Farinha de neném

Bom dia.

Pessoal tem acompanhado estes dias um problema que a princípio está afetando diretamente os EUA, e que se agravou muito nos últimos dias. Problema que ocorre a princípio é a falta de produtos para alimentação infantil. Fórmula, é o termo correto. A maioria, é feita com misturas de cereais em uma salada esquisita de materiais alimentícios ou não, basicamente é uma farinha de engorda, feito o que a gente dá pro gado comer, ou aquele uhei que os bombados comem e bebem todas as 24 horas do dia. Pronto, falei.

Também vi que o pessoal percebeu a falta de certos medicamentos no mercado, de forma persistente. E faltam vários, basicamente antialérgicos e antiinflamatórios. Claro que tem a ver com maior consumo local, nosso inverno mas neste ano está um pouco diferente. Coisa complicada pois são medicamentos de consumo constante e que tem valor médio baixo, comparado com os mais “raros” de achar. Nestes dois casos temos um problema enorme aí, que é a nossa dependência externa para boa parte dos insumos medicamentosos, coisa que nunca foi um probema até dois anos atrás…

Basicamente temos uma vasta estrutura de produção de medicamentos e alimentos suplementares, mas os insumos chave vêm do exterior. Certos medicamentos são 100% produzidos no exterior, como antibióticos de largo espectro modernos como o clavunulato, o tal do clavulin. Quase 70 por cento das fórmulas alimentares para crianças e bebês vêm, também, integralmente do exterior. Aqui apenas etiquetamos, quando o produto não vêm integralmente preparado. Quem tem criança, leia a embalagem daquele NAN, com atenção.

E então nós aqui estamos acompanhando a lenta degradação da situação de energia europeia, causada pelo conflito ucraniano e por péssimas decisões de líderes da UE, no passado e agora. Lá é verão e todo mundo conhece a fábula: as cigarras estão nem aí, tudo socadas na rave, enchendo a cara e pegando sol na beira do rio. Pessoal até está meio tenso mas olha, ainda não tem aquela comoção diante de um risco tão grave como a da falta de energia no inverno da Europa Ocidental.

A gente lembra: Esse povo passou frio pela última vez quando Stalin ainda estava enchendo o saco da humanidade. A maioria absoluta dos europeus não tem ideia de como é complicado esse negócio mas os custos de energia estão inflacionando TUDO, absolutamente. Notemos que hoje o maior bode na sala dos europeus é o elevado custo de produzir e a gradual e crescente dificuldade em repassar os aumentos de custos aos consumidores, já pressionados por uma miríade de aumentos de custos em todos os ramos de suas vidas. Aquele lance de o preço do cafezinho ser o mesmo por quase meio século no Germanistão é exemplar.

E então volto ao tema: A produção de insumos está até estável na China e principalmente na Índia. Quer dizer, materias basicas para produzir medicamentos, existem e estão até em bom volume, e não há tanta dificuldade na aquisição. O problema é PREÇO.

Por exemplo, eu cometi a burrice de comprar um xarope pro meu Menino. Fitoterápico, pediatra recomendou. Chá de trepadeira, certeza de que com cachaça ia fluir maravilhosamente bem, pois essa bosta não serviu de nada, com qualquer fitoterápico. A fábrica é um galpãozinho aqui na Capital do Hell, ali perto do Vasco da Gama. MAS o produto, não. Ele vem de uma empresa de Freiburg, láaaaa no Germanistão! E vem “as-is”, caixa fechada e selada, custa vinte reais. Penssem nisso, na vantajosidade de se importar um treco desses ao invés de o produzir aqui.

Obviamente eu reparei que esse xarope SUMIU do mercado, pois nem na internet achei novamente. Mesmo problema do pessoa procurando antibióticos: Some do mercado porque está faltando reposição. E está faltando reposição porque o PREÇO na fábrica aumentou muito de um ano para cá. E em abril há o reajuste da tabela CMED. CMED é tipo a FIPE dos medicamentos, se alguém vender acima da tabela, o “CADE” pune o cara por abuso de poder economico. E a tabela veio forte este ano, com mais de 10% de reajuste médio. E está complexo pra negada negociar preço, então… não compram, regateiam e forçam novas negociações. E você fica sem remédio.

Essas faltas pontuais de medicamentos tendem a aumentar. Pois há aquela convergência péssima pela frente, e que tem um pouco com nossas decisões locais: Por um lado o custo da materia prima está sendo pressionado pelos custos logísticos: Não falta insumo, mas ele está encarecendo. De outra parte, as grandes processadoras de insumos na Europa (o grosso da big pharma está lá) e nos EUA estão com um aumento de custos expressivo em função dos aumentos de custos no transporte e energia, o que encarece o produto acabado. E no rebote temos a inflação, que naturalmente vai majorar toda a cadeia de custos até a cestinha da farmácia.

Eu pessoalmente vejo um problema sério. Na Europa vai ter medicamento mas o custo vai explodir. Aqui, talvez falte uma gama enorme de materiais. Tipo, não vai faltar aquele remédio básico, mas você não terá tantas opções. Mas medicamentos de alto valor podem ter problemas severos de fornecimento e/ou de custos, assim como complementos alimentares. Pode ficar caro, pode ficar inacessível. Nos EUA a coisa degringolou depressa, aqui ainda temos estabilidade, por enquanto.

Estamos falando que o frio até vai ser um problemaço, mas espera até você ver o preço da aspirina e do Nutren ano que vem. Fiquem de olho!

Bom dia!