Ecos de um Passado Nem Tão Distante

Bom dia!

Legal que hoje todo mundo esteja falando de História mundo a fora. Sério. Esta semana – excetuando a Bananaland, onde a distopia das alucinações fortes ainda está dominando os discursos da mídia isenta de verdade – o assunto gostoso foi a tal da USAID.

Sim, isso é assunto histórico, coisa de um passado beem distante e que a gente em outros momentos já esbarrou forte. E sim, não tem de gastar energia querendo achar logo vilão, culpado, etc. Temos de sempre analisar por fora primeiro, ver o assunto com certo afastamento pra perceber como as coisas mudam intensamente e rapidamente, bastando uma ou outra decisões de meia dúzia de pessoas mais interessadas e capazes.

Pois bem, vejamos a coisa. Governo do Trumpinator partiu pra cima da USAID, que não, não é uma agência de “ajuda” (“aid”)… pegadinha do Mallandro clássica, parece disfarce do Coringa. O que exatamente é essa Agência? bem, é a United States Agency for International Development. Quer dizer, uma Agência para (não imaginamos como) “desenvolvimento internacional”. Ora vejamos. Ideia boa, do JFK e seus meninos, bem antes de ele ser protomarielizado em público.

A USAID não é nem nunca foi uma agência de “fomento” ou “ajuda” ou mesmo “apoio”. A USAID foi criada a partir da experiência dos EUA no conflito da Indochina, do Canal de Suez e de Cuba, quando a falta de agentes “não-militares” e “não-diplomáticos” fez os EUA perder o controle sobre a política de várias regiões pelo mundo. No final dos anos 1950 os EUA ainda estavam preparados para uma nova guerra militar e a mudança da URSS em 1956, com o revisionismo e a lógica da “coexistência” geradora daquilo que chamaríamos nos livros do Hermida de “guerra fria” puseram os norteamericanos em uma situação bastante conflituosa.

Não dava pra simplesmente bombardear Havana. Não tinha como queimar as florestas da Indochina porque o problema lá era dos franceses. Não dava pra meter a mão no canal de Suez porque os ingleses mesmo resolveram sentar e “bater papo” com o Nasser. A diplomacia da força se anulava com o enorme peso da URSS pondo a mão pesada nos países que estavam se “descolonizando”, impedindo o uso da força bruta pura e simplesmente.

O USAID nasce no comecinho dos anos 1960 exatamente pra tirar a porra da CIA do negócio, pois eles simplesmente cagaram TUDO no episódio da Baía dos Porcos, e já era nítida a necessidade de os EUA de JFK ter uma ferramenta de “soft power” preventivo, para conter os nascentes movimentos protosocialistas e nasseristas que pipocavam na América Latina e na África, principalmente. Ele é criado com a Lei de Assistência Estrangeira (pegadinha), que eera curiosamente baseada na premissa de que, para uma nação ser ajudada, ela deveria antes assumir certos compromissos em atender indicadores mínimos de democracia, economia, estruturação política, saude, educação.

Quer dizer, os EUA com a USAID se punham a trocar dinheiro tecnologia e investimentos por adequações políticas e econômicas que barrassem o avanço do “comunismo” nas nações que aceitassem o acordo. E isso, apesar de parecer grosseiro, é infinitamente menos impactante do que mandar despejar 15000 t de bombas para “amaciar os ânimos” de uma republiqueta qualquer.

É consenso históriográfico que o USAID foi crucial aqui no Brasil, no processo de formatação e aceitação externa do golpe de 1964. Os militares brasileiros receberam briefings e orientação da USAID sobre questões como ajustes econômicos, necessidades de ajuste político, promessas de financiamento futuro, transferências de tecnologia, etc. Não era algo casual, claro. E o interesse óbvio era o de impedir o sucesso do projeto marxista do Jango mantendo o Brasil na esfera de influência dos EUA.

Com o governo revolucionário aqui a USAID trabalhou muito. A Universidade brasileira atual nasceu de um projeto diretamente supervisionado pela USAID. Era CRUCIAL que a Universidade fosse controlada pelo Estado tanto no acesso como na permanencia e seleção de carreiras dos alunos. Já era percebida a ação da esquerda na Universidade e o esforço maior deste projeto resultou na legislação atual que rege a Universidade pública. Claro, não deu muito certo mas a ideia era boa. Quem leu Celso Furtado, o amigo #1 da USAID, na faculdade?

Recebemos enormes aportes de pessoal, estrutura e tecnologia. O INAMPS foi criado em 1971 atendendo à necessidade prevista em estudo da USAID de uniformização e controle das condições sanitárias do país. A vacinação e o PNI vêm de programas por eles bancados, assim como grandes obras urbanas e projetos habitacionais receberam verbas externas com intermediação e apoio tecnico da Agência. As nossas FFAA brincaram com otimos brinquedos comprados dos EUA depois de estar, na época, assegurada a confiabilidade da BNN como parceiro dos EUA na América Latina.

Peraí?

Então a USAID era “do bem”? No exactly.

A USAID é uma agência a serviço do Estado. Os EUA impunham suas agendas soft aos países que lhes eram afeitos e dependentes através de “consultoria”, “apoio técnico”, “observação”. Enquanto os EUA foram pro-ocidente e capitalistas clássicos, a USAID encheu o saco do pessoal certo. Bancava escolas de inglês nos países árabes, universidades na áfrica para formar lideranças pro-ocidentais, botava umas granas pra apoiar políticos moderados em países menos votados mas que poderiam servir de apoio futuro…

Quando os EUA transigem para um governo pro-globalização e depois, globalista no começo doa anos 1990 a ação da USAID se volta primariamente ao mercado “interno”, com os EUA trabalhando para atender as enromes demandas técnicas e estruturais, fomentar “democracia” nos países da falecida URSS e estimular políticos ANTI-UE dentro da própria UE, a fim de criar dissensos favoráveis.

Muito do nacionalismo europeu foi combatido com grana da USAID, que não desejava “duas frentes” dentro da UE. Vários programas de apoio a imigrantes passaram pelo crivo da USAID para receber recursos de “educação” e “saúde”. Grana que vinha da ONU, da OMS, da Unesco. E que vinha dos pagadores de impostos dos EUA. Que servia pra bancar pesquisas chamando de hitley todo mundo que discordada do Novo Mundo da UE. Uma Merquel, um blair naõ estiveram lá a toa.

A USAID vira agente daqule processo de globalização bem nosso conhecido. Aqui, ajudaram a fortalecer tecnicamente o Estado com ajuda do FMI, na transição de moeda que gerou o Real, por exemplo. FFHCC era chegado do pessoal do USAID desde os tempos do Chile, antes como alvo, depois como aliado próximo. Ele não mandou a galera esquecer o que ele escreveu a toa.

As novas nações da Europa – tiveram de matar a Iuguslávia primeiro – também receberam apoio para a transição à UE, como “obrigatória”. Aquilo no começo dos 2000 deu na confusão da Europa de hoje. Os EUA agiam quase somente com política interna, deixando as bombas pros barbudos fedorentos. Mesmo que o Bin Laden tivesse se beneficado de programas de incentivo ao intercâmbio técnico bancados pela USAID…

Com o avanço do conflito globalista (sem aqueles chapeus de alumínio, gente) os EUA foram gradativamente fazendo da USAID uma extensão da CIA e de seu Foreign Affairs. Em um mundo cada vez mais fragmentado era complicado esse negócio de ‘bancar gente’. Há a mídia, a tecnologia, as redes sociais, as grandes corporações de informação. Os focos passam a ser bancar e manejar gente de dentro destes grupos. Controlar a mídia virou poder em si e todo mundo lá entendeu isso muito bem.

Vejamos o que todos nós passamos nestes últimos anos. Controle de informação, invenção da “pós-verdade digital”, o Campo de distorção da Realidade em tempo real zuando a capacidade de milhões e milhões de pessoas de analisar os fatos, a vida real. A escola, o hospital, a igreja sendo encharcados de discursos “comunitaristas” e “universalizantes”. Toda a loucura de gênero e seus crimes impossíveis. A condenação em vida dos mais irredentos, mesmo errados, mesmo meramente ignorantes e a supressão de liberdades em nome do ‘senso comum’.

Claro, tudo isso veio de algum lugar e de onde veio – muitos lugares, muitas pessoas – tem gente dessa Agência no meio. Eles não são a fonte do problema mas ajudaram a construir o mundo louco em que vivemos em sua base e é por isso que o governo do Trump quer decididamente pegar o controle e as informações deles. É necessário.

Bom dia e desculpem o textão!