Um Plano de Saúde

Bom dia.

Uma coisa que vem me deixando preocupado, genuinamente, é a quantidade de pessoas nos meus círculos de amigos/conhecidos/ouvi falar que atualmente não têm nenhum tipo de plano de saúde, nada parecido com assistência privada. Eu vejo isso com cada vez mais frequência, e isso genuinamente é mau, pois temos de ponderar umas coisas aí.

Eu entendo que muitos aqui têm uma renda média que perfeitamente consegue absorver os gastos cotidianos de saúde. Mulheres precisam realizar seus procedimentos de rotina, homens só vão ao médico quando o câncer está atrapalhando a cerveja do sábado. E no Brasil temos um problema enorme que é a desordem absoluta dos planos de saúde e da sua entidade gestora pública, gratuita e de qualidade,a ANS.

Daí que temos hoje quatro grandes grupos de pessoas:

• Os que têm plano de saúde ligados a empresas e caixas de socorro, que pagam pouco em relação ao Bradescão Saúde Premium 4000 que possuem, pois as empresas bancam forte e subsidiam. Esses estão OK, pega nada e dá pra ir na clínica tomar café nespresso toda quarta-feira. É muito pouca gente nesse meio, e a maioria é de multinacional e do Gobierno.
• Os que têm plano de saúde em participação, aqueles “saúde de grupo”, cooperativas, e afins. Esses são a maioria mas são uma galera enrolada. Pois pagam meio caro em planos que atendem ao sabor das conveniências e demandas das administradoras, em estruturas que fazem os gestores do SUS ficarem todos molhados de inveja, tamanha a ruindade e a sobrecarga de clientes enquanto aumentam preços como dá na telha.
• Os poucos que ainda mantém planos tradicionais, daqueles “familiares” de antigamente, que hoje penam pra conseguir atendimento enquantro pagam sempre caro, mas pelo menos na hora da crise têm como internar sem precisar implorar para o plano liberar. Esses, se piscarem, as operadoras sacaneiam. E elas avacalham bem, acreditem nisso.
• E a ninguenzada que vive pela graça de Deus, são coisa de 77% da população que depende basicamente do SUS. Assim, SUS é 0,00008 ou 80000. Ou você vai passar por momentos de genuino terror em uma emergência de hospital geral, num calor desgraçado junto de 200 pessoas berrando, gemendo, sangrando, brigando e morrendo pra não ter a menor ideia de como, se e quando será atendido por alguém que você jamais saberá o nome e te atenderá em dois minutos com um pedaço de madeira do lado da cadeira, por precaução…   Ou você poderá ser atendido com tecnologia de ponta em um hospital de primeiro mundo, por médicos com mais diploma que o FHC e materiais que humilham o sirio e libanês pelo tempo que seus problemas e as pesquisas clínicas permitirem. Aqui é hard.

Então quando você decide que não vai mais pagar plano de saúde, você tem de ponderar bem se realmente dá pra viver sem o maldito benefício. Sua cidade tem uma estrutura do SUS que dê pra ser usada? Se você vive no nordeste não, NÃO TENTE. Pois o custo médio do SUS por paciente é menor no NE do que no sudeste. Quer dizer, o SUS gasta menos com o paraíba do que com o paulista para um mesmo atendimento. E você caindo nessa arapuca, já sabe…

Vou dar uma ideia aqui. Uma vez me perguntaram sobre isso.

Se sua cidade é pequena e tem uma rede do SUS, dá uma boa olhada, usa o google, e procura a ESF da sua cidade. Que que é isso? A Estratégia de Saúde da Família. Por exemplo, a da capital de SP é esta. E que é isso? é o mecanismo que o SUS tem pra chegar na sua casa e te atender de forma regionalizada. Então, você TEM de conhecer o pessoal do PSF, o “postinho” de seu bairro ou região, manter cadastros em dia e fazer as visitas programadas pra ficar “dentro” do atendimento do SUS ali no seu lugar.

As ESFs servem para pegar você, incluir em algum dos milhares de bancos de dados do SUS, crizar seus dados com alguns sistemas como o DataSUS, que monitora quem faz uso do sistema e qual o custeio pra cada tarefa; O SISREG, que é descentralizado mas é o regulador dos procedimentos de sáude a nivel estadual, e os cadastros de usuários das SES, pois os estados tem a obrigação de monitorar quem está doente e de quê, nos estados.

Daí você sendo incluido em uma ESF, vai (em tese) passar a ser acompanhado por agentes de saúde, que irão atualizar aquelas estatisticas, ver se tem atendimento médico regional para as doenças que você declarar e que forem verificadas por atendimento clínico. Se tem, beleza, tu vai ter de ir de vez em quando dar o confere e vai receber remedio da farmácia popular em casa, se for o caso. Se for idoso, tem acompanhamento adicional. Se for bebê, tem monitoramento de vacinação e pesagem até 5 anos. ISSO em tese, em municipios que efetivamente fazem o negocio.

NA vida real você terá por vezes de chegar B E M cedo em uma clínica para fazer atendimento clínico, e nem sempre conseguirá vagas, mesmo com agendamento. E às vezes demora MUITO conseguir agendamentos para exames. Exames complexos dependem da demanda, e aí… Emergência, não é com ESF, é direto no hospital regional ou PS ou posto de saúde. Pensem bem e façam mapas mentais de ONDE ir em caso de emergência. Nem sempre você será atendido no primeiro local que entrar.

Muitas cidades não têm ESF, e aí tu fica enrolado, pois dependerá somente do “atendimento de porta aberta” dos postos de sáude e hospitais. No Hell por exemplo a Baixada tem uma estrutura de SF muito superior à da Capital. Monitoramento de idosos, cancer, diabetes a domicilio mesmo, essa joça é eficiente porque é bem custosa para o SUS e dá muito voto. Sem uma ESF você tem de procurar o posto de saúde, a clínica municipal, “ver se arruma encaminhamento”…

No sul do país essa estrutura é muito boa. Pesa fortemente o senso comunitário mais desenvolvido do pessoal do sul (xerofobia on), a constante ajuda da iniciativa privada na estruturação de atividades de sáude públicas (empresário banca prédio, ambulância, postinho) e as condições de saneamento e segurança, que mitigam boa parte das “intercorrências não-naturais” que assolam os hospitais no SE e NE. Lá funciona, é pouco mas funciona. Não tente algo complexo, vai se desesperar.

Fuja de municípios reconhecidamente pobres. Não tem mágica, muncipio pobre sempre tem demanda elevada de atendimento público. Ah, “mas lá eu consigo a casa mais em conta e dá pra ficar bem, etc…”. Ótimo, então pague um plano de saúde. Não tem como o cara morar em Jaboatão e querer SUS. Não tem como o cara morar em Belford roxo e querer SUS. Não tem como o cara morar em Franco da Rocha e querer SUS. Não vai ter. O que tu economiza na infra, perde na manutenção da vida.

Vejam bem, eu nao estou advogando para ninguém acabar com plano de saúde, eu mesmo pago tem uma decada já, e não pretendo mudar isso. Mesmo morando em uma cidade com ESF funcional e ativa, com agente vindo na porta da minha casa me atender e fazer solicitações. Só estou falando que, se alguém está tendo essa ideia, deve primeiro analisar o que fazer com a estrutura existente, e pensar bem se é viável a mudança de foco e de gastos.

Bom dia, e não façam bobagens, ok?????