Vai Ter Copa?

Bom dia!

E a copa?

É muito engraçado o negócio. Futebol sempre foi algo estritamente agregado à política. Botem aí uns cem anos, e teremos políticos se metendo em futebol para seus interesses ou de seus grupos e aliados. Futebol é apenas esporte até o dia em que os moleques da beira do rio resolvem apostar uma caixa de cerveja pela melhor de dez. Como qualquer esporte, futebol é uma forma de extravazarmos nossos maus sentimentos sobre o Próximo. Eu Odeio o barrigudo da van, mas não o ofenderei… até o dia em que ele vier trabalhar com a camisa do Vasco. Futebol é política, catalisa nosso ódio e rancor em nome de algo coletivamente palatável, quase saudável. Civilização. Menos o corinthians, esse não tem como ser.

Estava lembrando de como a gente entrou nessa espiral destrutiva de odiar o futebol e passar nossas lutas e desastres sociais para a guerrilha virtual. Foi quando o futebol começou a dar sinais reais de que era uma grande marmelada global, açucarada com muita grana de patrocinadores e com marquetingue a zóio pra dar liga.

Em 1998, a gente percebeu como esse negócio de marmelada era sério. Sem chance, é tipo uma unanimidade absoluta a ideia de que esse beribéri do Ronaldo Travequista foi um negócio forçado, na base da mão gorda mesmo. A gente até torcia a sério, mas o time não fazia seu papel durante a copa inteira, era um sofrimento só. Provavelmente foi empurrado até a final. Aí nos acontece isso daí. Brasileiro tomou a pancada e sentiu.

Lentamente o bananense médio foi se focando mais no clubismo, abandonando gradualmente o interesse pelas seleções – nem tão selecionadas assim – nacionais. Pegamos gosto em ver Champions transmitida na Manchete, ver campeonatos europes em seus tempos de esplendor – e também cheios de patifaria – e mesmo com uma copa bem-sucedida em 2002, a coisa foi degradando lentamente. A “seleção da Nike” virou um problema grandão. Jogar amistoso com timecos, técnicos sendo obrigados a por os caras do patrocinador, estrelas criadas à base do grito do Galvão… Perderam a seriedade com a coisa toda.

Jogadores de maior cacife e grana, no final dos anos 2000 – Quem se lembra da copa de 2006? – já estavam ensebando para ser selecionados, marcando que o status de ser “convocado para a Seleção” estava se esvaindo. Não valia a pena jogar e ser desprezado como um Rivaldo foi, intensamente. Quem tinha esquema, não precisava de seleção, os europeus náo contratavam olhando amistoso da nike com o zimbabwe. Chegamos aos anos 2010 na vala mesmo.

***

A gente sabia que de alguma forma ia dar merda. Claro, o futebol foi perdendo sua capacidade de entreter e gerar conflito saudável, e foi sendo lentamente absorvido pelos dramas que a polarização política dessa década nos trouxe. Você pode me dizer que “peralá, mas o Médici também fez isso!”, me lembrando diretamente de toda a mística poderosa da copa de 1970 e a catarse absurda que o evento criou no país.

Só que a Seleção de 1970 era A SELEÇÃO DE 70. Rivelino em sua vida toda ganhou menos grana do que o bonde do daniel alves em um ano na europa, Pelé era O PELÉ, e tu tinha A SELEÇÃO. E tinha o Brasil Grande, um negócio que nenhuma historiografia consegue explicar racionalmente, aquele troço de todo mundo se enfiando no mato, indo prassumpaulo, a riqueza sendo criada numa velocidade absurda, o primeiro mundo ali do lado, etc… Era uma desordem, não tem como medir com a régua de hoje.

Veio a Copa, fomos humilhados.

A gente não vinha lá muito legal desde as eliminatórias. Já estava insuportável a mídia sobre a “nossa copa”. Muito mesmo. Estávamos no rage selvagem das primeiras grandes manifestações contra o governo da Anta, e nesta época, já havia o tal do “não vai ter copa”. Sim, ué. Os amigues da esquerda melitante estavam nas ruas pedindo pra “não ter copa”. Hoje a gente sabe que era jogo de cena pra criar um cinturão de defesa ao governo, e quebrar as manifestações contra a Anta via black blocs e outros bandidos.

Povão sacou que a coisa estava degringolando, com a imprensa sendo no mínimo leniente para com a baderna, e fazendo de tudo pra esconder as manifestações enormes que pipocavam nas cidades do país… e já partiu pra ofensa gratuita, violenta e sem nenhum tipo de preocupação moral, que é o jeito certo. E no local certo, o que é o mais importante.

Corta pra Oito de Julho de 2014. 

O 7 x 1 cristalizou a ideia de que a seleção não vale nada mesmo. Vejamos que depois de 2014 foi só ladeira, com a Nike exigindo trocentos jogos sem nenhuma função, jogadores inexpressivos e resultados medíocres, além das papagaiadas do menino nei e cia. Brasileiro perdeu de vez o gosto pela Seleção. Até a camisa da seleção hoje, pasmem, é problema para alguns mais sensíveis, pelo motivo mais bizarro possível. O mundo cansa e o Meteoro não vem.

Hoje vemos uma galere sebose e metide a beste pedinde para que não tenhamos Copa América. Esqueçam eles, são ninguém na fila do pão. São pessoas que perderam o bonde da evolução política do futebol, e acham MESMO que tem tanto idiota assim no país. Até motim na seleção, está havendo. Bizarro ver pessoas que ganham milhões por mês fazendo isso por política. Eu pessoalmente nem ligo pra futebol de seleções, depois que ficamos velhos, passamos a torcer só para o nosso time, e olhe lá. Nem vale tanto a pena assim, aliás. Mas a estupidez do pessoal do chilique não pode passar em branco, claro.

Bom dia, e relaxem, se jogo da seleção desse feriado, eu também torceria muito! 😀