Vamos Fechar a Universidade?

Bom dia!

Estava lendo pela semana esta matéria aqui. Ela relata um problema que, se é grave, também era algo bastante previsível mesmo antes de surgir a loucura da covide e todo o desastre que se sucedeu por e com ela. Exatamente o crescente abandono da Universidade pelos mais jovens, e a redução contínua do número de alunos entrantes e concluintes.

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“No Centro de Humanidades da UEPB ocorre o mesmo fenômeno”, escreveu Agassiz de Almeida Filho, professor de Direito na Universidade Estadual da Paraíba. Professor de Matemática da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Vinicius Albani endossou: “No primeiro vestibular pós-pandemia na UFSC, o número de inscrições era 40% menor que em 2019. 

Nesses dois anos, houve uma queda de queda de 17,5% no número de novos alunos em cursos de Física nas universidades federais. Cursos como Geografia (redução de 18,9%) e Arquivologia (queda de 21,2%) também registraram perdas significativas. E, embora Direito tenha mantido a média histórica de ingressos, a Medicina perdeu cerca de 8,8% do número de calouros entre 2019 e 2011.

Em algumas universidades, a situação é especialmente alarmante. Nesses dois anos, a UFG (Universidade Federal de Goiás) teve queda de 37,8% no número de ingressantes. A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) perdeu 11,1%. Na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), a quantidade de calouros caiu 19% entre 2019 e 2021. A instituição passou a ter o menor número de ingressantes desde 2010, quando o Censo da Educação Superior começou a contabilizar os dados. O curso de Educação, por exemplo, teve 1.606 novos alunos em 2019 e apenas 953 em 2021.”

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Esse é um trechinho de uma longa matéria do jornal linkado mais embaixo, que vai enunciar muitos motivos para justificar esse dessaranjo cada vez maior. mas, em linhas gerais é meramente reflexo do desinteresse, mesmo, pelo estudo tradicional e viciado da universidade pública, aliado à enorme facilidade em se acessar o ensino superior privado.

Pensemos: o jovem pobre conclui um ensino médio precário na rede pública, cheio de limitações, tranqueiras ideológicas, professores medíocres, nenhuma forma de cobrança institucional ou planejamento de metas decente. O moleque passeou na escola por uma década, e do nada tem de disputar uma vaga na universidade? ah, ele não vai.

Atualmente é muito mais simples pro moleque fazer uma faculdade particular EAD. Pobre sabe fazer contas e fazendo contas percebeu que não é vantajoso estudar numa universidade pública, gratuita e de qualidade que exige um vestibular via ENEM. Com módicos 450 pontos no ENEM o cara já arruma bolsas de todo tipo na rede privada, e convenhamos, conseguir essa pontuação é possível até pro seu cunhado preguiçoso.

Essa facilidade de acesso ao ensino superior privado é a chave da mudança na universidade pública. Os gênios do PT no passado aproveitaram um cenário de forte demanda por educação, e liberaram todas as frentes de formação, privilegiando as mutretas privadas e seus amigos pagadores de jatinho. Mas naquela época, uns quase quinze anos atrás, já prevíamos no blogue mesmo a explosão da inadimplência e do abandono nas universidades.

A pandemia acelerou brutalmente este cenário. Com os lockdowns estupidamente eficazes e socialmente aceitáveis, pessoal vai optar pelo EAD, ensino à distância, para fugir do risco de acabar morto em alguma calçada de rua, fulminado por uma lufada viral potente, e pra poder evitar o transtorno de interagir com pessoas a custo elevado, claro. Ninguém gosta de EAD, mas neste cenário aí a coisa acabou vantajosa demais.

Com preços menores e facilidades que a tecnologia atual sói prover, o negócio ficou muito mais barato de oferecer, simples de realizar e o melhor, com o MEC dando aval integra a tudo isso. Pensemos que o EAD se multiplicou como praga, volume de matrículas em cursos do tipo cresceu mais de 400% em dez anos. Não falo da qualidade, que persiste ruim, mas do volume e da efetividade. Tem muita oferta e o cara até consegue arrumar o diploma, o papel no final.

A universidade pública com seus limitadores todos perdeu espaço exatamente por criar dificuldades em um cenário onde todo mundo está vendendo facilidade. Ora, você pode afirmar que um diploma de engenharia civil EAD da Uniesquina vale menos do que um da Usp, mas na hora de o cara trabalhar como corretor de imoveis ou operador técnico de Uber, os dois diplomas terão o mesmo valor. E este é outro problema que já falamos aqui, o da baixa qualidade dos empregos criados atualmente.

E o custo por aluno da universidade pública é cada vez maior, e cada vez mais serão feitos concursos para as vagas eternas de professores, que darão aulas para meia dúzia de alunos por turma e farão greves intermináveis pedindo mais dinheiro, mais prédios, mais bandejão, mais bolsas, mais passagens, mais cursos, mais gratificações… para atender cada vez menos alunos e alunos cada vez menos pobres, claro.

Será que não vai chegar a hora de privatizarmos as Universidades?

Bom dia! problema tá só começando!

https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/pandemia-e-ensino-a-distancia-esvaziam-cursos-em-universidades-publicas/