Apagando o Passado

O Museu, acabou. Perdido para sempre, esta é a verdade, mesmo que eu ou você sejamos otimistas em relação a isto.

Mesmo que se recupere alguma coisa – a parte arqueológica, provavelmente será reconstituída a duras penas – o grosso do material e a estrutura foram totalmente destruídas. Os bombeiros farão apenas contenção da estrutura para impedir o desmoronamento completo. O museu estava fechado parcialmente desde 2015, e neste mês de Maio, foi completamente fechado à visitação. Estruturalmente estava acabado, parcialmente fechado, com inúmeros problemas.

A UFRJ, sua curadora, nunca teve os meios para o manter em boas condições de uso, mesmo nos momentos mais deslumbrados de REUNI, não puseram investimento adequado na Instituição, que por si só detinha valor material e cultural imensos. Não vou entrar nos porquês de a UFRJ ter escolhido abandonar o Museu à sua sorte. Todos sabemos das escolhas das sucessivas reitorias desta Universidade em agradar seus apaniguados e seus grupos políticos.

O orçamento para 2018 reservado pela UFRJ era de módicos 520 mil reais. Parte deste valor, contingenciado. Havia o sonho de fazer aquele tipo de obra faraônica, padrão-FIFA, para se comemorar os 200 anos do Museu. Sequer o valor da manutenção crítica havia, mas se sonhava até ontem em por 300 milhões de reais ali, e fazer do MN um Museu de Arte Natural de NY, um Smithsonian da Favela. Bem, não deu tempo. Não há gente interessada em fraudar tão pouco dinheiro. Agora, já era.

O MEC está a dizer que lamenta muito, que tomará providências, que irá ajudar a UFRJ a re-isso, re-aquilo… Sinceramente concordo com que um colega falou sobre o Museu:

Deu PT

Espero sinceramente que alguém lá na porra do MEC, ou na DESGRAÇA do MinC e na inutilidade do IBRAM já esteja sabendo disso.

Um museu caro e difícil de ser mantido não era a opção preferencial deste pessoal. O corpo técnico do Museu é altamente especializado mas não tinha meios de trabalho adequados. A miséria ali era visível. O desgaste, a depredação das estruturas. Não era possível instalar sistemas modernos de incêndio por seu alto custo (CO2, por exemplo) ou os tradicionais sprinklers por acabarem destruindo o acervo da mesma forma que as chamas, além de exigir modificações estruturais… que o IPHAN não permitiria sem um longuíssimo processo de permissão.

Num dia quente e seco como o de hoje o risco de fogo é enorme. É sabido. O descaso em relação a riscos conhecidos é a fonte natural de desastres. Graças a Deus, não se perdeu nenhuma vida. Mas o patrimônio? As obras? Acabou. Fogo lambeu tudo, todos os achados, todos os guardados. Muita gente poderia ter evitado esta tragédia, além do corpo do Museu e da UFRJ. Temos uma autarquia de museus, o IBRAM, que a rigor, serviu de nada para proteger e tentar buscar investimento em seu maior e mais antigo patrimônio tutelado. Lá há um bom orçamento em pessoal e infraestrutura. Mas não houve tensão em se mover algo em favor do Museu mais antigo e mais valioso.

Mas ali não produziu nada que auxiliasse o pessoal do MN a cuidar daquele espaço. Agora, acabou. Mas claro, o Museu vai ser restaurado em estrutura. O MAM passou por um incêndio severo há 40 anos atrás, quase na mesma época. Foi recuperado mas jamais restaurado ao seu estado original. Perdemos tudo pelos mesmos motivos de sempre: negligência, irresponsabilidade, descaso. Agora é tarde, os culpados são conhecidos e a Lei não se importa lá com quem deixa museus queimar.