Vida é escolha – CVR do Bananense

Eu li o CVR do Bananense, e ali há uma ideia que eu falo sempre: todo mundo tem escolha, só que algumas escolhas são mais radicais do que outras, custam mais, exigem mais sofrimento Eu vi a semana toda gente falando que o cara mora na favela porque não tem opção, que prefere ficar no barranco despencando “por falta de opção”, que cria os filhos junto do tráfico por “falta de opção”.

Ontem eu estava de bobeira e vi um pedacinho de um documentario na TV Brasil: era do espanhol que projetou o conjuntinho habitacional da Rocinha, no tempo do Cesar Maia. ele se lamentava de a favela permanecer podre e fedorenta, cheia de vala por toda parte, e de a população não ter “comprado a ideia” da mudança que ele planejou a partir de seu projeto. E que a população “não tinha opção” a não ser viver ali, e isso devia ser mudado com a ajuda do Estado.

As pessoas ali preferiram viver no meio da lama e do esgoto porque, pouco depois, um morador explicitava o caso: “Daqui em dez minutos a pé a gente chega na praia de São Conrado, onde tem os turistas”… Simples. O pessoal lá ESCOLHE e ponto. Quem não escolheu, saiu. E pra onde foi? Baixada, por exemplo. Aí entra o CVR do Bananense, pra exemplificar o que são as tais “escolhas”. Bom dia!

E VOLTA, BEBÊ!

***

Minha família por parte de pai começou a vida em Belford Roxo. Vou contar a história.

Minha bisavó foi deserdada pelo meu tataravô (que era muito rico) por ter se casado com um pobretão trabalhador braçal (meu bisavô). Ela teve 2 filhos: minha vó e um outro filho (meu tio avô). Minha bisavó faleceu por causa da gripe espanhola; minha avó também pegou a doença e ficou em isolamento para morrer com os demais infectados. Por milagre sobreviveu.

Depois de pouco tempo meu bisavô foi obrigado a dar o meu tio avô para adoção por absoluta falta de condições financeiras de criar os dois filhos.

Minha avó já era grandinha e ajudava meu bisavô nos serviços de casa e quando ficou mocinha se casou. Teve um filho (meu tio mais velho), mas logo em seguida o primeiro marido morreu. Meu bisavô tinha falecido pouco antes.

Meus tataravós, além da minha bisavó que foi deserdada, tiveram mais um filho que também morreu da gripe espanhola, ele fazia Medicina na época e não deixou filhos. Tinham grandes propriedades na cidade do Rio de Janeiro, fazendas pelo Estado, criavam cavalos de corrida… e com a deserdação da minha bisavó acabaram não deixando herdeiros.

Com o falecimento dos meus tataravós, uma tia solteirona da minha bisavó herdou tudo. Vendeu grande parte das propriedades, abandonou outras (uma grande favela do Rio está em terras que foram da minha família) e foi terminar a vida em Londres. A herança deve ter ficado toda pra rainha da Inglaterra…

Finalmente chegando a Belford Roxo. Minha avó, viúva e com um filho pequeno, conheceu o meu avô (também pobre) e começaram a vida em Belford Roxo. Meu pai nasceu e passou a infância lá. Depois moraram em Mesquita e Honório Gurgel. Só lugar selecionado!

Posteriormente, vieram para Bizarrília e foram morar na cidade satélite do Gama q fica uns 40km do centro do plano piloto. Na época, havia uma prova de seleção para as escolas públicas. Meu pai tirou notas altas e foi para a melhor escola em que também estudavam o ex-senador Paulo Octávio e o ex-presidente Collor!

Daí em diante a história do meu pai foi de sucesso profissional em um trabalho honesto, diferente dos colegas de colégio, e hoje está tranquilo.

Meus avós faleceram há alguns anos, terminaram a vida morando numa casa muito boa em um dos melhores bairros da capital deste paiseco (Lago Norte).

Hoje o meu pai e tios estão muito bem financeiramente. Nada que chegue perto do que poderia ser se tivéssemos recebido a herança pela minha bisavó, mas meu pai mora numa casa ainda melhor que os meus avós passaram seus últimos dias, no melhor bairro da capital (Lago Sul). É vizinho de general, ex-governador, procuradores, magistrados, embaixadores… vindo de Belford Roxo!

Meus avós e meus pais conseguiram tudo começando do zero! Com estudo, muito trabalho, suor, lágrimas e fé. Todos os dias eu tento seguir o exemplo deles!