Um pitaco sobre Moroman e Biroliro

Bom dia. Olha a minha situação.

Acordar de madrugada, pra pensar num tópico pra hoje. E isso depois de mais uma sexta-feira absurdamente zuada, aleatória. Bem que o Ugo estava rindo mais cedo da pícara sonhadora que seria ter de falar alguma coisa da doideira que foi a saída do Moroman do MJ. Mas estamos aí, e os amigos também esperam uma opinião, já que ainda estamos meio sem uma coesão, e se duas pessas repetirem a mesma ideia o PP alguém vai dizer que é narrativa paga por Mb no twitter. Relaxemos, pois ficar em pânico nem é mais necessário, cansou… e SIM, também achei que o Biroliro ia fazer uma doideira ao vivo… Affe.

Em primeiro lugar eu não sou nenhum desmemoriado. Moro prestou serviços excelentes ao país. Nisso sou grato a ele e ao seu trabalho na Lava-jato. Sem dúvidas creio que ele é parte importante do processo de modernização política do país atual. Acho ruim o pessoal que por estar (genuinamente) puto com o cara, vai chamando ele de n coisas, apagando o seu passado de bons serviços a toda sociedade. Meu lance é História, então eu me pego olhando pra trás sempre. E não tenho essa razia de apagar fotos de desafetos. É desnecessário, podemos criticar sem “deletar”, como costumam fazer os JSW da vida.

Neste contexto é que fica minha opinião sobre o Moroman: Política é para políticos. Não há como um juiz, dentro de sua moral pessoal e exclusiva, se enquadrar na teia fina e complexa de relações que a política – qualquer política, de qualquer lugar e tempo – exige. Podem ler a Bíblia, podem ler Shakespeare, dá no mesmo. Política é a arte de engolir sapos. E quem não topa isso não DEVE fazer política, ninguém é obrigado a nada. Moroman achou que poderia sair virgem da grande suruba universal que é a política. E ele está certo em sair dela assim que percebeu não ser possível se guardar indefinidamente.

Foco no caso gerador dessa celeuma toda, bem rápido, geral já leu isso 500 vezes: Biroliro prometeu independência ao Moroman. Moroman prometeu agir pelo país. Biroliro queria que a PF agisse mais a favor do governo, ou de seus interesses – em nenhum momento Moroman disse em relação a que Biroliro pedia “atenção especial” da PF – e reclamava da inércia de Moroman e de ações da PF contra pessoas e grupos que o Biroliro identificava como “positivos”, como os manifestantes contra a quarentena, ou o pessoal do porte de armas. Sintomaticamente estes dois temas surgiram na semana passada, logo após a tomada de posição do Biroliro contra o Gordinho.

Moroman queria autonomia, e queria manter Valeixo, seu homem de confiança, na PF. Foi promessa do Biroliro a não-interferência no MJ, a “carta branca”. E neste contexto veio o conflito inevitável. Pois a PF estava não apenas agindo em desacordo com o que o Biroliro pretendia, mas antes, se recusava a resolver questões seríssimas, como a óbvia questão da facada, do Adélio, a qual o Valeixo era diretamente ligado, e outras menores, como a lentidão na evolução da operação Lava-jato e a falta de ação contra políticos em mandato atual. Biroliro queria a PF mais ativa, mais assertiva – a favor e contra quem, exatamente, ainda não sabemos.

Já há a narrativa padrão de que Biroliro queria proteger os filhos através da PF. Mas Moroman não falou deste assunto, e ademais, o caso que em tese seria o mais grave, o do FB, é amplamente conhecido, e a oposição tem farto acesso a informações do tema, até saber onde o Queiroz está, já sabemos. Não há fatos novos na narrativa, até por termos a certeza de que em os havendo, estariam todos publicados nos twitters da vida ad nauseam. Mas não vou desconsiderar a hipótese, não me parece correto, até porque estamos aqui para pensar, raciocinar sobre um problema.

Fato é que o caldo entornou esta semana. Temos de tudo na internet, todas as teorias possíveis. Creio que a pressão abissal que o governo sofre tenha espirrado no Moroman, e este tenha a refutado objetivamente. Desta recusa em participar da crise atual – lembram? tem uma doença rolando aí – e a consequente pressão de todos os lados para que o MJ desse palavra, opinião sobre a confusão que a Peste Chinesa armou no país. Moroman não deu palavra sobre as arbitrariedades terríveis, sobre a desordem dos governadores e sua corrida afoita por ultrapassar a União nas tarefas da crise e quarentena, a própria anarquia desta quarentena, e o absurdo saque à União sob pretexto de “combater a doença”.

Moroman não tomou posição, e foi cobrado até pelos críticos, até pelo PT, e por aliados do governo, pela população. Em tempos de crise precisamos de todos os braços disponíveis. Claro que outros ministros também andam sumidos, mas até outro dia o Salles apanhava igual ladrão de cueca por causa das girafas da amazônia e o cara do turismo, bem… esse nunca prestou pra nada, mesmo. E tem a regina duarte. Mas Moroman é especial, ele tem poder derivado da confiança da sociedade, povo acredita nele. Ele poderia ajudar a dissipar várias questões. Mas se absteve.

E nesta abstenção chegamos ao caos atual, com ele pedindo para sair e acusando o Biroliro de ingerência sobre sua pasta. Friso: esqueçam esse lance de globalismo. Caso do Moroman é prinicipalmente ego e uma promessa quebrada pelo Biroliro repetidas vezes. Ego porque política é um arte que exige desprendimento moral. Tem de aceitar o que o cara que te colocou na cadeira pede, ou tu sai, é fato. É ilegal? sai fora. É inadequado? sai fora. É imoral? sai fora. Vejam que são considerações que variam da ilegalidade (crime), para a seara dos usos e costumes (inadequação) para a moral individual e social (imoralidade). Moroman teve motivos para pedir o chapéu e sair. Ponto.

Mas o Biroliro é o presidente e sendo assim tem poder para muita coisa. Como por exemplo exonerar um subordinado do ministro sem a sua anuência – dele, ministro. É quase um voto de desconfiança típico do parlamentarismo. Você aceita o voto e tenta melhorar a relação com seu chefe e seu novo subordinado, que pode ou não ser de sua escolha, ou discorda e sai por manifesta divergência. E o Biroliro tem seus motivos morais, usuais e legítimos para a queixa. Moroman não estava fazendo sua parte no governo, e ainda permitia à PF atender às queixas de críticos. Isso certamente estava gerando um desgaste enorme. Pensemos no Moroman como o Neimar no banco do PSG. É caro, tem talento, povo gosta. Mas só joga quando quer e no tempo em que ele acha suficiente.

Moroman certamente ponderou MUITO esta saída. Não creio em atabalhoamento. Não creio em imprevisibilidade, coisa feita com cabeça quente. Não é de seu feitio. E isso é o que relamente me incomoda – pois achem o que quiser dele, sua vida corre riscos fora do governo. Ele é figura essencial de boa parte do que temos de combate à corrupção atual, e tem muitos inimigos. Mesmo que sua saída tenha sido despropositada, e no pior momento do governo que ele escolheu apoiar, sua vida é um “ativo valioso” para muita gente. E Moroman tinha várias possibilidades para sua saída. Escolheu a mais espetaculosa, desagregadora. Foi uma escolha ruim, contrária a sua história, seus métodos.

Também acho que o Biroliro precisa se desgastar para manter sua relação de hierarquia. Foi um erro a promessa de “carta branca” ao Moroman. Não se deve prometer o que não se vai cumprir, a menos que você já prometa pensando em não cumprir esta promessa. Mas o biroliro é político e político acaba prometendo o que nao vai cumprir para angariar apoio de quem ele precisa. Friso também que a eleição dele não é fruto exclusivamente do moroman, mas muitos dos que votaram no Biroliro eram apoiadores do Moroman: não gostavam do Biroliro mas temiam que o Andrade mandasse prender e sumir com o moroman ao primeiro aviso. Pessoalmente, não mentiria para ter apoio de ninguém. Por isso jamais me interessei por política partidária. Política é a arte do possível, entendam como quiser.

Moroman não quis fazer política mas quis negociar politicamente. Sem chance. OU você entra para a política e cede em troca daquilo que é de seu interesse, OU você não consegue nem bala juquinha. Puxar a faca para defender subordinado é bonito e moralmente aceitável, mas seu chefe precisa gostar muito de você pra isso dar certo. Moroman não se sentia subordinado ao Biroliro. Cabeça de juiz, alma de juiz. Acreditou que podia bancar e perdeu. Obviamente nada disso precisava ser feito desta forma, Moroman podia ter aberto uma negociação real para ter o que desejava – nem falo do STF, que era algo praticamente certo para ele, mas da defesa de seu subordinado diante da pressão do chefe comum. Biroliro podia dar condições ao Moroman, estabelecer prazos. Virou quebra de braço, fim. Afinal de contas, o eleito foi o Biroliro e SÓ ELE pode exonerar individualmente um subordinado em cargo de chefia.

Nada disso, dessa “negociação política” aconteceu, e agora temos várias acusações, quase nenhuma prova, muita gente revoltada e estressada, e até o PT dando razão ao Biroliro enquanto bate palmas pra independêcia do Moroman, por exemplo. Escárnio, mas é fruto da confusão armada, faz parte ter de aturar o Fala Fina cacarejando na TV, achando-se no direito de falar alguma coisa, ou tweet da Amante esculachando o Moroman, por exemplo. Tosco, mas quem dá mole pra bandido acaba tomando tapa à toa. Zape de parente não é prova, falar que é não garante que a coisa “é”. Sem prova tudo vira achsmo, opinião, ofensa.

Minha aposta? Esqueçam impeachment. Não sai. Primeiro porque não tem crime ali enquanto não há prova material, e os dois lados precisam defender as suas posições com materialidade. Segundo, porque sendo crime privativo do presidente, ele sofre impeachment e o vice, Mourão, assume. E isso a galera alegre e cretina não topa nem morta. Terceiro, porque manter a vaca viva dá mais vantagem do que matar a vaca. Ninguém quer assumir o país AGORA, mergulhado em uma crise absurda e com um endividamento quase incalculável. Neste ponto concordo com o PP e outros amigos de blogue: Sai mais barato manter o Biroliro como “rainha da inglaterra” do que arriscar o caos social. O dinheiro a ser roubado já apareceu e muito deputado quer mesmo fazer acordo em troca de manter seus esquemas. Tudo lamentável mas previsível. E ainda chamarão o Biroliro de corrupto, no final.

Me perdoem não ter entrado em detalhes ou sido mais conciso, mas a insônia não me ajudou. Acordei e haviam mil mensagens no celular. Mil mesmo, nao vou ler, caramba. Só quero lembrar que cada um tem sua posição preferida, mas vou pedir sempre a calma para analisar o que estão te vendendo na imprensa, nas redes da vida. Dos dois lados tem gente interessada em impor seu discurso, e aqui somos um bom grupo, mesmo com muitas divergências. Peço respeito aos colegas, mesmo que estejam falando merda – temos de adubar o jardim da nossa vida, né? 😉

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Bom dia, e bem-vindos de volta, Çanguinolento e lgmk, a casa tá aberta enquanto o Ugo tiver paciencia de manter 😛