Sobre a natureza violenta dos amigos

“Não pode orar “Deus mata meus inimigos”. Mas não precisa orar “Deus fortalece meus inimigos”, “Deus abençoa meus inimigos”, pois se eles ficarem fortes vão vir me prender. Então a única oração possível para nossos inimigos é “Senhor Deus, converte os meus inimigos e esses políticos em verdadeiros cristãos”.

Se Deus vai fazer ou não isso é com Ele. Mas vc fez a sua parte e obedeceu a Jesus.”

“Se Deus existe, ele me fez o animal mais perigoso da terra, não tem pra tigre, dinossauro, elefante ou tubarão. Da mesma forma que eu TENHO que comer carne, porque fui CRIADO assim, é minha natureza, não é esperado de mim, uma criatura consciente, mas naturalmente BELIGERANTE, que eu dê a outra face.

Se os “santos” fazem isso, deve ser da natureza deles, a minha natureza é proteger quem me importa e mandar bala em vagabundo.”

“Eu sei que Jesus nos ensina que não devemos julgar e ajudar na conversão dos pecadores. Mas estou mais para tentar expulsar demônios num ato de exorcismo do que ficar rezando pela besta enquanto ela vai ganhando adeptos.”

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Bom dia.

Peguei essa conversa perdida no blogue, e achei engraçado, interessante. Sim, porque é uma cosmovisão do que é a fé cristã, e é exatamente uma questão muito séria do nosso tempo. A história da civilização judaico-cristã é coalhada de enorme violência a favor e contra este povo.Fato, não tem necessidade de puxar debaixo do sovaco uma bíblia e ir citando versículo a versículo todas as mortandades já efetivadas.

E vejamos que SIM, povo ainda tem essa visão, essa crença de que a fé é necessariamente a associada maior da nossa noção violenta de construção social. São Jorge, o capadócio que matava mussumanos e empalou o Dragão montado num Alazão, é o maior dos santos da nossa cristandade latina. Uma coisa é você pregar a Palavra, outra é ir passando a espada em quem resolveu que iria te matar apesar Dela. Isso é a gênese do cristianismo ibérico.

São Jorge era probelma antigo com os árabes, e depois que Maomé chegou e entendeu que era pra fazer igual, a confusão aumenta. Europa vai ser arrasada pelos caras e somente os cristãos mais violentos e sediciosos dão conta da parada. Carlos Magno era violento a rodo, e seu povo teve de destruir os mouros pra dar uma trava naquele pessoal que, basicamente, estava fazendo exatamente a mesma coisa que os cristãos acabariam fazendo séculos depois, impor sua fé pela força.

As cruzadas vêm disso aí, dessa confusão e do fato de que Jerusalem era um cidade islâmica na época. A retomada foi a loucura de toda uma época dos europeus, que se dedicaram absolutamente a ir lá – LÁ, olhem os mapas e vejam a distância entre a Terra Santa e a Europa Central – expulsar os mouros da cidade. E arrumar a confusão que permanece até hoje.

Quando o Vasco da Gama foi lá trepado naquelas naus fétidas, imundas e perigosas, meteu logo a Cruz naquelas velas pra já ir protegendo os barcos daquele Mar Tenebroso. Chegou em Calicute, o rajá de lá não deu ideia pra ele? Vira as barcaças de lado e soca canhonaço na cidade até os caras entenderem a mensagem. Demorou 24 minutos, naquela época não havia código Morse. E a Fé, o Império, e as terras viciosas foram devastando lá, Deus na frente.

E o Colombo, prometido a Deus que era de achar almas pra caramba pra tapar a sede da Igreja até a boca de gente, e acha a América?

Cortés chega no méxico e vê aquele troço louco de gente matando gente e gente comendo gente e gente pelada pra cacete num calor miserável destruindo e espedaçando marretando cortando maçando socando pisando destroncando torcendo rachando trepanando a pedrada queimando destrinchando eviscerando gente e altares enormes empilhados de gente aberta igual porco e os caras matando eles, os imimigos deles, os filhos deles, os índios que passavam de bobeira por lá.

E aí, faz o quê? Aquilo é o que? o INFERNO. E passa a espada em geral, mata tudo, pra não sobrar ninguém que não aceite de boa virar cristão em troca de sei lá, viver. E tem cem civilizações iguais no mato e aqui na BNN é a mesma merda, e demorou cem anos pra todo mundo se convencer de que índio tinha alma.

E lá em França a Joana nasce, e como toda francesa é mais macha do que os caras, Deus dá a ela a tarefa de resolver a Guerra com os ingleses e lá no campo ela arruma uma arruaça dos infernos, e vence, e destroça, e vira santa e os babacas franceses entendem tudo errado e a tacam na fogueira, pra depois todo mundo a reverenciar como o São Jorge francês.

Enfim, a fé cristã, a cultura judaico-cristã está permeada dessa coisa de violência. Mas a evolução da cultura cristã e da cultura judaica foram exatamente na direção da supressão da violência física em nome da coexistência e da permissividade em relação a outras religiões e principalmente, outras estruturas de poder. É o discurso de Paulo de Tarso, que pregava aos cristãos perseguidos pelo Império Romano: evitar a violência para se manter vivos e poder propagar a fé. Se ficassem batendo de frente com o Imperador, acabariam todos mortos até o último.

A pacificação do cristianismo, esse processo lentíssimo, é uma das causas da sua perenidade. Pedro andava com a espada mas Jesus pediu para que ele não a usasse intempestivamente. Povo quer sangue, quer São Jorge pelejando, quer o Sebastião Matamoros lá no alcacér fazendo seu trabalho. Mas o cristianismo tem disso: Evitar a violência, e usar a força com justiça. É um bom conselho pro povo medievo, com certeza.

Bom dia!