‘Nos preparamos para um Brasil que não veio’, diz gerente sobre fábrica fechada

Via NH.

A rotina dos funcionários da Deca, unidade da Duratex, em São Leopoldo, foi de despedida e de angústia na segunda-feira (1º). A direção da empresa decidiu encerrar as atividades da leopoldense, adquirida no início da década de 80, ontem.

“Complicado”, ressalta Regis Pereira Schmidt, 29 anos. “Sou do turno da noite. Nesta segunda-feira, meu horário deveria iniciar às 22 horas. Hoje (ontem) cedo, meus colegas começaram a enviar mensagens. Achei que era ‘pegadinha’. Fiquei preocupado. Decidi ir até a empresa para verificar e realmente estavam demitindo todos. Não era pegadinha”, lamenta ele, que trabalhava no setor de classificação.

Em nota, a assessoria de comunicação da empresa, em São Paulo, destaca que “a Duratex esclarece que o fechamento da unidade industrial de louças na cidade de São Leopoldo é importante para a consolidação industrial e para manter a competitividade no segmento.” Ainda conforme a nota da empresa, “a escolha desta unidade se deu pela sua reduzida capacidade instalada.

O volume de produção será redistribuído entre as outras quatro unidades de louças da Deca – João Pessoa (PB), Cabo de Santo Agostinho (PE), Queimados (RJ) e Jundiaí (SP) –, mantendo o pleno atendimento para todos os nossos clientes.”

A direção do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Vidro, Cristais, Espelhos, Cerâmica e Louça, que estava em frente à fábrica, ressalta que a unidade contava com mais de 400 funcionários. “Fomos pegos de surpresa com essa decisão de fechar a unidade”, destaca Clecio Ramiro de Lara, presidente do sindicato.

Recolocação

Também em nota, a “Duratex enfatiza que a planta contava com cerca de 480 colaboradores e que não tem como precisar o número exato de desligamentos, porque parte dos colaboradores poderá ser aproveitada em outras operações.” A empresa reforça ainda que “está prestando todo o suporte necessário aos colaboradores impactados e tentando minimizar ao máximo os efeitos da decisão, realocando pessoas conforme suas experiências e pretensões de carreira. Adicionalmente, informamos também que os colaboradores poderão contar com uma consultoria especializada para recolocação profissional.” Fundada em 1947, a Duratex é uma empresa brasileira de capital aberto.

Ex-funcionários dizem que fechamento foi surpresa

Para Schmidt, o início de julho só foi amenizado com outra notícia. Ele será pai de uma menina. “Fizemos a eco, minha esposa está com 4 meses e foi possível confirmar que é uma menina. Ainda não escolhemos o nome. Agora é correr em busca de emprego novamente”, ressalta ele, que antes de conseguir colocação na Deca, há dois anos, chegou a ficar três meses desempregado. “O mercado está muito difícil. O número de vagas é cada vez menor.” Schmidt, que mora no Morro do Paula, nos últimos tempos percebeu que a empresa estava com uma produção mais reduzida. “Trabalhava no setor que avalia e libera as peças da produção. Estávamos todos percebendo que a situação não estava bem.”

Para Schmidt e outros colegas de empresa como Daniel Cardoso, 20, também da classificação; Vagner Linhas, 36, da manutenção; e Juliano da Silva, 32, do industrial, o fechamento foi surpresa. Até mesmo para funcionários com mais tempo de empresa a notícia surpreendeu. “Completaria hoje (ontem) 29 anos de empresa. Na semana passada tivemos uma reunião que indicava alguma mudança. Mas não imaginava que a empresa fosse fechar”, ressalta Ecir de Vargas, 50 anos, que trabalhava no setor de fundição.

Para funcionários que estavam no local, a situação não estava muito positiva, mas poucos imaginavam a gravidade. Na avaliação de alguns, o espaço da empresa deverá até ser mantido como Centro de Distribuição. Sobre o que motivou o fechamento, na avaliação de ex-funcionários, foi a crise que tem se intensificando nos últimos anos.

“Nos preparamos para um Brasil que não veio”

“Nos preparamos para um Brasil que não veio”, afirmou o gerente industrial da Duratex S.A, Eduardo Donizete Carobeli, ontem, durante reunião solicitada ao prefeito Ary Vanazzi e secretário de Desenvolvimento e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Tecnológico, Rafael Souza, após o fechamento da unidade.

O gerente solicitou o encontro para esclarecer os motivos que levaram o encerramento das atividades. Segundo ele, o aumento do preço do óleo, a questão tributária do Rio Grande do Sul e a baixa do PIB no setor de construção foram alguns dos fatos que acarretaram a situação.

Carobeli afirmou que não havia nada a ser feito pela Prefeitura para evitar o fechamento já que a empresa não vislumbrava melhora no futuro, e que a decisão vai ao encontro do momento vivido nacionalmente com baixas no setor da construção civil.