Falando daquele filme

Bom dia.

Antes de mais nada espero que tenham reparado que estou evitando enfaticamente comentar sobre os EUA nos fins de semana. Estamos recebendo uma massa de informação e desinformação considerável e isso acaba por nos deixar meio desnorteados, a mente cansa com tantos tipos diferentes de opiniões e bobagens espalhadas por aí. Apenas evitando postar sobre, a semana toda Trump é O assunto então eu só choveria no molhado.

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Então de repente todo mundo passou a gostas de História. Oba, agora um filme histórico ganhou um óscar de filme estrangeiro. Eu a anos não acompanho mais óscar, até por este evento ser explicitamente um evento de mídia e de política. Antigamente soava bonito o Marlon Brando recusar o prêmio e mandar um índio fazer textão ao vivo. E o óscar depois dos anos 1960 e sua loucura social virou também um evento problemático e cheio de gente querendo guspir virtudes na sua cara ao vivo. Brando só deu o start na FORMA atual.

Tu pode assistir o Orfeu Negro do Camus de boa mesmo, sem medo. filme de favela baseado no conto do Vinícius de Moraes. É maneiro, garanto. Você pode até achar legal o Senhor dos Anéis (eu acho). Mas já viram o TAMANHO da versão soviética de Guerra e Paz? Tipo, sete horas de filme, trocentos mil figurantes, um troço doido. Já vi oito e meio do felinni, uma merda. A Noite Americana é bom, Trufaut sabe fazer filme reclamando da vida.

Dersu Uzala dá sono mas porra, o Kurosawa foi filmar na MONGÓLIA. O homem era brabo (Ran é tenso). Se pegaram o esquema, “filme estrangeiro” no óscar até o final dos 1970 era filme com francês falando ou algo BASTANTE extremo em cirílico. Mas vemos anos 1980 e o negócio vira política mesmo (Tá, antes o Z do Costa Gavras levou e é um thriller político).

Já viram O Tambor? Bizarro, mesmo. Mephisto do Szabó? Fanny e Alexander não porque cacete, o Bergman consegue chatear a gente de uma forma impossível de tolerar. Faz parte. Sabe o que estes filmes têm em comum? falam do nazismo em gestação. O óscar virou uma caixa de ressonância da queixa dos europeus em relação ao desprezo dos EUA em relação às novas ideias de lá – a gente sabe que aquilo deu no mundo de hoje, claro.

No final da década de 80 o pessoal dá um tempo e cansa de filmes da IIGM. A História Oficial até pouco tempo era o melhor filme argentino de todos. É maneiro, pra ver o estrume que o Galtieri arrumou lá. E depois dois filmes bem zuadaços levam, A Festa de Babette (é legal, creiam) E Pelle, o Conquistador – esse e chato de doer. Ah sim! QUASE fomos indicados com O Beijo da Mulher Aranha, do Babenco, mas como ele era de ditadura e o pessoal já estava meio cansado…

E o óscar foi virando mais e mais uma cerimônia que reservava esse cantinho pros pessoais inteligentinhos e culturaizinhos, aquela moçada que assistia filme do Trier e do Arcand no Espaço Unibanco, e que lia aquelas revistas de “arte e cinema”… sintomaticamente n os anos 1990 fomos indicados TRÊS vezes! Uma, com O Quatrilho, um dos piores filmes bem feitos que já vi na vida, outra com o filme do gabeira e aquela arenga e o óbvio Central do Brasil, que é SIM um bom filme mas NÃO era pra tanto.

Demos um azar grande, O primeiro perdeu pra uma comedia dinamarquesa zuada e o segundo se lascou porque o filme holandês falava de gente com daddy issues e isso o povo gosta, e o filme da Central, bem… a Vida É Bela é bonitinho demais pra perder uma parada dessas. Foi azar, mesmo. Notem que  ser indicado a óscar não é novidade alguma e que em todos os filmes há a mão da família Salles no meio. Eles são os cocriadores da Lei Rouanet, eles são o maior usufrutuário desse negócio.

Nos 2000 o óscar já busca sucesso e principalmente resposta do público. Filmes muito metódicos, intelectuais deram espaço pra produções realmente boas a despeito da cretinice intelctual de alguns temas. Almodovar é um psicopata mas sabe filmar. Outro filme espanhol, Mar Adentro é de chorar a semana toda. Um inferno. As Invasões Bárbaras era o sonho molhado de todo canadense de que o Arcand ganhasse um óscar. E As Vidas dos Outros massacra com a história. Esses três? podem assistir mesmo que vocês se emputeçam rindo do filme do Arcand.

Pulo dos 200 pra agora? porque o óscar nos 2010 despreza bem o cinema estrangeiro, porque afinal de contas os txainas estavam deitando grana e isso mudou muito o cinema internacional. Fora isso, a tentativa de criar uma “zona segura” para filmes “de arte” fez esse setor do oscar se apagar bastante. DESAFIO qualquer um a apontar um bom filme indicado a essa categoria após 2010. Podem procurar. Eu listei uns trinta, sei lá, mas chegando aos 2010, para tudo.

Este é o cenário do óscar atual. Pensem na guerra que foi o pessoal desqualificaro filme do traveco depois do monte de bobagens que ele soltou e que criou uma confusão destruidora pra careira do filme  – RUIM – que eles perpetraram? O filme do gato é melhor. Talvez por isso muita gente tenha ficado pucto com o filme daqui. Na verdade o filme brasileiro botou muita grana ali, não somente a globo buscando virar uma grande produtora de filmes “de verdade” mas os Salles querendo a afirmação de seu mecenato e a garantia de que mais grana virá para seus projetos futuros, mais o próprio óscar,a  a “academia” tentando se livrar da merda que arrumaram ao tentar bancar um filme ruim, ofensivo e mal feito.

O Salles cineasta sabe fazer filmes. Cidade de Deus é um filmaço, sem nenhuma dúvida, mas ele era produtor. Central do Brasil e Abril Despdaçado são muito bem feitos, mas o cara nem precisava disso, claro. Os concorrentes, exceto o filme do gato, eram inferiores. E o filme do gato só perdeu por não ter diálogos e parecer videogame do Nintendo Switch. Desta vez a sorte estava vitaminada e precisou só de um arrotinho, coisa boba, para o filme daqui levar esse prêmio.

E o filme leva pra consertar a cagada histórica da midia que bancou um filme duvidoso feito por gente duvidosa – der mole até bancaram esse caos, não estranharia isso – e para atender a um discurso, efetivamente. Cultura aqui tem grana, e ela “funciona”! Agora a ruaney vai bombar pra esse povo, nem duvidem disso. Sucesso, fama, “nuncaantesnefepaif”… vamos ver muitos filmes bananenses ruins por aí… aturem, vai ter cota na netfliquis!

Bom dia!