O Descaso Típico do Estado

Bom dia!

Estávamos nas últimas semanas, e falei sobre isso, no meio de uma enorme tempestade de anarcocapitalismo no nosso páis lindão e fofinho. Verdade que o povo está com toda a razão do universo em odiar o Estado com todas as suas forças, e sinceramente eu acho que o pessoal até é muito benevolente. Somos civilizados, parece. Ainda não rolou pancadaria e morte de funcionário público.

Então eu estava pensando bem nesse lance, até porque eu mesmo sou um agente do Estado, sou um Barnabé que está vivendo às expensas dos 39% de imposto que incide sobre tudo no nosso Universo, esse imposto erosivo, que cai como uma maresia radioativa sobre todo o patrimônio e todas as riquezas das pessoas, dilapidando a árvore na raiz, enfraquecendo seus galhos, murchando os seus frutos e os fazendo impalatáveis.

Eu sei o meu lugar e função nesse caos todo, e tem muito tempo que eu falo sobre ser o Estado o maior dos problemas, não por ele existir, mas por ter uma função básica diversa da pretendida. Não é só o Estado ser um ente próprio, com interesses e vontades alheias a nossa vontade, mas o Estado ativamente agir, como uma bactéria agressiva, na única intenção de se preservar e impedir que o Hospedeiro o elimine. Pensemos na toxoplasmose dos ratos.

Pois o Estado é imune à sua reclamação, cidadão. Você vai reclamar numa ouvidoria, né? Então: Isso é mais ou menos como você reclamar com a mãe daquele menino mal educado que tem a mania de tacar pedra no seu cachorro quando passa em frente ao seu portão. Desde que você não é John Wick, em dado momento vai conversar apenas para e certificar que os pais daquele pequeno babuíno são exatamente como ele na má educação e costumes.

Você vai reclamar em uma ouvidoria em que o cara que te ouve é igual ao cara que recebe a queixa, e igual ao cara que analisa a queixa e o cara que valida toda a análise feita, além do cara que irá dar providência ao caso e o cara que irá encaminhar a queixa ao cara que chefia o cara que fez a bobagem geradora da queixa lá na ouvidoria. Você sinceramente espera DE VERDADE que alguém irá atender a sua queixa?

O Estado é assim.

Não temos como simplesmente o comparar com a iniciativa privada. Tu olha aquela fila enorme no ambulatório do hospital às 5h da manhã de uma quinta e pensa “nossa, olha o sucesso do nosso hospital, toda a comunidade está aderindo à ideia, veja quanta fila na portaria esperando pra entrar!”… Não, não pensa. Não é a mesma coisa. Obviamente temos gente dentro que efetivamente faz o seu trabalho e até bem. Mas é tipo aquele trabalho de calceteiro, que coloca pedra portuguesa na calçada. Quando tá muito bom, escorrega. Quando tá mais ou menos tá feio e quando tá ruim você tropeça.

Quando Vargas inventou o Estado como conhecemos a intenção dele era exatamente a de filtrar pessoas e as especializar nas “funções de Estado”. Segregar, criar uma casta de pessoas afiliadas àquela noção particular de Estado que o fascismo italiano construiu tão detidamente – italianos são particularmente bons em fazer arte e leis ruins – e que seria a base da Nação Estatal, o tal Estado Novo que vocês certamente não ouviram falar na escola porque dormiram ou estavam debatendo o recorte da revista da Tiazinha e o episódio do Dragon Ball do dia anterior.

O Estado se pensa como casta e se forma como um grupo fechado em si. Beleza, passou na prova, tá dentro. Mas menos de 1% dos candidatos passa nas provas, em média. Olha a viagem… e esse lance de “servir ao cidadão”? ladainha, a maioria trabalha para si mesmo. Eu friso que tem sim aquela galera que trabalha com amor, com interesse real. Conheço várias pessoas assim e graças a Deus eu estou do lado delas. A maioria? trabalha, tem seus projetos, sua vida, artes, empresas (sentido figurado) E também trabalha no Estado. É apenas um trabalho como o do apertador de porcas.

Não espere criatividade ou emoção do cara do balcão no INSS. Não vai ter. Os militares modelaram o Estado Grande pensando exatamente em não dar margem para a criatividade e a habilidade da galera. A ideia na época não era essa. Só nos anos 1990 que o FFHH resolveu que o pessoal era ruim demais, e precisava realmente ajeitar porque o Estado não andava, era quebrado, acéfalo. Hoje té bem melhor por causa da tecnologia que obriga o pessoal a produzir o mínimo, mas onde o sol não pega? nada muda, ninguém liga.

É a ouvidoria: Se o problema não afeta alguém importante o suficiente para fazer a TV vir na porta da repartição de câmera em punho, trazendo o “sol” pra iluminar o problema? esquece. Se aquele cara com um milhão de seguidores não pegou o vídeo do carinha que fez merda e postou no instagrão? esquece. Não importa quem pede, importa mesmo é o ruído daquilo que foi negado. O Estado é mouco. Só funciona, quem diria, com pessoas seminuas aos berros dando cadeiradas em funcionários públicos enquanto lutam pela vida dos seus entes queridos. No amor, não vai. Nunca.

Bom dia!