O dilema do Manco

Bom dia.

Esta semana o pessoal andou um tanto tenso, uns com os outros. Eu sei o motivo, e ele é simples: passamos as últimas duas semanas encharcados com o desastre do RS. Acompanhamos um filme-catástrofe de Holiúde em tempo real, sem saber direito quem eram os bandidos, porque eles não apareceram até os mocinhos assumirem o foco da narrativa.

E isso nos exasperou, desgastou, cansou. CLARO, nada que se compare com o relato da nossa amiga, na semana passada, que fiz questão de transcrever para ilustrar o tamanho da encrenca que está apenas começando lá no RS. No entanto, gostemos ou não dos fatos, o pessoal lá já está sendo objetivamente adapatado à nova realidade, e de certa forma os gaúchos já entenderam que terão de dar jeito naquilo lá com ou sem ajuda.

E assim como eles lá estão lentamente tentando retomar a rotina e a vida, minimamente, nós nos voltamos aos problemas de sempre. Por exemplo, quem poderia imaginar que o Amigo do Amigo do Meu Pai daria moral pro Filho, exatamente no meio dessas confusões todas? Absurdo, claro. E nisso o povão começa a recuperar a péssima impressão geral sobre o andamento do país, levemente melhorada pelo trabalho imensamente importante do povo lá no Sul.

E com esse retorno à vida normal, a volta ao dilema do Herói. O cara percebe que seu mundo é imutável, que as “coisas” nunca mudam, e que o negócio é se imiscuir em algum canto e viver sua vida pachorrenta, sem sobressaltos e sem fazer guerra com ninguém. E sim, esse cara não quer ser julgado. Já fez um monte de coisas belas e morais, e viveu experiências dignas de um comercial de três minutos do Airbnb. Tem vivência, algum dinheiro em investimentos sóbrios e que lhe renderão um bom futuro.

Daí o cara não está genuinamente interessado em mudanças. Ora, o PT roubou e venceu as eleições, então nada mais natural que aderir ao rei de Plantão. Eu pego o caso do nosso amigo Manco. Olha, o cara é engenheiro, japonês e não morreu de DST ou tiro em Xapuri. Tem um sem-fim de projetos merdas e que irão drenar bilhões e bilhões de reais do GOB, do NOSSO dinheiro para que o Filho do Pai continue a agraciar a Gangue do Daniel e seus projetos de desolação nacional.

O Cara vai ter um mar de oportunidades de trabalho, de ganhar dinheiro. Ele lá vai ficar debatendo conjuntura social com a velhinha eleitora do Brizola no elevador do prédio? Vai gastar energia no tuiter xingando e ofendendo petistas a esmo enquanto faz piada das merdas que aqueles animais falam (muito gostoso isso recomendo)? Nah, o Cara não precisa disso. Ele não vai querer conflitos neste momento mais crítico.

Feito o nosso amigo do Telegrao, o Pracinha, que zerou a conta quando começaram a bater de verdade nos militares por causa do caos no RS. Quem tem projetos que se beneficiarão dessa desgraceira toda vai acabar sossegando e esperando o butim ser jogado na praça pra pegar seu naco.

VEJAM, eu não estou defendendo, é só uma constatação básica e elementar! Da mesma forma que o pessoal em dado momento vai parar de mandar donativos e fazer seu voluntariado no RS, o pessoal que percebe a janela de oportunidades irá se mover em direção a ela, e isso inclui com certeza um elevado grau de pragmatismo e controle do refluxo estomacal. FAZ PARTE.

Como os colegas comentaram nesta semana, nem todo mundo tem tempo de separar joio do trigo, nem todo mundo tem tempo e habilidade pra separar a má intenção da necessidade objetiva. Eu mesmo não iria achar que o Cara, ficando na dele e indo comer um biscoito da mão nodosa dos petistas, estivesse virando uma puta amoral comunista. Eles fazem longuíssimas seletivas e cursos de formação pro seu povo alcançar este nível, relaxem. Não faria mau julgamento de quem não fez o triatlo de puxassaquismo dos petistas mas se beneficia deste bando por capacidade.

Mesmo que eu sinceramente não creia que algo como um novo pressal surja no GOB atual, não posso mais ficar meramente sendo otimista, seja porque não vale a pena na atual situação, seja porque ser otimista exige a ideia de que a nossa situação não irá mudar radicalmente no curto prazo. E sabemos que as coisas andam mudáveis demais por aqui…

Bom dia, e cuidem da sua saúde mental. Vamos precisar!