Não-essencial

Bom dia.

Antigamente, décadas atrás, em outro século, as casas em que nossos pais viviam eram bastante frugais. Costumavam possuir apenas uma ou duas tomadas de energia elétrica por quarto. Era bem simples e prático. Não haviam muitos eletrodomésticos e a eletrônica era altamente restrita. Na sala era uma TV e um rádio, em cada quarto com sorte havia um ventilador e um abajur, na cozinha era a geladeira e a tomada da pia, para uma eventual batedeira ou liquidificador. Era o “essencial”, aquilo que a maioria das pessoas poderia possuir em casa, normalmente.

Comíamos uma dieta bem linear. Há quarenta anos atrás, por exemplo, não havia mais do que dez marcas de massas, biscoitos, molhos, etc., em um supermercado comum. E quase não se via esse lance de biscoitos em casa. Arroz, feijão em grossa maioria, agregado de alguma “mistura” que em geral era carne BEM trabalhada para se obter o rendimento máximo possível e legumes – batata e cenoura, beterraba, inhame. Ovo era lei e leite medido certinho, pra dar para todas as crianças. Leite tipo C, de saquinho. Com café, de quatro ou cinco marcas, no máximo. Pão onipresente, claro.

No bairro em que eu cresci haviam cinco telefones. Isso em meados dos anos 1980. Um era no DPO da PM, junto da Fábrica de Tecidos. Outros três, nas casas de pessoas “populares” por ter condições e contatos para conseguir linhas “sociais” da finada TELERJ. Cobravam por minuto de ligação mais do que a Vivo cobrava no começo dos anos 1990. E mais um, ficava a módicos 4 km de distância de minha casa. A pé. Telefonar era uma saga. Ao menos dava pra ficar na fila do leite revezando com a fila do telefone, a padaria – eram só duas no bairro – ficava do lado do orelhão.

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Quando um político qualquer, do alto de sua ignorância profunda, betumada e estéril resolve definir o que é “essencial” ou não para uma pessoa, ele está, antes de mais nada, tentando fazer o que qualquer governo em tempos de crise (como os socialistas o tempo todo) faz: Reduzir a necessidade da sua população ao “mínimo essencial”, para que o custo social seja igualmente o menor possível. Eu PRECISO convencer minha população de que ela não precisa daquele “superfluo”, e que tentar o buscar é errado e “anti-comunitário”.

Quando um político resolve proibir a população de sua cidade de consumir, de comprar determinado bem ou usufruir de dado serviço apenas porque ele, político, acredita ser o “melhor” para todos, ele está retirando de toda a população direitos e possibilidades que foram duramente alcançadas pelo trabalho e esforço de todas as famílias que vivem naquele lugar desgraçado. Até por ser bizarro, irracional se proibir o supermercado de vender uma batedeira porque a lojinha de bairro não pode vender a batedeira – por estar fechada. Buscando a equidade, se criam monstros incontroláveis.

Geral lembra quando a loja do Véio Careca começou a vender itens de supermercado para poder driblar a legislação trancacionista do PR, RS, SC e SP? O argumento era exatamente este: Somente “serviço e comércio essencial” poderia se manter aberto. Novamente friso: Quem define o que é essencial define quem vive e quem morre no mercado. Se eu defino que a choperia não é essencial, ela quebra e vai a falência. E nao me responsabilizo por isso. O cidadão abriu a loja porque quis, e faliu porque sim, porque era ou a Economia OU as vidas das pessoas. Eu sacrifico quem eu quero nesse altar da miséria e só. Saio herói, consciente, estadista interessado em proteger a população. E o comerciante vai acabar perdendo tudo para pagar dívida trabalhista.

Não demos tanto poder a estas pessoas. Nunca quisemos autorizar este bando de inúteis a fazer tanto contra todos nós. Mas a Peste Chinesa é a oportunidade que eles esperavam. Se elegeram prometendo não trancar nada e ser razoáveis, ou se elegeram exatamente prometendo trancar tudo, para “salvar vidas”. O discurso varia com o público. E foram eleitos ou até reeleitos. E agora este bando têm uma pretensa legalidade para cometer esses desatinos contra toda a população, afetando até quem não vota ou jamais votaria nestes cretinos.

Bem, a coisa vai piorar não pela doença, que está na mesma progressão de antes – a média móvel mascara a curva e pra piorar, sequer o IBGE tem os dados de mortalidade de 2020 online… uma beleza.

Bom dia e se preparem, os idiotas vão querer entrar em uma disputa para ver quem tranca mais e proíbe mais. Trancar é ter poder.