Uma crônica de Brasília – Selva Brasilis

Bom dia!

Eu hoje estou postando um texto muito zuado de um daqueles caras que estão net a fora fazendo seu papel de encher o saco livremente. O Selva Brasilis tem um blogue fuleiro como o nosso e divide o face com a gente quando dá. É cola nosso, sem dúvida. Ele faz uma série de crônicas “não-baseadas-em-fatos-reais” muito engraçada, tudo falsidade, claro, e essa da semana em especial me fez rir muito, até pela caracterização do mafuá mais famoso de BSB, na opinião de quem nunca o frequentou. Só editei uma ou outra coisinha pra não dar rolo nos replies… Bom dia!

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O Conic fica numa área nobre em Brasília, ao lado da rodoviária, no centro da capital federal. Deveria ser um shopping de luxo, mas se tornou tudo, exceto isso. É um mélange, um bric a brac, de lojas e negócios que não se harmonizam, mas no fundo compartem a mesma essência: a sujeira, a desorganização, a putaria. Há cinemas que só passam filmes pornográficos, como a obra completa de Lucélia Santos, quando ainda era comestível, ou Xuxa, a ninfo devoradora de garotos de 12 anos. Há escolas de datilografia e auto-escolas, chaveiros e afiadores de facas, uma faculdade de arte.

Uma boa livraria com livros estrangeiros, uma livraria de livros exotéricos, que exibe Madame Blavatsky na vitrine, e a livraria Galileu, do PCB, com livros russos traduzidos para o português por quem não fala, escreve ou conhece a língua. Há saunas para as bichonas com dinheiro e o la bas, com sinucas, botecos e boites, que reúnem o crème de la crème da capital federal: putx as mais variadas e uma mixórdia de calhordas, vagabundos, traficantes, boysinhos e trabalhadores que só querem encher a cara, jogar sinuca e dar uma pirocada descompromissada. Por fim, escondido no subsolo, com porta lateral dando para uma avenida, há um restaurante chinês que cozinha um chop suey indistinguível entre o de camarão e o de porco, ambos com gosto de churrasquinho de gato feito de cachorros vira-latas que circulam pelas inúmeras latas carregadas de lixo.

Levei Karnalábrio (foco na menção) para tomar uma cerveja no Elias, o marmitão, que ficava a porta da Boite Bizarre. Alertei-o que de vez em quando Elias anestesiava de porradas bêbados, bichas loucas, quiprocós e indivíduos singulares da fauna do local. “Outrossim, é um lugar agradável e digo mais, aprazente, perfeito para relaxar e curtir o fim do dia”, avisei. Karnalábrio pegou o copo Americano, levantou-o a altura da luz e decidiu limpá-lo na camisa. “O que não mata, engorda”, filosofou, enchendo o copo.
Não sou muito de beber, famoso pela sobriedade, minhas mulheres me chamam de Nesquik, por ser um Bunny achocolatado.

Mas nesse dia bebi uísque paraguayo, vinho da serra gaúcha, Cerma a temperatura ambiente e tequila com um verme enorme nadando na garrafa como se fosse aquaman. De repente, notei uma gatinha sentada perto de mim. Quando sorriu amavelmente, vi que era banguela, sem os dois dentinhos da frente. Aprocheguei-me e pus meu braço em torno dela e comecei a declamar Reginaldo Rossi em seu ouvidinho. Pedi a Karnalábrio que colocasse o som na caixa, “solta um Sydney Magal, please”.

Nesse momento vi descerem pela escada Kurosawa e o doutor Valdomyro Pinto, numa camisa de seda vermelha, com a cintilante estrela de David no meio do peito aberto e calças de tergal claras. Fui apresentar Valdomyro a Karnalábrio. Quando voltei a mesa, Kurosawa já estava passando a mão no joelho esquerdo da minha namorada e para minha surpresa entoava, como bom baiano, Charlinhos Brown: “Ela gira, ela ginga, é como uma flor. Ela brinca, ela sai na brisa, ela anima. Ararinha é o meu amor”. E dava-lhe beijinhos nas bochechas carregadas de espinhas para alegria contagiante da moçoila.

Pinto e Karnalábrio logo encetaram conversa sobre a administração Haddad. “Fernando Haddad, gestor-educador da maior cidade do país, seguiu o caminho histórico aberto pelo deslocamento do capital global e pelas “taras” de longa duração dos produtores de ideias no Brasil”, disse, animado, Pinto: “Em sua novíssima administração, mobilizou o que existe de melhor no pensamento crítico universitário e, claro, reservou espaço para os quadros do movimento social e para jovens gestores de uma esquerda “pós-rancor”, que são capazes de mobilizar trabalho militante para fins lucrativos.” Valdomyro lera a tese de mestrado do prefeito e enunciou: “Mostra um domínio fabuloso da teoria e dos fatos. Em 1990 Previu a derrocada do neoliberalismo e vitória final do comunismo. Uma pena que a União Soviética se desmantelou, sem querer, no ano seguinte”.

Nesse ínterim, movido por um espírito de vingança incomum a minha pessoa, tentei resgatar a minha princesa das garras do pirata nipônico de Canavieiras. Elias, o marmitão, vendo a confusão cobriu-nos delicadamente de pancadas acertando-nos inúmeras vezes com a bandeja de cerveja feita de pau ferro, pesada feito a porra.