Você quer saber mesmo por que o Museu pegou fogo?

Texto originalmente publicado no Facebook de Ícaro de Carvalho, do site O Novo Mercado.

Você quer saber mesmo por que o Museu pegou fogo? Porque o estado cria uma estrutura que torna inviável a sua monetização.

Eu estou vendo um monte de gente dizendo: “Ah, custava tanto para mantê-lo de pé. Gastaram várias vezes isso com outras bobagens”.

Porque é isso que o estado faz, meu filho. Ele dá salsicha para a molecada da creche, enquanto o Sérgio Cabral faz licitação de caviar. Ele deixa faltar seringa no postinho do bairro, enquanto o Renan usa o avião da FAB para fazer transplante de cabelo.

Dai vêm os Boulos da vida, que declararam quinze mil reais de patrimônio, e dizem que o problema era que não eram eles que administravam a situação.

A gente nem deveria estar pensando em quanto custa para manter o negócio de pé. Ele deveria dar lucro. Deveria dar trezentos, quatrocentos milhões de lucro todos os anos.

Você sabe por que é que isso não acontece na Itália, por exemplo? Porque Florença, uma cidade com um quilômetro e meio de centro histórico, recebeu 10 milhões de turistas em 2017.

UM QUILÔMETRO E MEIO DE RAIO DE CENTRO HISTÓRICO.

O Brasil inteiro, com seus 8 milhões de quilômetros quadrados, recebeu 6 milhões e meio.

Turismo é negócio, e é um dos que mais cresce no mundo. Enquanto ele for levado com essa visão jurássica da esquerda, de que tem que ser uma faculdade ou um instituto a protegê-lo e a administrá-lo, recheado de comissionado e funcionário público para fazer a coisa andar, nunca dará certo.

Por que é que o maior museu da América Latina precisava de dinheiro do governo para sobreviver? Muitas padarias, em São Paulo, gastam mais de meio milhão por ano em atualizações e reformas. Como é que o maior acervo de tudo quanto é coisa não consegue fazer dinheiro?

Não faz porque não interessa fazer. Porque qualquer coisa que seja apresentada diferente do que “vender ingressos”, é bloqueado. Recebe logo um “não, ai não. Ai é mercantilizar demais o negócio” na cara.

Por que aquele parque não era monetizado? Por que não havia uma empresa responsável pela venda dos souvenirs e pela curadoria dos direitos de imagem e fotografia do lugar?

Cadê a estrutura logística para levar as pessoas até lá? Os pacotes turísticos? Os hotéis cadastrados para a criação do ecossistema histórico do lugar?

Aonde estava a seguradora que, numa situação dessas, já teria alertado os administradores desde 2012?

É sério mesmo que vocês colocaram todo esse patrimônio na mão de gente que viveu a vida inteira atrás da mesa? Que nunca gerou um emprego? Que não sabe quanto é trinta por cento de quinze reais?

Ainda tiveram coragem de pôr as culpas nos bombeiros.

Essa tragédia tem como causa a mesmíssima coisa que nos colocou onde estamos: a ojeriza ao dinheiro, aos negócios, à administração profissional. A horror que temos à eficiência e à exploração comercial do que quer que seja.

Para o brasileiro a coisa pública se toca por amigos do rei; funcionários públicos, gente de ONG, amigo com cargo comissionado…deixa a poeria mesmo, os fios à mostra e a catraca quebrada. Deixa tudo do jeito que tá, porque o povo gosta mesmo é de “coisa de graça”.

E, de tempos em tempos, quando uma tragédia assim acontece é que percebemos que não existe nada mais caro do que algo oferecido pelo governo a preço subsidiado.