mente da pessoa a necessidade de ter um foco para lutar, prover, dar carinho, esperar retorno infinito e se sentir feliz por ser reposnável pela vida que está ali florescendo e se beneficiando desta energia enorme dispendida, do trabalho e dos sonhos nele depositados. Sentido da vida, biologicamente falando, tem a ver, para muitas pessoas, com dividir amor e esforços.

E a pessoa é bombardeada demais com isso. Eu fui vítima disso! E eu demorei a ter filho por conta deste temor, a sensação de que filho é ruim e perigoso e gera sofrimento, miséria, infelicidade e nos aprisiona eternamente naquele desespero do besouro de Sísifo rolando aquele seu monte de bosta ladeira acima eternamente. Quando resolvi largar de mão quase que não sai a criança, vejam vocês…

Daí que a pessoa acaba se rendendo às capas de revista e aos influencers que vivem de softe-porne de academia e béte do triguinho, quer aquela vida forever young e percebe (acredita) que criar um filho vai lhe impedir de comprar um Creta 2025 ou viajar pra Maragogi em abril, e usa as histórias horripilantes de filhos ruins que afundam a vida dos pais e todo o drama psicológico que é relacionado ao sofrimento materno… e principal: Muitas moças não querem filhos porque isso é PODER PESSOAL. Há N fatores e um resultado, somente.

E eu falando pra meus pais isso: Muita gente solitária, mesmo casada, usa bichos para amortecer o peso enorme da solidão da viagem. Eu entendo que aquela sensação de amor incondicional e permanente nem sempre virá dos nossos filhos. Mas, quando mesmo entre o casal há aquela carência, o bicho é uma válvula de escape. Não sem motivo o problema dos bichos na partilha de bens e herança está tomando proporções bizarras e logo o semovente vai virar pessoa de direitos, definitivamente…

E bicho é aquilo: é um animal e nenhum animal irá substituir o amor de uma pessoa. Há quem realmente não tenha filhos e sinceramente, se isto é resultado de uma escolha objetiva e racional, nada a opor. Temos infinitos exemplos de pais horríveis por aí, e aos montes descobrimos as consequências nefastas de pessoas sem amor criando seus filhos. Se o casal é genuinamente feliz sem filhos, e esta escolha vem de algo pessoal e não dessa loucura da modernidade, ok.

Eu tenho dois sentimentos sobre os pais de pet e eles são concorrentes. Um, uma pena profunda. Porque bichos são maravilhosos mas nunca irão retribuir o amor que damos a eles na mesma proporção. Não é culpa deles, não tem nada a ver com o bicho. Apenas é o fato: amor é um sentimento estritamente HUMANO, e quando vemos o “amor” do bicho por nós, estamos apenas projetando aquele sentimento nas reações positivas e muito sinceras, do bichinho.

Outro, um asco medonho, que me dá um pouco de revolta. Pois bicho não é gente. Você pode comprar fraldinha pra cachorro, ração que faz cocô sair sem cheiro, castrar a merda dos bichos para que eles fiquem “menos irracionais” e adoeçam menos (sempre penso se esse pessoal mandaria castrar seu filho pra evitar câncer de próstata), o escambau. Sempre será um bicho e em algum momento você vai perceber isso da pior forma.

Eu tenho amigos que adoro e que têm lá seus pets. Me abstenho de dar opinião sobre esses bichos e sei que os bichos tem função ali. Estou tentando fazer a primeira opinião ser a regra, até pra evitar mágoas desnecessárias com pessoas que genuinamente estão tentando aplacar um sentimento complexo com paliativos, com “animais de suporte emocional”… Preciso melhorar, entendem?

Agora vamos acordar os velhos, que cansaram de visitar parentes ontem, e botar eles pra tomar café.

Bom dia!