O instinto mais primitivo

Bom dia.

Nos defender é o instinto mais primário que conservamos desde o nascimento. Desnecessário explicar que o medo é exatamente a conversão psicológica deste instinto primitivo, básico. E provavelmente é exatamente a nossa capacidade de operar mentalmente sobre este instinto, a capacidade de suportar, de manejar e realizar tarefas sob uma atmosfera de medo, uma das mais importantes do que chamamos de “humanidade”.

Ninguém venha achar errado ter medo de situações bizarras e totalmente atípicas como a de nossos últimos dias. Eu pessoalmente entendo muito bem isso, até por ter medo também. Autopreservação, nós temos esta manha de julgar até onde podemos nos arriscar diante de uma novidade, de um imprevisto. Julgamos se vale a pena ofender o oponente, forçar uma ultrapassagem, dar um salto sobre as pedras do rio, tomar aquela bebida estranha na balada. É um instinto natural refugar diante de um obstáculo diferente.

Resumindo, não há nada de errado em termos certo grau de medo, de temor de uma mudança de vida digna de alucinação de série de TV a cabo. Isso é o LÓGICO. Em um combate você jamais desejará ser subordinado a um sargento corajoso, arrojado, destemido – a falta desta capacidade de avaliação, ou o excessivo teste dos limites deste senso de autopreservação deve ficar restrito aos que preferem, e aos momentos em que realmente VOCÊ deve agir com arrojo, com destemor. Na vida real, há momento pra tudo.

Tendo dito essa explicação inútil, vamos aos fatos.

Muita gente favorável ao governo e ao presidente e aos ideais conservadores, está gradualmente “desanimando” deste apoio, diante desta novidade que é a Peste Chinesa que nos começa a assolar. “Muita gente”? não, não é bem assim.

Muitos de nós, amigos e colegas esperavam medidas mais drásticas do governo. Esperava um comportamento de estadista do Biroliro, esperava ações de força, definidas, focais. Nada disso houve, não é? Não, não é. Pessoal esperava coisas espetaculosas, militarescas? não vai ter. Porque nao adianta. Falamos tanto e por tanto tempo aqui no blogue que o país levará décadas para se reorganizar, e que confiar no Estado para qualquer coisa é complicado, pois tudo está meio desmontado, desconjuntado? E agora numa crise totalmlente fora de esquadro, se esperava organização da parte de quem?

Mais: Tem aqueles que vêm culpar o presidente. E DESDE QUANDO o presidente tem poder para de punho, fazer coisas aqui? não estão vendo o que estamos passando deste ano e pouco de governo? Congresso conseguiu a suprema canalhice de quase atrapalhar as medidas para a contenção desta Peste Chinesa por capricho, por pouco não travando a declaração de calamidade? Aí o jornal vem encher a bca culpando o Biroliro e o cara me vêm falando que “não acredito mais no presidente, ele podia ter feito muita coisa, tou arrependido” etc… etc…

O cara diante do medo virou isentão. Prefere arrumar um culpado nominal para uma crise global, prefere abandonar o apoio ao presidente para estar “do lado certo” quando ele for derrubado, cassado, preso, sei lá mais o quê. Eu olho a internet e vejo pessoal delirando de prazer vendo videozinho do Doriana simulando mandar pra caramba, fechando isso e aquilo, nossa, que homem, uhu. Em questão de DIAS negada já quer correr e abraçar o primeiro cara que via garantir grana estatal pra todos. Autopreservação.

Longe vai no tempo quando o pessoal do blogue primitivo debatia longamente sobre como se proteger diante de uma situação radical, de caos, desordem. Se debatia como guardar comida, onde por as coisas em casa, o que era relevante e o que era supérfluo, que tipo de situação seria o gatilho para um recuo estratégico. Pessoal pensava que seria da conta DELES MESMOS se preservar diante de um estado de exceção, de crise, convulsão social. Pois o Estado não daria conta de cuidar de tanta gente. Simples assim. A gente pensava (eu mesmo não ligava muito, confesso) em como lidar com o caos.

E o caos chegou.

Quem é mais cabeça acabou introjetando certas coisas deste tempo. Ter estoques em casa, quem pode, armas. Morar em lugares seguros, evitar depender excessivamente de terceiros, ter alguma reserva de emergência, elaborar um “plano B” para uma contingência qualquer, acompanhar cautelosamente a evolução das crises políticas, pois sempre irá resvalar algo em nós, daqueles encontrões ideológicos e economicos… Ter cuidado e “acompanhar os sinais” sempre foi a regra. O “Stay Alert”, nos manter de prontidão.

Quem é mais vulnerável ao medo generalizado, ao “olor de morte”, vai abandonar suas posições e tentar encontrar soluções imediatas. É o cara que entope o carrinho de supermercado de papel higiênico e alcool gel, corre na farmácia pra comprar o remédio que cura ele nem sabe que problemas da nossa Peste Chinesa, que vai caçando o cara que prometer mais proteção e segurança diante do mal para o seguir – Se o Vizel mandasse o BOPE por uns caveirões fechando a Dutra, o povo aplaudiria freneticamente esta imbecilidade, por exemplo.

Temos de ter calma, até porque já sabemos exatamente o que vai acontecer aqui. Calma serve para cuidarmos das nossas familias, de nós mesmos, sem o desespero que nos leva a cometer erros sérios, a fazer coisas absurdas. Eu obviamente tenho medo pra caramba, mas não posso deixar este medo me governar. Tenho de trabalhar, trabalho em hospital e a maior parte do pessoal está em casa, e alguém tem de fazer a parte local das tarefas. Temos de nos cuidar, de cuidar das nossas casas, pensar em estratégias pra mais tempo, uns seis meses, porque fatalmente esta crise vai perdurar até bem depois de debelarmos a infestação. Quem fala em maio, junho, não tem ideia do estrago na nossa economia, na nossa sociedade.

Tenhamos calma, mandemos os isentões para os infernos, pois estes não são de confiança para nada, e nos ponhamos a organizar nossas vidas, planejar porque este será o primeiro Inverno da nossa vida recente. Os velhos? eles passaram vários “invernos”, por isso a maioria não tem medo deste caos. Temos de cuidar deles, precisamos olhar por eles. Eles olharam por nós quando os “invernos” passados se abateram sobre nossos pais, sobre nós. É com isso, e não com frescuras, picuinhas verbais, que temos de nos ocupar.

Bom dia!