O futebol é um reino

Bom dia!

Calma que se tu achou a algazarra de ontem muito grande, espera que mais tarde periga ter muito mais!

Sério: vejo muita gente criticando quem torce para seu time, quem está feliz da vida com a vitória do grupo criminoso Flamengo na Taça das Favelas Libertadores. Que o povo exagera, a gente sabe bem. Sempre tem aquele retardado que vende o carro pra ver a final do campeonato do seu time do coração, outros que poem nomes de jogador em tatuagens, nos filhos, etc. Sempre há em qualquer aglomeração os radicais e aqueles meramente retardados.

Mas, o assunto é outro e falo simplesmente do caso: Não vejo nenhum problema em o cara curtir seu futebol, gastar seu dinheiro com o amor ao time. Vi e li muita gente falando aquela história de “ópio do povo”, alienação, “quando o povo amar seu país como ama um time de futebol” e etceteras… Em geral, isso é um saco.

Porque temos de exercer nosso Liberal Side para avaliar a vontade do outro: É lícito? É saudável (o ato de torcer, não se inclui o que você faz de ruim e violento para lidar com as frustrações deste torcer)? É com SEU DINHEIRO? Não está prejudicando alguém? Então não tem problema!!! Sem essa de bastião moral, o cara que trabalha,paga suas contas, cuida da família e tem seu time, sua paixão (meio bisonha, ok) por seu time de futebol não tem de ser recriminado, ele apenas escolheu algo para si, dentre as inúmeras possibilidades de coisas merdas que ele poderia fazer!

Parte dos socialistas que conheci não tolerava ou não dava nenhuma importância ao senso coletivo do futebol, a este “sentimento de floresta”, de comunidade. Incomoda a quem acredita no tal “poder do povo” a ideia de o tal do povo se reunir deliberadamente e voluntariamente, se organizar e identificar com símbolos, normas, bandeiras e estandartes, termos, uma linguagem!, sem ser para a derrubada do poder e a criação da alucinaçao marxista deles.

Futebol é um reino, é tipo um roteiro de Game of Thrones, ou um Senhor dos Anéis. Além de uma mitologia e hierarquia de pessoas em que o nome do passado tem tanto ou mais peso do que o nome do presente, e que servem de parâmetro e referência aos novos adeptos. Todo time tem uma história assim, claro que não é mais do que a representação heroica de fatos comuns,mas a História – oi, Bloch – tem esta exata função, a de criar o tecido sobre o qual qual a existência da sociedade é bordada.

Pois é, futebol é um reino sebastianista. Gostem ou não é esta a imagem que se tem ao analisar qualquer historia de futebol. Times sem memória, sem fatos heroicos, sem a transmissão de uma cultura social, uma “kultur” aos seus afiliados, sem fazer as crianças reconhecerem seus sonhos nos caras do presente, e se identificar com o processo de luta do seu grupo – isso é sebastianismo, a crença em um retorno triunfal futuro em que você faça parte desta nova euforia da vitória…

Futebol é parte da civilização. Ele apenas substitui outras formas de conflito social organizado. A civilização não nos dá o direito e sair massacrando nossos adversários pra lhes tomar terras, dinheiro, mulheres (bem, tem uma galera que até faz mas aí…), et al., então temos de extravasar esta carga de tensão e estresse em algo. Aí entra o esporte coletivo, ora essa. Não a toa o agitador social, o baderneiro nao gosta, nao o tolera. Pois o esporte atenua a tensão social que é o motor dos revoltosos.

Notem que não estou fazendo apologia da passividade. Quem protesta pacificamente vai para a rua sabendo exatamente o porquê de sua caminhada. Não há a necessidade de uma catálise desta revolta social, até porque a revolta é destrutiva se não está acompanhada de uma reflexão. Ir pra rua e quebrar um banco é o sonho de boa parte dos bananenses, mas a culpa por suas desgraças não é necessariamente e exclusivamente do banco. Lance é separar bem um e outro tipos de protesto. Ás vezes achamos lindo o quebra-quebra quando afeta quem a gente não curte, mas isso é mera pilantragem moral.

Bem, bom dia, e relaxem, com um pouco de sorte amanhã o Hell de Janeiro irá virar o caos!